Rio de Janeiro, 16 de Março de 2025

Prisão de Maluf recebe críticas de todos os segmentos ideológicos do país

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Quinta, 21 de Dezembro de 2017 às 12:57, por: CdB

O bloco V, da Ala B, do Centro de Detenção Provisória (CDP) passa a ser o local onde o Maluf inicia o cumprimento de pena. Trata-se de uma espécie de setor de luxo do Presídio da Papuda.

 
Por Redação - de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo

 

“(Ministro Edson) Fachin, prender um cretino de quase 90 anos depois que roubou por toda vida??? Vá se catar. Quer mostrar serviço? Prenda Aécio!”. Esta é apenas uma das mensagens que milhares de brasileiros deixaram, nas redes sociais, desde a tarde passada, quando o deputado Paulo Maluf (PP-SP) foi conduzido à ala de vulneráveis no Presídio da Papuda, nesta capital. Enquanto alguns festejam a prisão do parlamentar de ultradireita, outros criticam a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Ex-governador biônico, prefeito paulistano e deputado, Maluf deve terminar seus dias na cadeia

O bloco V, da Ala B, do Centro de Detenção Provisória (CDP) passa a ser o local onde o Maluf inicia o cumprimento da pena de 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão. Trata-se de uma espécie de setor de luxo do Presídio da Papuda. A área é reservada a políticos, policiais e idosos que, para a Subsecretaria do Sistema Penitenciário, merecem tratamento diferenciado.

Depauperado

No presídio, Maluf será vizinho do ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e do empresário Luiz Estevão. O doleiro Lúcio Funaro e o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no processo do ‘mensalão’ também foram detidos nesse setor. As celas são equipadas com vasos sanitários, diferentemente de outros setores, que só contam com vasos turcos (no chão).

— Ali as pessoas têm um pingo de dignidade. Uma cela com vaso sanitário é fundamental. Ele (Maluf) não poderia ficar numa cela com “boi” (vaso turco). Ele não consegue agachar — afirmou o advogado do réu condenado, Antônio Carlos de Almeida Castro.

A solidariedade a Paulo Maluf, porém, surge de onde menos se espera. Para o jornalista Fernando Brito, editor do blog Tijolaço - um dos mais prestigiados na esquerda nativa - critica a cena de um Maluf depauperado, conduzido quase que arrastado para o camburão.

Patrulheiro

“Ser de esquerda, revolucionário, transformador, ao longo da história, foi algo que sempre significou ter um alto sentimento de humanidade. Mesmo quando a esquerda, em momentos revolucionários, usou da violência ela não foi – ou não deveria ter sido – gratuita e sádica”, afirma Brito.

O jornalista lembra a trajetória do prefeito de São Paulo e governador paulistano imposto, na época, pela ditadura militar. “O que Maluf roubou ao longo de sua trajetória política, roubado está e roubado continua. Só dos casos de desvios de dinheiro de sua passagem pela prefeitura paulistana, alguns chegam a estimar que, corrigidos, chegam a US$ 1 bilhão. A multa que lhe foi imposta pouco passa de R$ 1 milhão. E isso só é citado ou tratado no rodapé das sentenças e do noticiário”.

“Há gente que se compraz em levar um caco humano, decrépito, para um cárcere. Não, não há o que possa fazer de gente dotada de sentimentos humanos de sentir prazer nisso. O gestor de Estado e de seu poder coercitivo – e o juiz é um deles – deve reger-se pelo interesse público e não há nem pode haver interesse público em levar um quase moribundo a uma cela prisional. Se algum moralista ou patrulheiro quiser xingar-me, que xingue. Sadismo, para mim, não é jamais justiça”, acrescenta.

Incompetência

No centro do matiz político nacional, o jornalista Luiz Caversan — ex-colunista do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e hoje com o seu blog — segue na linha do esquerdista Fernando Brito.

“Não, eu não festejei nem aplaudi a prisão de Maluf, a cujas malandragens e atitudes criminosas assisti ao longo dos últimos 40 anos. Não me compraz nem alegra a imagem de um senhor alquebrado, trôpego e atingido por um câncer ser conduzido em gáudio ao presídio que certamente encurtará sua vida condenável.

“A cena deprimente (assim como outras, que inversamente atropelam conceitos básicos de Justiça pela celeridade e açodamento) somente demonstra para mim o que é (ou pode ser) o Judiciário brasileiro: lento; idiossincrático, permeável a mutretas advocatícias e trambiques protelatórios. Como disse o Mario Rosa, prenderam o Maluf errado. Dizer que este velho todo f* vai finalmente ‘pagar pelo que fez’ é uma piada. Ele deveria ter pago suas contas na cadeia há muito tempo; e aplaudir sua prisão agora é aplaudir a incompetência de quem nos representa”, conclui.

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