Presidente de facto, Michel Temer faz contas para se livrar do STF, mas as denúncias se avolumam.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
O apoio provisório do PSDB, principal avalista do golpe de Estado em marcha desde o ano passado, apresenta fissuras cada vez mais definidas. Desde o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, passando pelas principais correntes da legenda, aumenta a distância entre aqueles que se posicionam pela revoada, imediata, do governo, e o pequeno grupo que ainda defende o apoio a Michel Temer.
Em meio à fragmentação na base aliada do atual inquilino do Palácio do Planalto, as denúncias contra Temer e seu assessor, o presidiário Rodrigo Rocha Loures, foram reforçadas, nesta sexta-feira, no novo depoimento do empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS. Ele prestou depoimento nesta manhã à Polícia Federal e reafirmou os termos de sua delação. Ele sustenta que Temer participava na "compra do silêncio" do ex-deputado federal e hoje prisioneiro Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do corretor de valores Lúcio Funaro. Este último acaba de firmar os termos de sua colaboração premiada à Justiça.
Porão do Jaburu
O depoimento de Batista foi prestado aos policiais federais do grupo vinculado à direção-geral da PF. Eles foram destacados para atuar nos inquéritos que tramitam em tribunais superiores, sobre autoridades com foro privilegiado.
A defesa do empresário afirmou a jornalistas que Batista consolidou as informações passadas à Procuradoria Geral da República (PGR). O executivo fechou um acordo de delação premiada há dois meses. Em 7 de março último, ele gravou uma conversa com Temer no porão do Palácio do Jaburu.
Segundo o entendimento da PGR sobre o teor da conversa, na conversa Temer apoiou a iniciativa de Joesley para impedir que Cunha e Funaro fizessem uma delação premiada. No mesmo inquérito Loures é investigado por ter recebido uma mala com R$ 500 mil em espécie, em propina paga pela JBS.
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da Operação Lava Jato na Corte, Edson Fachin concedeu prazo à PF até a próxima segunda-feira para encerrar o inquérito. A investigação foi aberta no dia 18 de maio, também por ordem de Fachin e a pedido do procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.
Nesse mesmo inquérito, a PF encaminhou 82 perguntas a Michel Temer. Depois de pedir um adiamento por 48 horas do prazo para envio das respostas, Temer não apenas se recusou a responder às perguntas, mas se disse ofendido por elas.
Caso Funaro
Na quarta-feira, o operador Lúcio Funaro, em seu segundo depoimento à PF, revelou aos delegados que administrava o caixa 2 do PMDB. Ele também citou, nominalmente, Michel Temer.
Trechos do depoimento de Funaro à mídia conservadora revelou que Temer, então presidente do PMDB entre 2001 e 2016, sabia dos detalhes sórdidos do financiamento da legenda. E que conhecia o movimento de recursos ilícitos e a distribuição de propina. Funaro revelou, ainda, como funcionavam nomeações do partido a cargos públicos, associadas à corrupção.
O Palácio do Planalto se pronunciou. Segundo versão autorizada por Michel Temer, ele "somente tinha conhecimento de doações legais ao partido".
Funaro, no entanto, acrescentou que cabia a Temer articular a rede criminosa que infestava o PMDB. Em seu depoimento, revelou que teve seguidos encontros com o peemedebista. Em alguns deles, teria chegado a tratar das questões referentes ao financiamento do partido, por vias ilegais.
O operador respondeu a todas as perguntas do delegado. O depoimento durou cerca de quatro horas. Funaro contratou um advogado especialista em delações premiadas.
Embora Funaro tenha negado que recebeu dinheiro da JBS para se manter em silêncio, admitiu a tentativa. Ele confessa que o ex-deputado baiano Geddel Vieira Lima (PMDB), afastado da equipe de Temer durante um escândalo imobiliário, o sondava seguidamente para saber se faria a delação.
Aliança pesada
Um dos sustentáculos do governo Temer, o governador Geraldo Alckmin foi decisivo na articulação pela permanência do PSDB no governo. Mas essa posição tende a mudar. Alckmin negou a jornalistas que a decisão da executiva nacional do partido, de se manter na base aliada, não passa por uma aliança com o PMDB, em 2018.
— Não tem nada a ver com 2018. O PSDB entendeu que, neste momento, sair do governo prejudicaria ainda mais o Brasil. Se fosse para pensar em eleição, esse é o argumento de muita gente para sair, porque a popularidade está muito ruim — acrescentou.
Segundo Alckmin, é preciso acompanhar “permanentemente o desenrolar dos fatos”.
— Nosso compromisso é com a retomada do crescimento e do emprego e renda — desconversou.
Revoada imediata
Se o principal esteio ao governo Temer balança, seus alicerces ficaram mais abalados pela ação de grupos majoritários da legenda. No próximo congresso da sigla, que será antecipado, o discurso da renovação ganha relevância no partido.
— Quando foi criado, o PSDB era o novo. Não somos mais. Viramos um tatu-bola. Não podemos mais ficar fechados — comentou o líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Trípoli (SP)..
Temer viaja para a Rússia na segunda-feira e quem assume a condução do país é o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia.