Rio de Janeiro, 08 de Dezembro de 2025

Magistrados abusam da paciência popular e confrontam opinião pública

A distribuição imoral de auxílio-moradia, entre outras mordomias destinadas aos servidores da Justiça tem sido alvo de protestos até em cultos da Igreja Católica. Ainda assim, os magistrados não recuam.

Quinta, 08 de Fevereiro de 2018 às 14:07, por: CdB

A distribuição imoral de auxílio-moradia, entre outras mordomias destinadas aos servidores da Justiça tem sido alvo de protestos até em cultos da Igreja Católica. Ainda assim, os magistrados não recuam.

 

Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo

 

A imagem do Judiciário brasileiro passa a seguir, inexoravelmente, na direção contrária à opinião pública. A distribuição imoral de auxílio-moradia, entre outras mordomias destinadas aos servidores da Justiça tem sido alvo de protestos até em cultos da Igreja Católica. Ainda assim, os magistrados não recuam. Nesta quinta-feira, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou soltar o ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro no governo de Sérgio Cabral, Sérgio Côrtes.

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O ministro Luiz Fux, do STF, é um dos magistrados responsáveis pela concessão do auxílio-moradia aos seus pares

O médico foi preso em abril do ano passado, na operação "Fatura Exposta”. Ele confessou sua participação em um esquema de fraudes em licitações para o fornecimento de próteses para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Os investigadores afirmam que, entre 2006 e 2017, os desvios chegaram a R$ 300 milhões.

Beija-pés

Além de Côrtes, também foram presos os empresários empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita. As prisões foram pedidas a partir da delação premiada de César Romero, que trabalhou com o ex-diretor do Into; ex-secretário executivo de Côrtes na secretaria estadual de Saúde. Ele acabou por entregar todo o esquema. A delação foi homologada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. Bretas é um dos juízes que recebem auxílio-moradia em dobro, por ser casado com uma juíza.

Mesmo o jornalista que serve de porta-voz para os setores da extrema direita, Reinaldo Azevedo volta ao noticiário, em plena crise moral no sistema de Justiça do país, para lembrar que o também ministro do STF Luiz Fux, do STF, beijou — literalmente — os pés da mulher de Sérgio Cabral, então governador do Estado do Rio.

Fux “que admitiu em entrevista ter como padrinhos Delfim Netto, João Pedro Stedile e Antonio Palocci; além de ter mantido encontro prévio com José Dirceu à época do ‘mensalão’, não esqueceu de ser grato, de forma bem pouco usual, a um outro entusiasta de sua candidatura ao Supremo: o então governador Sérgio Cabral. A reverência, na verdade, foi feita à mulher do antigo Rei do Rio: a advogada Adriana Ancelmo, que está em prisão domiciliar.

Plenário

“O marido está em cana a perder de vista”, escreveu o comentarista.

“Indicado por Dilma, Fux foi à casa de Cabral para agradecer o apoio. E, diante de testemunhas, fez um gesto que ele mesmo disse que seria inédito: ajoelhou-se, diante de todos, e beijou os pés de Adriana. Tem seu lado criativo, convenham. Já se conhecia o beija-mão. O beija-pé, se não é símbolo máximo da sujeição, deve ser puro ato de picardia”, aponta Azevedo.

Luiz Fux também é o autor do voto que liberou o auxílio-moradia para os magistrados e demais integrantes do Poder Judiciário. A decisão tende a ser levada, às pressas, ao Plenário do Supremo, após a onda de revolta que chega aos altares brasileiros. Em missa na Igreja São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo, nesta manhã, o padre Júlio Lancelotti criticou as mordomias em meio à situação de grave crise social e econômica que vive o país.

— Nestes dias, todo o Brasil se pergunta: por que tanta não tem onde morar e os juízes recebem R$ 4,7 mil de auxílio-moradia? — questiona o icônico padre.

Casas populares

Ordenado sacerdote em 20 de abril de 1985; Lancelotti é o Vigário Episcopal para o Povo da Rua pela Arquidiocese de São Paulo. Doutor Honoris Causa pela PUC-SP, o padre recebeu no Rio de Janeiro o Prêmio Alceu Amoroso Lima.

— Até o juiz que é casado com uma juíza; que se acha a última trincheira da moralidade, moram em casa própria e os dois recebem — acrescentou Júlio Lancelotti. Referia-se ao juiz Bretas.

O sacerdote católico afirmou que os milhões pagos em auxílio-moradia para magistrados; que já têm casa própria, daria para construir 50 mil casas populares. Lancelotti citou também o caso do desembargador José Antonio de Paula Santos Neto; do Tribunal de Justiça de São Paulo, que possui 60 imóveis em seu nome.

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