Ao marcar a data do julgamento de Lula em segunda instância para o dia 24 de janeiro de 2018, o setor judiciário do golpe de estado em curso no Brasil dobra a aposta
Por Alexandre Santini - do Rio de Janeiro:
Já atropelaram o processo legal em vários momentos, com o juiz Moro agindo como promotor. Basta comparar a tramitação do processo contra Lula com os que envolvem outros expoentes da política brasileira, alguns apanhados em flagrante, para perceber o enorme contraste. Arma-se contra Lula um julgamento político, cujo objetivo principal neste momento é a interdição de sua candidatura, hoje com praticamente o dobro de intenções de voto em relação ao segundo colocado
O linchamento moral, a perseguição diária da grande imprensa; o explícito preconceito de classe das elites e de setores da classe média; o repúdio do mercado financeiro: nada disso foi capaz de tirar Lula da liderança na corrida eleitoral.
O povo sente no dia a dia, na fila do banco, do supermercado; nas dívidas que se acumulam, o que era a sua vida durante os governos de Lula e como está a sua situação hoje. A agenda de privatizações e reformas do estado; com retirada de direitos dos trabalhadores, não passa nas urnas. Jogando no desespero e vendo o tempo correr contra eles; o time do golpe resolveu botar os juízes do TRF-4 jogando no ataque para mostrar quem é o dono da bola.
Ao jogar sua carta mais alta na mesa, o consórcio do golpe demonstra também a sua fragilidade. Sabe que não vence nas urnas, por isso precisa inviabilizar Lula no tapetão. Aos olhos do povo, que conhece a morosidade do Judiciário brasileiro, a condenação em tempo recorde explicita a perseguição. Quem viu malas de dinheiro passeando por Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador não se impressiona com os pedalinhos, sítios e apartamentos modestos atribuídos a um ex-presidente da república.
Lula
Tirar Lula do jogo neste momento, inviabilizando a sua candidatura por uma sentença no mínimo questionável; em um julgamento viciado, desmoraliza a própria eleição e coloca em xeque as instituições.
A defesa de Lula deverá ser feita inclusive por quem não vai apoiá-lo como candidato, mas compreende a gravidade do processo em curso. Não haverá legitimidade em uma eleição que começa com a interdição de uma candidatura; e este pode ser um preço alto demais a pagar, dado o precedente perigoso que se cria.
Acelerando o seu desfecho, o golpe entrou no labirinto. É hora da cidadania brasileira reagir; não somente os que apoiam Lula, mas todos aqueles que têm compromisso com a democracia brasileira.
Alexandre Santini, é gestor cultural, dramaturgo e escritor, é diretor do Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói (RJ) e autor do livro Cultura Viva Comunitária: Políticas Culturais no Brasil e na América Latina.