Segundo medalhista do Brasil nos Jogos de Atenas, o judoca Flávio Canto revelou que segue uma espécie de ritual ao competir.
- É bobeira, mas normalmente eu luto barbudo e cabeludo. É uma maneira de eu mostrar para mim mesmo que eu não estou nem aí para nada, que estou focado na competição. Estou feio mesmo e não quero saber - disse ele depois de conquistar a medalha de bronze na categoria meio-leve.
Mas as manias não param por aí. Canto não gosta de ver a chave dos torneios para não ficar preocupado com os adversários que vai enfrentar.
- Eu não me preocupo com a chave, não gosto de saber com quem eu vou lutar porque não adianta fazer mil planos. Aqui não tinha como não ver porque a gente recebeu a chave cinco dias antes e, por experiência de Atlanta, sempre tem alguém que acaba falando - afirmou ele.
Por causa de uma alergia, o judoca ainda costuma usar uma calça por baixo do quimono, mas em Atenas foi impedido. Isso, porém, não atrapalhou o desempenho do brasileiro, que venceu o colombiano Mario Antonio Valles, por ippon, e em seguida o estoniano Aleksei Budollin, medalha de bronze em Sydney-2000.
A derrota aconteceu na sequência, para o russo Dmitri Nossov.
- Na terceira luta eu estava um pouco cansado. Na Olimpíada você não tem tempo para descansar entre uma luta e outra. É um ritmo incessante. Comecei bem, mas depois mudei um pouco a tática e fiz besteira -
O brasileiro foi, então, para a repescagem, quando enfrentou o italiano Roberto Meloni e seguiu em busca do bronze.
-Contra o italiano talvez tenha sido uma das melhores lutas. Dei um wasari e imobilizei relativamente rápido - afirmou Canto, que venceu por ippon o coreano Woo Young Kwon em seguida.
- Saiu um golpe no começo e me ajudou a chegar na luta pelo terceiro (lugar) inteiro. Na terceira luta eu peguei o polonês ( Robert Krawczyk) que me derrotou no Mundial. Consegui um wasari e fiquei só administrando até o final. Foi tudo tão rápido que nem caiu a ficha -
Aos 29 anos, Canto, que usou principalmente os golpes no chão, disse que ainda não sabe o que vai fazer no futuro nem se estará na próxima Olimpíada, em Pequim-2008.
-No esporte a gente não pode fazer projeto para daqui a seis meses, quanto mais quatro anos. Depende sempre de resultados. Meu grande objetivo é a inclusão social. Me formei em direito, mas não sei exatamente o que vou fazer - disse o judoca.