O papel da mulher da Revolução Russa, tema nem sempre devidamente explorado pela literatura, é o foco do Documentário "As mulheres de Lenin”.
Por Redação, com Conexão Jornalismo - do Rio de Janeiro
Não foram poucas as mulheres que tiveram participação ativa naquela que foi a mais profunda revolução do século XX. A Revolução de Outubro de 1917 dividiria, por décadas, o mundo em dois polos durante a Guerra Fria. Se vistas apenas pelo sobrenome e os papéis que assumiram na maior transformação social ocorrida no mundo até então, fica claro, o gênero não faria qualquer diferença. O curta será lançado, em circuito nacional, ainda em Novembro deste ano.
Em meio a Kollontai, Krupskaia, Armand, Konkordiia Samoilova e Slutskaia estão ministras, secretárias do partido, organizadoras, diretoras, conselheiras. Por outro lado, o que chama a atenção no protagonismo assumido pela mulher na primeira Revolução Comunista ocorrida no planeta não foi exatamente sua ascensão ao núcleo duro do poder; idealizado e liderado por Vladimir Ilyich Ulyanov, o Lênin. Mas o empoderamento (para usar uma expressão atual) que ocorreu à revelia da análise do gênero.
Encanto
A escolha não se deu com a preocupação "cotista" ou para abrir, de maneira forçosa e revolucionária até, o papel da mulher. Mas pela competência e engajamento revolucionários demonstrados ali. Algo raro ainda nos dias de hoje.
O papel da mulher da Revolução de Outubro de 17, tema nem sempre devidamente explorado pela literatura, é o foco do Documentário "As mulheres de Lenin" produzido por EE Filmes e Conexão Jornalismo, de Francis Ivanovich e Fábio Lau.
— Um trabalho que não é político, mas ao mesmo tempo é. Que fala de uma Revolução Comunista ocorrida há um século, tem seu encanto e desencanto em um só corpo. E por isso sabíamos que não seria uma tarefa das mais simples — disse.
Líder soviético
Idealizador do documentário, roteirista e still (fotógrafo responsável pelo making of), o jornalista Fábio Lau, de Conexão Jornalismo, reforça a tese e comemora a expressiva adesão de profissionais ao documentário:
— Nos reunimos algumas vezes para alinhavar roteiro, direção e conceituação. Foram dias de debates. Mergulhei no perfil de cada personagem para tentar trazer a tona um pensamento sintonizado com a época. Quase um trabalho "espiritual" — brinca.
Fábio Lau visitou a história do líder soviético.
— Apostamos também na criação de uma personagem que a história praticamente abandonou e que foi contemporânea de um Lênin pré-revolução. Uma breve namorada da adolescência. Tatiana, vivida pela atriz Isadora Britto, conheceu um Lenin romântico, circunspecto, e que viveu uma revolução interior quando o irmão mais velho, e ídolo, foi sequestrado e morto pelas tropas do Czar Nicolau II — lembra.
Tarefa árdua
Diretor experimentado nas mais diversas expressões de dramaturgia, Francis abraçou o projeto há um ano mesmo sabendo que a temática (que revela a primeira ascensão prática de um programa Marxista) dificilmente teria a simpatia de produtores e apoiadores financeiros. E a árdua tarefa de reunir equipe e artistas se mostraria ainda mais difícil; não fosse a singularidade do projeto,.
— Confesso que me sentia inseguro frente ao enorme desafio de realizar este trabalho. Tinha a preocupação de não torna-lo panfletário — disse Francis.
Segundo o diretor, trata-se de um documento cinematográfico que aborda princípios políticos “com os quais muitos nos identificamos”.
— A busca pela igualdade social, de gênero e a busca utópica pela justa distribuição de renda. Anseios do caráter humano, não político ou meramente filosófico. O principal foi ressaltar e realçar o papel da mulher da Revolução de Outubro de 17 — acrescenta.
Elenco
Francis acrescenta ser “impossível negar ou reduzir o papel de quem foi o principal expoente da Revolução de 17”.
— Quando falamos das "Mulheres de Lenin" salientamos as que foram base, apoio, direção, cérebro e também decisão naquele momento histórico. Foi uma geração singular, corajosa, transgressora. E, uma curiosidade, não formada apenas por russos, mas por estrangeiros. É o caso da bela personagem e também poderosa francesa Inessa Armand, talvez a maior paixão na vida de Lenin — pontua.
O diretor lembra, ainda, a importância do elenco na produção.
— Dizem que o cinema é a arte do diretor. Pode ser, mas sem as atrizes e os atores, o diretor torna-se um ser isolado em si mesmo e nos seus devaneios imagéticos. As atrizes deste filme foram fundamentais na entrega, talento, dedicação, entusiasmo, coragem e cooperação. Um trabalho que sofreu desde o início o preconceito e a rejeição por diversos segmentos que tentamos apoio para locações, etc. Mas creio que o resultado final vai surpreender muita gente. Mesmo nós temos nos surpreendido a cada dia — ressaltou.
Personagens
A locação principal foi um casarão onde funciona a sede do Arteiros da Glória. Ali, numa das mais boêmias ruas do Rio, a Rua da Lapa, o tricolor Henrique de Souza, o dono do bar/locadora, cedeu o sobrado centenário para a gravação. A estrutura, com suas escadas e cômodos de época, ajudaram na ambientação.
Atrizes experientes, com uma trajetória consistente, são a marca de "As mulheres de Lenin". Rita Grego, Karla Dalvi e Natália Viviani, com histórias ligadas ao teatro. E ainda atrizes com o papel multifacetado.
Isadora Britto, que além de atriz (viveu a adolescente Tatiana) trabalhou na maquiagem e caracterização. E Camila Avancini, atriz de teatro e TV, que fez duas personagens (Aleksandra Kolontai e Natália Sedova). Ao viver Natália, Camila dá também vida a Frida Khalo. Ela foi amante de Trotsky, outro líder da Revolução, durante o exílio no México. Bruno Zukoff, cantor, ator e diretor, trabalhou também na produção.