Rio de Janeiro, 30 de Dezembro de 2025

Prisão de Geddel abre a temporada
 de caça a Moreira Franco e Padilha

Juntos com Geddel, integrantes da equipe de Michel Temer, Moreira Franco e Eliseu Padilha são investigados nas operações Lava Jato e Cui Bono?

Terça, 04 de Julho de 2017 às 11:13, por: CdB

Juntos com Geddel, integrantes da equipe de Michel Temer, Moreira Franco e Eliseu Padilha são investigados nas operações Lava Jato e Cui Bono?, com autorização do STF.

 

Por Redação - de Brasília

 

A prisão do ex-deputado baiano Geddel Vieira Lima (PMDB) passou a integrar a extensa lista de preocupações do Palácio do Planalto. Os chefes da Secretaria-Geral da Presidência da República, Wellington Moreira Franco, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, respondem a processos no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de corrupção e formação de quadrilha, entre outros crimes. Vieira Lima, que chegou na manhã desta terça-feira à Superintendência da Polícia Federal (PF), na Capital Federal, trata-se de uma ponta solta no esquema criminoso denunciado por Joesley Batista, um dos donos da JBS.

geddel.jpg
Geddel Vieira Lima foi levado em um camburão da PF para prestar depoimento. Ele poderá entregar seus ex-colegas Moreira Franco e Padilha

A prisão de Geddel, o “mensageiro”, segundo Batista, tirou o sono dos aliados de Michel Temer. Nesta manhã, o desconforto era evidente no Palácio do Planalto, segundo pode constatar a reportagem do Correio do Brasil. Padilha e Moreira Franco evitaram falar com a imprensa. O ambiente é de extrema cautela junto à equipe de Temer, que tenta escapar da denúncia junto ao STF, por todos os meios possíveis.

Contato

Assessores das pastas mais próximas ao peemedebista, que falaram ao CdB em condição de anonimato, preveem que a Procuradoria-Geral da República (PGR) irá acelerar as investigações contra os integrantes da equipe de Temer. A prisão de Geddel, na Operação Cui Bono?, ligado a Temer há mais de 30 anos, atira mais combustível à crise política em curso.

Ainda que estes assessores presumam que a prisão do ex-parlamentar baiano não tenha influenciado a base aliada, na Câmara, são evidentes as tentativas de evitar que desandem as negociações para salvar o mandato de Temer. Caso a denúncia contra ele seja aceita por dois terços dos deputados, o atual inquilino do Palácio do Jaburu será despejado por 180 dias. Enquanto isso, o caso será julgado no Plenário do STF.

As delações premiadas de Joesley Batista e do empresário Lúcio Bolonha Funaro transformaram a rotina do mandatário. Ambos nomeiam Geddel como responsável por averiguar se Funaro e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos presos na Lava Jato, não entregariam o esquema criminoso. Vieira Lima, segundo Batista, seria uma espécie de contato entre as várias facetas do bando.

Queda prevista

Agora com uma tornozeleira eletrônica, o ex-suplente de deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) - aquele que saiu correndo com uma mala lotada com R$ 500 mil em propina, paga pela JBS, pelas ruas de São Paulo - já previa que denúncias contra Eliseu Padilha e Moreira Franco seriam agilizadas.

Em conversa gravada pelo diretor da J&F, em Brasília, Ricardo Saud, Loures disse que estava em curso uma tentativa de proteger os investigados pela Operação Lava Jato. Eles poderiam ser afastados dos cargos para sair de cena, sem perder o foro privilegiado. O ex-assessor de Temer desconhecia que estava sendo gravado.

— Na minha opinião pessoal, eu acho que a situação do ministro Padilha e muito difícil. Ele não deixará o governo logo, mas será afastado. Eu acho que o que vai acontecer, vai afastar… Vai afastar o Padilha e outros, eventualmente outros, quando oferecerem a denúncia — disse Loures, aos 1 hora e 26 minutos do áudio.

Obstrução

A razão que levou o ex-ministro Geddel Vieira Lima ser preso, na noite passada, deixa ainda mais frágil a defesa de Michel Temer. Geddel, seu assessor direto, teria apenas cumprido a ordem do chefe ao fazer contato com o presidiário Eduardo Cunha e com a esposa de Lúcio Funaro. Ele sondava o andamento dos acordos de delação premiada dos presos.

Acusado de tentar atrapalhar as investigações ligadas à Cui Bono?, Vieira Lima é alvo da PF desde janeiro deste ano. Ele é suspeito de integrar um esquema de fraudes na Caixa Econômica Federal. Moreira Franco também é investigado nessa operação.

Quando Temer e Batista encontraram-se, no porão do Palácio do Jaburu, Geddel foi citado como interlocutor junto ao peemedebista. O próprio Temer teria aprovado a compra do silêncio de Eduardo Cunha e de Lúcio Funaro. Na conversa, Batista comenta que, depois que Geddel deixou o governo, não pôde mais encontrá-lo. Temer concorda: era uma situação perigosa.

Na cadeia

Geddel cumpre, desde a noite passada, prisão preventiva pedida pela Força-Tarefa da Operação Greenfield, com base em informações de Funaro, de Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva. Estes dois últimos tiveram homologadas as delações junto ao STF.

Em janeiro deste ano, policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão na casa do ex-deputado. Ele foi alvo da Operação Cui Bono?, que investiga o suposto esquema de corrupção, entre 2011 e 2013. O esquema teria sido montado por Geddel quando ocupou a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa.

Ao decretar a prisão preventiva do ex-ministro Geddel Vieira Lima, o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal no Distrito Federal, autorizou a busca e apreensão de aparelhos celulares do investigado. Instruiu, ainda, a quebra do sigilo telefônico dos aparelhos apreendidos. O objetivo é buscar elementos para comprovar os contatos de Geddel com a esposa de Funaro.

Sujeito perigoso

Na decisão, o juiz diz que Geddel entrou em contato por diversas vezes com a esposa de Funarod. Tentava verificar a disposição do marido, preso, em firmar acordo de colaboração premiada. O fato pode caracterizar um exercício de pressão sobre Funaro e sua família.

Segundo o magistrado, não é a primeira vez que Geddel tenta persuadir pessoas ou pressioná-las. E lembra o episódio em que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou Geddel de atuar para a liberação da construção de um imóvel, em Salvador.

Para o juiz, há provas até o momento da participação de Geddel no esquema apurado pela Operação Cui Bono?. E, se permanecer solto, ele pode atrapalhar as investigações.

"É que em liberdade, Geddel Vieira Lima, pelas atitudes que vem tomando recentemente, pode dar continuidade a tentativas de influenciar testemunhas que irão depor na fase de inquérito da Operação Cui Bono?, bem como contra pessoas próximas aos coinvestigados e os réus presos Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Lúcio Bolonha Funaro", diz o juiz em sua decisão.

Outro lado

A defesa de Geddel Vieira Lima definiu a prisão como "absolutamente desnecessária”. Em nota, o advogado Gamil Föppel disse que há "ausência de relevantes informações" para basear a decisão. Ele definiu como "erro" da Justiça Federal a autorização para a prisão.

Föppel diz ainda que o ex-ministro, desde o início das investigações, se colocou à disposição para prestar esclarecimentos. Mas nunca foi intimado pela Justiça. Para a defesa, isso representa uma "preocupação policialesca muito mais voltada às repercussões da investigação para a grande imprensa, do que efetivamente à apuração de todos os fatos".

Tags:
Edições digital e impressa