Rio de Janeiro, 31 de Dezembro de 2025

Pressão se eleva para o descarte imediato do governo Michel Temer

Presidente de facto, Michel Temer faz contas para se livrar do STF, mas as denúncias se avolumam.

Sexta, 16 de Junho de 2017 às 11:22, por: CdB

Presidente de facto, Michel Temer faz contas para se livrar do STF, mas as denúncias se avolumam.

 

Por Redação - de Brasília e São Paulo

 

O apoio provisório do PSDB, principal avalista do golpe de Estado em marcha desde o ano passado, apresenta fissuras cada vez mais definidas. Desde o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, passando pelas principais correntes da legenda, aumenta a distância entre aqueles que se posicionam pela revoada, imediata, do governo, e o pequeno grupo que ainda defende o apoio a Michel Temer.

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Loures, o homem que saiu correndo com uma mala cheia de dinheiro de propina, era homem de confiança de Temer

Em meio à fragmentação na base aliada do atual inquilino do Palácio do Planalto, as denúncias contra Temer e seu assessor, o presidiário Rodrigo Rocha Loures, foram reforçadas, nesta sexta-feira, no novo depoimento do empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS. Ele prestou depoimento nesta manhã à Polícia Federal e reafirmou os termos de sua delação. Ele sustenta que Temer participava na "compra do silêncio" do ex-deputado federal e hoje prisioneiro Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do corretor de valores Lúcio Funaro. Este último acaba de firmar os termos de sua colaboração premiada à Justiça.

Porão do Jaburu

O depoimento de Batista foi prestado aos policiais federais do grupo vinculado à direção-geral da PF. Eles foram destacados para atuar nos inquéritos que tramitam em tribunais superiores, sobre autoridades com foro privilegiado.

A defesa do empresário afirmou a jornalistas que Batista consolidou as informações passadas à Procuradoria Geral da República (PGR). O executivo fechou um acordo de delação premiada há dois meses. Em 7 de março último, ele gravou uma conversa com Temer no porão do Palácio do Jaburu.

Segundo o entendimento da PGR sobre o teor da conversa, na conversa Temer apoiou a iniciativa de Joesley para impedir que Cunha e Funaro fizessem uma delação premiada. No mesmo inquérito Loures é investigado por ter recebido uma mala com R$ 500 mil em espécie, em propina paga pela JBS.

Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da Operação Lava Jato na Corte, Edson Fachin concedeu prazo à PF até a próxima segunda-feira para encerrar o inquérito. A investigação foi aberta no dia 18 de maio, também por ordem de Fachin e a pedido do procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

Nesse mesmo inquérito, a PF encaminhou 82 perguntas a Michel Temer. Depois de pedir um adiamento por 48 horas do prazo para envio das respostas, Temer não apenas se recusou a responder às perguntas, mas se disse ofendido por elas.

Caso Funaro

Na quarta-feira, o operador Lúcio Funaro, em seu segundo depoimento à PF, revelou aos delegados que administrava o caixa 2 do PMDB. Ele também citou, nominalmente, Michel Temer.

Trechos do depoimento de Funaro à mídia conservadora revelou que Temer, então presidente do PMDB entre 2001 e 2016, sabia dos detalhes sórdidos do financiamento da legenda. E que conhecia o movimento de recursos ilícitos e a distribuição de propina. Funaro revelou, ainda, como funcionavam nomeações do partido a cargos públicos, associadas à corrupção.

O Palácio do Planalto se pronunciou. Segundo versão autorizada por Michel Temer, ele "somente tinha conhecimento de doações legais ao partido".

Funaro, no entanto, acrescentou que cabia a Temer articular a rede criminosa que infestava o PMDB. Em seu depoimento, revelou que teve seguidos encontros com o peemedebista. Em alguns deles, teria chegado a tratar das questões referentes ao financiamento do partido, por vias ilegais.

O operador respondeu a todas as perguntas do delegado. O depoimento durou cerca de quatro horas. Funaro contratou um advogado especialista em delações premiadas.

Embora Funaro tenha negado que recebeu dinheiro da JBS para se manter em silêncio, admitiu a tentativa. Ele confessa que o ex-deputado baiano Geddel Vieira Lima (PMDB), afastado da equipe de Temer durante um escândalo imobiliário, o sondava seguidamente para saber se faria a delação.

Aliança pesada

Um dos sustentáculos do governo Temer, o governador Geraldo Alckmin foi decisivo na articulação pela permanência do PSDB no governo. Mas essa posição tende a mudar. Alckmin negou a jornalistas que a decisão da executiva nacional do partido, de se manter na base aliada, não passa por uma aliança com o PMDB, em 2018.

— Não tem nada a ver com 2018. O PSDB entendeu que, neste momento, sair do governo prejudicaria ainda mais o Brasil. Se fosse para pensar em eleição, esse é o argumento de muita gente para sair, porque a popularidade está muito ruim — acrescentou.

Segundo Alckmin, é preciso acompanhar “permanentemente o desenrolar dos fatos”.

— Nosso compromisso é com a retomada do crescimento e do emprego e renda — desconversou.

Revoada imediata

Se o principal esteio ao governo Temer balança, seus alicerces ficaram mais abalados pela ação de grupos majoritários da legenda. No próximo congresso da sigla, que será antecipado, o discurso da renovação ganha relevância no partido.

— Quando foi criado, o PSDB era o novo. Não somos mais. Viramos um tatu-bola. Não podemos mais ficar fechados — comentou o líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Trípoli (SP)..

Temer viaja para a Rússia na segunda-feira e quem assume a condução do país é o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia.

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