Caça ao senador Renan Calheiros e negociações no ‘baixo clero’ mostram-se ineficazes para o governo Temer, na tentativa de fugir ao processo no STF.
Por Redação - de Brasília
Com aval do presidente de facto, Michel Temer, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), voltou a coletar assinaturas para derrubar o colega Renan Calheiros (AL) da liderança do PMDB da Casa. O líder do governo, que também é presidente do PMDB, reuniu-se na noite passada com Temer no Palácio do Planalto. O encontro ocorreu após se envolver emm bate-boca no Plenário do Senado com Calheiros. O senador alagoano lidera uma rebelião silenciosa na base do partido. Ele conta com apoio de parlamentares tucanos e de partidos menores.
Jucá recebeu o aval do governo para tentar trocar a liderança peemedebista, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, com uma fonte familiarizada com as negociações. No Senado, Renan afirmou que Temer não tinha "legitimidade" para propor reformas. Principalmente, no momento em que é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF). Renan disse ser um "erro" do presidente achar que poderia governar sob influência do presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara, e ainda insinuou que o presidente não deve concluir o mandato.
Em linha com a apuração do CdB, o senador Renan Calheiros deixa a liderança do PMDB para exercer "com total independência" a oposição, agora declarada, ao grupo de Michel Temer.
– O entorno do presidente, tal qual em 1954, se apodreceu – atacou, pouco antes de classificar Temer como "covarde".
Denúncia
Atual líder do PMDB, Renan disse que poderia trocar as indicações da Comissão e Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, e, se fosse para defender essa proposta, preferiria renunciar ao cargo. Romero Jucá, relator da reforma trabalhista na CCJ, rebateu Renan. Ele defendeu a aprovação do texto e disse que, ao contrário do que alegara o líder peemedebista, a proposta não retira direito dos trabalhadores.
O governo tentava aprovar a reforma na comissão nesta quarta-feira. Buscava dar um sinal de que não está fragilizado após o texto de interesse do Executivo ter sido derrotado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Principalmente agora, com a denúncia contra Temer.
Há dois meses, Jucá começara angariar apoios na bancada para retirar Renan da liderança do PMDB. O senador alagoano tem feito duras críticas às reformas do governo Temer. Mas o movimento arrefeceu após Renan ter sido enquadrado pela bancada, que decidiu, apesar das reclamações dele, endossar as reformas.
Sem data
Contudo, as novas críticas de Renan fizeram com que Jucá retomasse o movimento. Para retirá-lo do cargo, é necessário o apoio de, no mínimo, 12 dos 22 senadores da bancada — a maior da Casa. Até o momento, Jucá contabiliza oito votos.
Um dos cotados para assumir o posto, Garibaldi Alves Filho (RN), também bateu-boca com Renan na sessão de terça.
Ainda não há uma decisão sobre se e quando o pedido de destituição de Renan da liderança será formalizado.
Réu preso
Em linha com o discurso do líder peemedebista, quanto ao risco de se manter na Presidência da República, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o segundo pedido de liberdade ao ex-deputado e ex-assessor especial de Michel Temer, Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Ele segue preso preventivamente desde o dia 3 último.
Lewandowski considerou "incabível" a apresentação de habeas corpus no atual momento para tirar da prisão Rocha Loures. Ele foi detido a partir de delação de executivos da JBS. Loures e Temer foram denunciados na segunda-feira pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pelo crime de corrupção passiva.
No barco
Assim como o PMDB, o PSDB segue dividido. Os ‘tucanos de alta plumagem’ pretendem seguir no barco de Michel Temer, mas sobram críticas no corpo parlamentar da legenda. O Instituto Teotônio Vilela, braço tucano de formação política, em carta divulgada nessa terça-feira, segue a orientação dos líderes a apoia a permanência de Temer. O documento foi divulgado após o pronunciamento em que Temer tenta se defender da acusação de corrupção passiva feita pela procuradoria-geral da República (PGR).
"Pode, sim, haver corrupção, mas o que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou ontem seguramente não contém provas necessárias e suficientes para a condenação de um presidente da República. O histórico recente de exageros e abusos por parte dos procuradores federais não ajuda", diz a nota.
Caso JBS
Para o instituto presidido pelo ex-senador José Aníbal (PSDB-SP), a acusação tem fragilidades. E o conteúdo é baseado na delação do empresário Joesley Batista, da JBS. "Não há, pelo menos por ora, uma prova inconteste, uma evidência acachapante ou um depoimento irrefutável que leve a uma condenação inequívoca. O que se tem - por ora, repita-se - é a palavra do maior réu confesso do país contra a de Temer. Nada além disso".
O texto considera que seria ruim ao país o cenário de Temer ser afastado. O presidente da Câmara assumiria. Haveria um mandatário ser eleito por via indireta e outro por via direta, nas eleições de outubro de 2018.
"O que temos a ganhar entrando nessa roda-viva?". "Tudo o que pediram a Deus é um fim peremptório para aquele que, segundo sua versão dos fatos, ascendeu ao poder por meio de um 'golpe'." E destaca que a PGR "de forma estranhíssima" até agora não cogitou fazer denúncias contra a presidente eleita Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso JBS.