Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 2025

Policiais invadem audiência pública na Unifesp

Uma audiência pública convocada pelo Conselho Estadual da Condição Humana para discutir o texto do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos

Segunda, 14 de Agosto de 2017 às 12:08, por: CdB

Fardados e armados, intimidando e xingando estudantes e professores, policiais e apoiadores formaram maioria para excluir toda referência a direitos humanos do Plano Estadual de Educação

Por Redação, com RBA - de São Paulo:

Uma audiência pública convocada pelo Conselho Estadual da Condição Humana para discutir o texto do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos de São Paulo que ocorria no campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) foi tomada por policiais militares na noite da última sexta-feira. 

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PMs invadem audiência pública na Unifesp sobre direitos humanos nas escolas

Professores da universidade relatam que o campus foi ocupado por quase uma centena de policiais. "Muitos fardados e inicialmente armados", que defendiam a exclusão de conteúdos relativos aos direitos humanos do currículo das escolas. Eles reivindicavam, por exemplo, a mudança da nomenclatura Ditadura Militar de 1964 para Revolução de 1964; e a retirada da "discussão de gênero nas escolas". 

Professores, técnicos e estudantes que, ao tomarem conhecimento do ocorrido, pretendiam integrar a audiência; foram coagidos e impedidos de participar. Sob a justificativa de que não estavam presentes desde o início. 

Segundo nota da Associação dos Docentes da Unifesp (Adunifesp), os policiais e um grupo de apoiadores proferiam frases do tipo. "Depois morre e não sabe o porquê", e defendiam a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro à presidência, em 2018. 

Segundo os docentes, quando o texto-base do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos foi à votação, ocorreu "verdadeiro espetáculo de horror". Com os policiais agredindo verbalmente professores e estudantes; e filmando e fotografando os que votavam contra as posições por eles defendidas. 

Uma das professoras presentes relatou situação "bárbara, incrível e horrorosa". "Eles vieram em peso, e perdemos a votação. Eramos 115 estudantes e professores. Ganhamos uma das votações. Depois eles trouxeram mais gente e ganharam todas." 

Grupo dos militares

Com intimidações e ameaças, o grupo dos militares conseguiu aprovar na audiência a supressão de qualquer referência a direitos humanos no plano estadual. A eliminação de item que obrigava o Estado a garantir a permanência e combater a evasão escolar de minorias. Também foi suprimida a obrigação de formar agentes de segurança pública com base nos princípios dos direitos humanos.

Para os professores, a ação, classificada como "abusiva e autoritária", se insere em movimento mais amplo, de ataques à democracia e aos direitos humanos, em curso em nosso país. "Externamos nossa forte preocupação com quem pretende, na base do grito, se sobrepor à produção de conhecimentos, à liberdade de pesquisa, à democracia e à autonomia universitária."

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