A batalha iniciada na noite desta sexta-feira (horário de Brasília) varou a madrugada e, pela manhã, integrantes do Fatah e do Hamas voltaram a se enfrentar nas ruas da Cidade de Gaza e de Ramallah, na Cisjordânia, o que aprofunda o temor de uma guerra civil na região. O novo conflito começou quanto homens armados atacaram o comboio do premiê palestino Ismail Haniyeh, do Hamas. Além do segurança de Haniyeh, que morreu no ataque a tiros, cerca de 15 pessoas ficaram feridas, entre elas, o filho do premiê, Abdel Salam, de 26 anos, e seu assessor político, Ahmed Yousef.
Segundo o jornal israelense Haaretz, cerca de 30 pessoas ficaram feridas na troca de tiros, algumas deles com gravidade. A onda de violência ocorre pouco antes da celebração do 19º aniversário do Hamas, em Gaza. Forças de segurança ligadas a Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), usaram cassetetes contra seguidores do Hamas antes da troca de tiros. Em uma demonstração de força, o Hamas havia destacado seguidores armados com rifles automáticos e granadas em pontos estratégicos da faixa de Gaza na manhã desta sexta.
Os confrontos ocorreram a um quarteirão de distância do escritório de Mohammed Dahlan, um dos líderes do Fatah, acusado pelo Hamas de ter orquestrado o ataque iniciais contra Haniyeh. O atentado ao comboio do premiê palestino ocorreu após seu retorno de uma viagem pelo Oriente Médio que visava arrecadar verbas para a ANP, imersa em grave crise financeira após o boicote econômico imposto pelos EUA, Israel, União Européia e outros países ocidentais.
O ataque a tiros contra o comboio de Haniyeh ocorreu no momento em que o premiê palestino ficou detido na passagem de Rafah, entre Egito e Gaza, por mais de sete horas, devido a uma proibição imposta por Israel, que fechou a passagem para impedir que ele retornasse a Gaza trazendo US$ 35 milhões em malas, originários de doações do Irã e de outros países muçulmanos. Após as horas de espera, Haniyeh pode entrar em Gaza, na noite desta quinta, mas teve de deixar o dinheiro no Egito.
O porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum, afirmou que o ataque foi uma tentativa de assassinato contra Haniyeh e apontou as forças de segurança ligadas ao Fatah como responsáveis.
- A guarda presidencial controla o lado palestino (da fronteira). Não há grupos armados na região. Ela é a responsável pela segurança na fronteira. Foi uma clara tentativa de assassinato - afirmou Barhoum.
Segundo Wael Dahab, porta-voz da Guarda Presidencial, havia muitos homens armados na área no momento do ataque e era "difícil controlar a situação".
- Nossos homens não deram início aos tiros, não dispararam, mas havia muitas pessoas carregando armas - afirmou.
O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, lamentou nesta sexta-feira o incidente.
Pequena fortuna
Autoridades israelenses suspeitavam que Haniyeh tentava retornar à Gaza com uma pequena fortuna, em dinheiro, procedente de doações obtidas na viagem a países como Irã, Síria e Sudão. O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, ordenou o fechamento do terminal fronteiriço de Rafah, principal passagem da faixa de Gaza e única saída para o território egípcio, nesta quinta-feira, para evitar a entrada de dinheiro em território palestino. Em seguida, centenas de seguidores do Hamas invadiram o terminal. Começou então um intenso tiroteio com membros da Guarda Presidencial, leal a Abbas --do Fatah.
A imprensa israelenses acredita que Haniyeh e o Hamas destinariam o dinheiro a suas forças militares, para se consolidarem no governo. Segundo fontes palestinas, Abbas pode anunciar neste sábado uma consulta popular para antecipar as eleições em Gaza e na Cisjordânia.