Uma multidão de diversas origens concentra-se, desde a noite desta quarta-feira para a Cúpula dos Povos, encontro na cidade argentina de Mar del Plata que questiona a cúpula de 34 presidentes americanos marcada para começar nesta sexta-feira, na mesma localidade. Indígenas com roupas típicas, atletas olímpicos de Cuba, vendedores de artesanato, trabalhadores e parentes de desaparecidos políticos se reuniram para transmitir uma mensagem que busca questionar a Alca, o projeto de integração econômica continental defendido pelos Estados Unidos e que sofre oposição de Argentina, Brasil e Venezuela.
- Esperamos que isso sirva para o que lutamos há anos, que o governo norte-americano deixe de lado suas intenções de introduzir a Alca na América Latina - disse o atleta olímpico cubano Javier Sotomayor.
Os povos indígenas, rodeados de bandeiras das suas comunidades e da nação inca, com muitos dos seus integrantes usando roupas típicas, redigiram um documento, entregue nesta quinta-feira aos chanceleres latino-americanos.
- No documento estarão os pontos mais preocupantes sobre como os acordos multilaterais afetam as nossas comunidades, para lembrar aos governos os direitos coletivos dos nossos povos - disse Aucan Huilcaman Paillama, um mapuche chileno encarregado das relações internacionais do Conselho de Todas as Terras.
A Terceira Cúpula dos Povos terá a presença de figuras como o argentino Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o ex-jogador Diego Maradona e o cineasta Emir Kusturica.
Entre as várias atividades de quarta-feira houve peças de teatro, na qual se escutaram reclamações dos povos indígenas do continente, sessões de fotos com a equipe olímpica de Cuba, além de canto e dança numa tenda instalada pelo governo de Havana. Para evitar choques com os grupos da "cúpula paralela', como aconteceu em eventos anteriores desse tipo em Québec e Seattle, a Argentina destacou 7.000 agentes de segurança em Mar del Plata e estabeleceu um rígido cerco em torno da área onde ocorrerá o encontro dos presidentes.
Em meio aos preparativos para a cúpula e para uma passeata contra o norte-americano George W. Bush, a cidade mantém seu ritmo quase habitual, embora alguns habitantes temam incidentes violentos em locais onde a cobertura policial é escassa.
- Sim, tenho medo. Com todo esse armamento, vêm como para a guerra - disse o estivador Carlos Alberto.
Mas, nas imediações do Estádio Mundialista, uma das principais sedes da Cúpula dos Povos, dezenas de pessoas participavam pacificamente das atividades programadas, fazendo pouco caso da forte presença policial.