O Mercado Comum do Sul (Mercosul) corre risco de isolamento caso continue com suas "indefinições" políticas e econômicas, na opinião do professor de Ciências Políticas do Instituto de Assuntos Políticos da Universidade de Paris, Alfredo Valadão.
Para ele, o Mercosul está atrofiando devido à incapacidade de aprofundar sua integração.
- O problema não é tanto econômico, mas político - afirma Valadão, citando o Brasil como um dos grandes culpados pelo atraso nessa integração.
- O problema da diplomacia brasileira frente ao Mercosul é não saber o que quer. Tem dias que quer ser um ator coletivo, trabalhando com os vizinhos. Em outros dias, quer impor uma liderança local e mostrar que é uma futura grande potência. Não sabemos para onde estamos indo, e levamos juntos o Mercosul.
Valadão destaca o fato de que todos os países da costa do Oceano Pacífico (menos o Equador), ou seja, do Chile ao México, firmaram acordos de livre comércio com os Estados Unidos e Europa e com alguns grandes países asiáticos.
- Está começando a existir uma espécie de integração desse bloco com a economia mundial, cujas regras são feitas pelos norte-americanos e europeus. É um modelo que chamo de nova Linha de Tordesilhas na América Latina, que coloca do outro lado os países da costa atlântica, capitaneados por esse Mercosul complicado, que vive em órbita do Brasil.
Algumas disputas comerciais entre os países do Mercosul marcaram o ano de negociação política entre os países da região. O governo argentino exige, por motivos ambientais, a suspensão das obras de duas fábricas de celulose no Uruguai próximas ao rio Paraguai, fronteira entre os dois paises.
O Chile, por sua vez, está insatisfeito com medidas tomadas pela Argentina que aumentam os custos energéticos e o preço do gás no país. O produto tem sido tema de debate também entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Bolívia, Evo Morales, que nacionalizou as reservas bolivianas de gás este ano.
Entre os mais insatisfeitos do bloco está o Uruguai, que já cogitou a possibilidade de deixar o Mercosul. Este ano, o Mercosul também contou com a adesão da Venezuela.
Ao assumir a presidência temporária do Mercosul, no dia 21 de julho, Lula prometeu se empenhar para que o bloco esteja "cada vez mais forte, mais presente e mais atuante. A presidência pro tempore brasileira quer gerar uma efervescência positiva e dar um impulso renovado a nossos propósitos", durante a 30ª Reunião da Cúpula dos presidentes do Mercosul, na Argentina.
Este ano, os países do Mercosul também avançaram na negociação para reduzir o uso do dólar nas transações comerciais na região. O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, explicou que Brasil e Argentina fazem transações de US$ 15 bilhões anuais.
- O exportador argentino tem que passar do peso para o dólar e do dólar para o real. Queremos fazer operações direto nas nossas moedas. O objetivo é reduzir os custos. Os dois países têm excesso de dólar entrando no país - afirmou o ministro.