Esta semana (o diário conservador paulistano) Folha de São Paulo - mantenedor do Uol - demitiu o jornalista e blogueiro Mário Magalhães.
Por Fábio Lau - do Rio de janeiro
A pluralidade da Comunicação deveria ser tratada de acordo com o que de fato representa: um direito humano. Amiga e jornalista Paula Máiran, combativa ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, foi a primeira pessoa que lembro ter dado ao tema a dimensão que merece. Mas é sabido que a cada ciclo a ideia soa como a de outras tantas liberdades que vão recebendo pás de cal: como o aborto, a legalização das drogas e outros de iguais relevância.
Esta semana (o diário conservador paulistano) Folha de São Paulo - mantenedor do Uol - demitiu o jornalista e blogueiro Mário Magalhães. Tratava-se de uma voz, das poucas da velha mídia, a não ecoar sobre o óbvio, a velha cantilena de que o jornalista deve referendar o que dele espera seu empregador.
Interesse privado
Planos de Saúde, ajuda educação para filhos e claro, o salário, são os argumentos a embasar a lógica do "manda quem pode e obedece quem tem juízo". E assim, de reportagem em reportagem, artigo em artigo, coluna em coluna, o profissional deixa de lado caros saberes e achares e reforça ainda mais o pensamento único movido pelo interesse político/empresarial.
Há quem veja neste saldo "mérito" profissional ou pessoal. São sobreviventes que muitas vezes mergulham na própria angústia, inconfessável. Por outro lado há quem veja e julgue tudo isso como o abandono de uma causa maior que é o jornalismo e sua função social por conta de interesse pessoal e privado.
Mas, entre as duas lógicas e certezas inconvivíveis, quem sabe não encontramos margem para uma terceira? A liberdade de opinião e pensamento deve sobreviver de algum modo e em algum lugar. Que não no produto profissional, pelo menos, quem sabe, na página particular do jornalista que é o dazibao destes tempos. Mário Magalhães, ao deixar o Uol, avisou que seu Facebook e Twitter serão mantidos vivos. Bom para todos nós.
Conteúdo ruim
O mercado, cada vez mais enxuto e estreito, canaliza recursos da publicidade privada e oficial para a velha mídia. E a razão é óbvia: aquele que se aventura a distribuir será implacavelmente perseguido pelos grupos sobreviventes e, ironicamente, por alguns jornalistas que veem na expansão do mercado ameaça ao trabalho.
O Brasil revive assim, em pleno terceiro milênio, a Era dos Inconfidentes. Falar, lutar, buscar algo novo e principalmente o próprio direito a expressão soa a transgredir e se colocar em perigo. "Conspirar" na organização de novas plataformas de comunicação e trabalho é interpretado como fomento a algo pecaminoso ou a suposto inimigo.
Esta semana este repórter foi repreendido: "pare de falar mal de colegas de rádio e TV". Na prática o que o repórter faz é "criticar" a produção do mau jornalismo - esteja onde estiver. Uma bandeira que deveria ser de todos porque a sobrevivência da atividade dependerá da sua credibilidade. O risco da proliferação de conteúdo ruim ocorre porque o conteúdo que deveria ser bom anda caro e escasso.
Preservar o jornalismo e o bom jornalista na sua essência, portanto, deveria ser regra. E uma obrigação a cutucar os mais velhos nesta atividade. Deixar a preguiça e o corporativismo de lado fariam bem a todos - e especialmente leitores e consumidores da notícia. Por isso, deste canto, faço um apelo diferente:
- Parem de silenciar diante do escárnio que praticam contra o jornalismo!
Fábio Lau é jornalista, fundador do site de notícias Conexão Jornalismo.