Rio de Janeiro, 08 de Dezembro de 2025

Planalto aproveita últimos instantes antes da votação para buscar apoio

Reforma da Previdência segue encalhada, segundo analistas, apesar das articulações de ultima hora.

Quarta, 14 de Fevereiro de 2018 às 13:48, por: CdB

Reforma da Previdência segue encalhada, segundo analistas, apesar das articulações de ultima hora. Já no Judiciário, ocorreu o depoimento do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Fernando Segóvia. Ele apresentou suas explicações ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Barroso.

 

Por Redação, com RBA - de Brasília e São Paulo

 

A Quarta-feira de Cinzas, na capital federal, foi marcada por mais uma tentativa do governo Michel Temer de buscar apoio de parlamentares para a reforma da Previdência. Em uma das últimas cartadas pela reforma, a partir desta tarde, representantes do empresariado começam a fazer contatos com os parlamentares que se dizem “indecisos” para pedir apoio à proposta. Além disso, outro assunto na pauta do Executivo é definir a possível substituição do nome da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho.

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O presidente de facto, Michel Temer, esteve reunido com seus assessores no Planalto

Já no Judiciário, ocorreu o depoimento do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Fernando Segóvia. Ele apresentou suas explicações ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Barroso; relator da ação que investiga irregularidades em Medida Provisória sobre portos. Falou sobre declarações que deu à agência inglesa de notícias Reuters, nos últimos dias. O inquérito tem como um dos denunciados o presidente de facto, Michel Temer, (acusado de ter recebido propina da empresa Rodrimar). Durante a entrevista – depois editada pela agência de notícias – o chefe da PF dá a entender que o caso será arquivado.

Logo após a repercussão negativa da fala de Segóvia, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou que entrará com duas representações contra o diretor-geral da PF. Randolfe quer acionar a Comissão de Ética da Presidência e a Procuradoria Geral da República (PGR) para que apurem a conduta do dirigente.

— Segóvia não age com autonomia, mas como um ‘advogado de defesa’ do presidente Michel Temer — apontou o senador.

Reforma da Previdência

Em relação à reforma da Previdência o tempo é curto para a base aliada do governo conseguir angariar os votos que faltam para permitir a aprovação da proposta. Parlamentares da oposição continuam se posicionando no sentido de obstruir todas as votações da Câmara até que o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) arquive de vez o texto.

— Não tem condições de sair. Estamos trabalhando pela obstrução e não vamos deixar essa proposta ser votada — disse o deputado Ivan Valente (Psol-RJ).

Como o texto continua sendo objeto de mudanças, por parte dos líderes de apoio ao governo e do próprio relator, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), avaliação feita por técnicos legislativos nos últimos dias são de que um dos pontos que fazem muitos deputados se dizerem indecisos para votar a reforma são as alterações que equiparam servidores públicos a trabalhadores privados.

Neste quesito, o governo só admite voltar atrás se criar regras de transição, por meio de emendas a serem apresentadas em plenário. E muitos deputados dizem prever repercussão negativa do eleitorado caso a matéria seja votada da forma como se encontra.

Intransigência
no Planalto

O deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que é de Brasília, criticou na véspera a posição do Planalto. Segundo Rosso, para negociar a proposta de reforma, “a equação deveria ser invertida”. A seu ver, o governo é que deveria apresentar a proposta de mudança para que os votos pudessem ser garantidos, não os parlamentares votarem a matéria como está e a mudança vir a ser feita por emenda.

— Da maneira como essa negociação foi apresentada ficou aparentando intransigência por parte do Planalto, o que afasta ainda mais a reforma da votação em plenário — avaliou.

Rosso disse que preocupa o argumento, que vem sendo divulgado constantemente pelo Executivo, de que a reforma vai acabar com privilégios, quando se fala desta equiparação.  

— Estamos falando de direitos. Os privilégios têm, sim, de ser atacados, mas grande parte dos servidores não é privilegiada. Eles têm um contrato assinado há décadas, e é preciso serenidade nessa negociação — ressaltou o deputado.

Última alternativa

Na semana passada, entre parlamentares do MDB, conversas reservadas davam como certo que o Planalto toparia até mesmo reduzir o valor que poderia conseguir para os cofres públicos com as mudanças a serem feitas nas regras previdenciárias para evitar o desgaste político de ver a reforma ser enterrada na Câmara. Hoje, diante do alerta feito por Rogério Rosso; há uma expectativa de o governo aguardar o efeito dos contatos a serem feitos pelos empresários sobre os deputados como última alternativa. Uma segunda avaliação, contudo, será feita durante reunião agendada no Planalto para o próximo domingo.

Na equipe econômica, um grupo de técnicos que atuou na elaboração da proposta alertou ministros e o próprio presidente que não há mais o que ceder e que, dependendo da situação; é melhor a matéria não vir a ser votada. Falta avaliar o que o próprio Temer e seu ministério mais político vão decidir nos próximos dias.

No início da manhã, o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), disse que ele, Rodrigo Maia e o próprio presidente, ao lado de alguns ministros, devem se reunir até o fim do dia para avaliar como está o quadro de intenções de voto pela proposta.

— Vamos retomar a articulação no plenário a partir de terça-feira, mas os esforços junto aos parlamentares, por telefone e outros contatos, começam a ser feitos a partir desta quarta-feira mesmo — afirmou.

Caso 'Cristiane'

Até mesmo pelo apoio da bancada do PTB na votação, o entendimento do Planalto é de que o governo deve resolver logo a situação do ministério do Trabalho, que desde janeiro tem como ministra nomeada a deputada Cristiane Brasil, mas continua funcionando sob o comando da secretaria executiva da pasta. Cristiane foi impedida judicialmente de assumir o cargo, pelo fato de ter sido ré em duas ações trabalhistas.

O líder do partido na Câmara, Jovair Arantes (GO), disse que a legenda vai esperar a decisão final da presidente do STF, Cármen Lúcia, antes de apresentar nome substituto, mas não descartou a troca. Arantes não nega a insatisfação de integrantes do PTB com o desgaste provocado pela indicação de Cristiane, que é filha do atual presidente da legenda, o ex-deputado Roberto Jefferson. Já está sendo costurado, dentro do partido, o nome do deputado Alex Canziani (PTB-PR) para ocupar o ministério, em substituição à parlamentar.

No Senado, está sendo esperada a partir da próxima terça-feira a continuidade da votação de projetos voltados para a área de Segurança Pública. São nove itens a serem votados, sendo que o primeiro, já em discussão, é a proposta que impede o bloqueio de recursos orçamentários destinados aos fundos de segurança.

Em relação à situação de Lula, o assunto também volta à pauta com uma ofensiva do senador Humberto Costa (PT-PE), a senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PRF), e o embaixador e ex-chanceler Celso Amorim. Eles se preparam para viajar a Bruxelas, no dia 26, para “denunciar a tentativa de tirar Lula da disputa eleitoral no tapetão”, conforme contou o senador.

Perseguição a Lula

— Vamos denunciar em todos os foros internacionais possíveis a caçada política promovida contra Lula, a ruptura da ordem democrática no Brasil provocada por um processo absolutamente viciado que visa a impedir alguém que pode unir o Brasil, que pode construir aquilo que foi destruído pelo governo golpista em tão pouco tempo — disse Costa.

Para o senador, a caçada ao ex-presidente é resultado de “uma trama sórdida urdida por parte significativa do empresariado, especialmente financeiro e internacional, e de integrantes que deveriam ter como a principal responsabilidade buscar a verdade e dar a Lula um julgamento justo”.

O trio, contou ele, pretende “ressaltar aos colegas estrangeiros que o Brasil vive hoje um período chefiado por um governo golpista que estrangula e afunda os brasileiros, acaba com a saúde e a educação, não combate a criminalidade, estoura o preço dos combustíveis, aumenta o gás de cozinha, reduz o salário mínimo e acaba com políticas sociais importantes”.

Entre os partidos de esquerda, integrantes do PT, PCdoB, PDT, PSB e Psol estão concluindo os últimos pontos de um documento que apresentará propostas da esquerda para construção de uma agenda mínima nas eleições deste ano. A expectativa destas siglas é de o documento ser apresentado na próxima terça-feira

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