Rio de Janeiro, 09 de Dezembro de 2025

PT seguirá com Lula em qualquer cenário político, avalia professor da USP

Lula foi condenado por ter um apartamento que não está em seu nome e no qual jamais morou. A percepção da sua base social vai mudar. Ele se torna vítima dos poderosos. As cenas do julgamento são simbólicas.

Domingo, 28 de Janeiro de 2018 às 12:12, por: CdB

Lula foi condenado por ter um apartamento que não está em seu nome e no qual jamais morou. A percepção da sua base social vai mudar. Ele se torna vítima dos poderosos. As cenas do julgamento são simbólicas.

 

Por Redação - de São Paulo

 

O PT vai reagir, com toda a “sua força verbal” à sentença proferida contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A opinião é do professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador da história do Partido dos Trabalhadores Lincoln Secco. Em entrevista ao jornal espanhol de ultradireita El País, Secco traça um possível cenário político para as eleições agora, em 2018, e nos próximos anos.

Peronismo

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Lula enfrenta um dos momentos mais graves de sua carreira política

Segundo o pesquisador, “o que aconteceu foi um recado claro. Lula não pode ser candidato e deve ser preso como um exemplo”.

— Agora, o PT vai reagir com força verbal à sentença, mas será difícil no curto prazo mobilizar resistência nas ruas; porque os dirigentes atuais não comandam mobilizações há 20 anos. Desconhecem sua base social. Se Lula vai mudar de tática? Isso dependeria exclusivamente dele. Ele poderia, sim, recorrer a algum tipo de desobediência civil, resistência pacífica, manifestação de massa ou boicote às eleições. Isso mudaria tudo. Lula tem uma biografia consolidada; à qual agora se acrescenta o papel de perseguido político.

Ele foi condenado por ter um apartamento que não está em seu nome e no qual jamais morou. A percepção da sua base social vai mudar. Ele se torna vítima dos poderosos. As cenas do julgamento são simbólicas. É possível que os juízes tenham contribuído para consolidar o mito Lula por uma ou duas gerações. E (talvez) venhamos a ter um lulismo mais radical sem Lula e até sem essa atual direção do PT; como foi o peronismo depois de proibido oficialmente na Argentina — afirmou.

Guerra prolongada

Perguntado se ainda haveria caminho para Lula reverter o quadro desenhado pela condenação, Secco foi direto:

— O impeachment, o golpe parlamentar, não foi dado para devolver o poder ao PT. O julgamento de Lula não foi antecipado ao acaso. Havia a ilusão de que a elite do Judiciário não iria querer humilhar um ex-presidente da República; e o próprio país, com uma decisão tão dura. Até alguns golpes militares respeitaram os presidentes; mas não é o que a decisão (da semana passada) aponta.

Acredito que um tribunal superior pode até mudar a sentença, mas não inocentar o ex-presidente. Ao PT só resta pensar na substituição dele para garantir uma votação suficiente para sobreviver institucionalmente e; num outro ciclo da história, reconstruir suas bases de apoio. Para usar o jargão chinês: teria que ser uma guerra popular prolongada.

Ciro Gomes

Um ‘plano B’, no qual o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad substituísse Lula na cédula eleitoral, ainda estaria em jogo. Mesmo após a negativa de Haddad para cumprir o papel de ‘regra três’.

— A não ser que o próprio PT seja inviabilizado, o que não está aparecendo no horizonte político deste ano, ele vai ter candidato. É muito difícil imaginar um apoio ao Ciro Gomes, especialmente depois da hesitação dele em apoiar o Lula diante do julgamento. Ficou muito claro que o Ciro Gomes, este sim, torce quase que explicitamente para que o Lula não seja candidato, já que ele seria diretamente beneficiado por isso. O PT terá outro candidato — presume.

Secco acredita que Lula “tem sempre a capacidade de surpreender o mundo político”.

— A escolha da Dilma foi inesperada e foi uma escolha pessoal dele. Então, em primeiro lugar, o PT vai investir na batalha jurídica e na propaganda de que o Lula é o candidato. Depois, pode ser até que ele venha a indicar um nome que não é nenhum desses que estão especulando. De qualquer jeito, o Jaques Wagner tem uma relação muito boa com o Lula. O Haddad já é um pouco mais difícil.

Ator fundamental

Só que pode ser a Gleisi Hoffmann, que é a presidenta do partido, ou outro nome que o Lula pode tirar da manga. Outra questão, é que todos esses nomes que falamos não têm mandato executivo, ou seja, não têm uma máquina de Governo por trás. Para o PT, seria melhor, pensando eleitoralmente, que o candidato tivesse o apoio de uma máquina. Há o governador de Minas Gerais, Fernando Pimental, por exemplo, que já foi, inclusive, ventilado na imprensa — pontua.

Ainda segundo o professor da USP, mesmo sem seu nome na cédula eleitoral, Lula será sempre “um ator fundamental do PT na eleição”.

— Ele vai transferir votos, sem sombra de dúvidas. 2016 foi uma eleição anômala, porque o partido havia acabado de sofrer um impeachment. A popularidade do Lula era, mais ou menos, metade do que é hoje. E o PT estava empatado com o PSDB, com uma preferência que girava ao redor de 8%, hoje ele tem 20%. O cenário é outro. Além disso, há o Governo Temer, claramente rejeitado pela população, e o fato de que os adversários do PT estão completamente fragmentados — concluiu.

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