Romano Prodi pediu, nesta terça-feira, um voto de confiança ao Senado para permanecer como primeiro-ministro da Itália, em meio a uma crescente pressão por uma reforma política que elimine a crônica instabilidade do país desde a Segunda Guerra Mundial.
Prodi renunciou, na semana passada, para assustar uma ala rebelde da sua coalizão com a perspectiva de um retorno da direita ao poder. A estratégia aparentemente funcionou, e o 61º governo italiano do pós-guerra deve sobreviver.
O primeiro-ministro de centro-esquerda recebeu, no fim de semana, uma segunda chance do presidente da República, Giorgio Napolitano. Ele coloca sua liderança à prova em ambas as casas do Parlamento nestas quarta e quinta-feiras, depois de discursar nesta terça-feira aos senadores.
Os italianos comuns, irritados com o espetáculo de mais um governo em crise após apenas nove meses na função, esperam a permanência de Prodi, mas duvidam que ele dure muito no cargo.
- Ele vai conseguir, e será bom para o país no momento. Mas precisamos de um governo com um futuro mais certo - disse o romano Stefano Cavenaghi.
Além da breve crise, em geral ignorada pelos mercados financeiros e pelo restante da União Européia, há a preocupação de que a reforma eleitoral promovida no governo de Silvio Berlusconi tenha favorecido coalizões muito amplas, que tornam a Itália ingovernável. Mesmo o ministro de Berlusconi que apresentou o projeto o chamou de "lixo".
A reforma eleitoral é um tema que tem adeptos tanto à esquerda quanto à direita, embora não tenha o apoio do Forza Italia, maior partido do país, fundado pelo centro-direitista Berlusconi.
- A lei eleitoral é uma prioridade, e seria bom para Prodi mencioná-la em seu discurso - disse Franco Giordano, líder do principal partido comunista da coalizão de Prodi, que inclui também centristas católicos, "verdes" e esquerdistas radicais.
Mas a extrema esquerda rejeita as propostas de ampliar a coalizão de modo a incluir parte da União dos Democratas Cristãos, hoje aliados relutantes de Berlusconi.
- Prodi deveria guiar o governo para o um período de diálogo com a centro-direita, por exemplo a respeito da lei eleitoral, e buscar ampliar seu próprio apoio - disse a ministra da Família, Rosy Bindi.
Comunistas e democratas cristãos têm posições inconciliáveis a respeito de questões como direitos dos homossexuais e dos casais em união estável, objetos de uma lei que dividiu a coalizão de Prodi e que foi omitida de uma lista de 12 prioridades políticas não-negociáveis para que ele permaneça no governo.
Essa omissão permite que figuras como Giulio Andreotti, sete vezes premiê, contrário à lei por motivos religiosos, dêem a Prodi uma ligeira maioria na votação no Senado. Mas os esquerdistas que patrocinam o projeto insistem que ele não foi arquivado.
Prodi tem uma maioria confortável na Câmara, mas no Senado (com 315 membros eleitos e 7 vitalícios) há um empate com a oposição. Na semana passada, o governo perdeu uma votação sobre política externa, o que desencadeou a renúncia de Prodi.
Mas dois senadores locais e outro eleito pela comunidade italiana no exterior foram atraídos para a bancada governista, e Prodi agora conta com 159 senadores eleitos, contra 156 da oposição, além de cinco vitalícios.
- Não vim à Itália para fazer o governo mudar - disse o senador Luigi Pallaro, eleito pelos "oriundi" da América do Sul. Ele foi levado na terça-feira do aeroporto para o gabinete de Prodi e saiu de lá prometendo apoio ao governo.