A ruptura de diques e represas, devido à alta incidência de chuvas nos últimos dias, assusta a comunidade da Baía de Sepetiba, onde um reservatório com 50 mil litros de material altamente tóxico, produzido pelas falidas Companhia Mercantil e Industrial Ingá começou a vazar há cerca de uma semana, quando começou chover forte na região. O quadro, segundo denúncia do ambientalista Sérgio Ricardo, coordenador do Fórum de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Zona Oeste e da Baía de Sepetiba, "é uma bomba-relógio, pronta para explodir, a exemplo do que ocorreu há 10 anos".
Pescadores que residem na comunidade em torno da Baía ingressaram com várias denúncias junto aos organismos responsáveis pela conservação ambiental, nas quais apontam o perigo de um acidente ecológico de grandes proporções no local mas, há quase uma década, sempre que os níveis pluviométricos aumentam, "só resta ao povo rezar para o dique da Ingá não arrebentar e levar aquele veneno para as águas da baía", disse Ricardo.
Nomeado para ocupar a secretaria estadual de Meio Ambiente, o deputado petista Carlos Minc já denunciou essa situação, há mais de quatro anos. Segundo o político ecologista, o dique contém cádmio e zinco, produtos altamente concerígenos. Quando ocupava a Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio, ele pediu à Justiça o confisco dos bens dos donos da Ingá.
- O governo federal priorizou o porto de Sepetiba, o que ajudará o desenvolvimento da região, mas se esqueceu de dar uma contrapartida às prefeituras, pescadores e ao meio ambiente - criticou o parlamentar.
Condenada
A Companhia Mercantil e Industrial Ingá foi condenada, desde novembro de 2000, por contaminação da água com metais pesados na Baía de Sepetiba, Rio de Janeiro. A empresa deveria construir um aterro industrial e remover, em 60 dias, os 3 milhões de toneladas de resíduos químicos deixado na Ilha da Madeira, em Itaguaí, o que ainda não ocorreu.
Uma vistoria, realizada por técnicos do Ibama, representantes do Ministério Público Estadual e dirigentes da Assembléia Permanente de Entidades de Defesa do Meio Ambiente (Apedema), revelou que o lençol freático e poços artesianos da região já estão contaminados. O dique ameaça se romper, repetindo o desastre ecológico de 1996, quando 50 milhões de litros de água e lama com metais pesados vazaram para a baía.
Em outra denúncia ao Ministério Público Federa, o ambientalista Nélio Cunha Mello, da Rede Justiça Ambiental acrescenta que "várias famílias que vivem ao redor da baía de Sepetiba estão contaminadas com metais pesados e os governantes, apesar de nossos apelos, durantes várias décadas, pouco ou nada têm feito para acabar de vez com essa situação".