Rio de Janeiro, 28 de Dezembro de 2025

Lula confessa fixação com Jornal Nacional mas afirma que vai brigar

Em uma conversa de quase uma hora com o deputado Wadih Damos (PT-RJ), nesta terça-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um desabafo. Ao mesmo tempo, demonstrou o quando o Jornal Nacional, da Rede Globo, o incomoda.

Terça, 01 de Agosto de 2017 às 14:24, por: CdB

Em uma conversa de quase uma hora com o deputado Wadih Damos (PT-RJ), nesta terça-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um desabafo. Ao mesmo tempo, demonstrou o quando o Jornal Nacional, da Rede Globo, o incomoda.

 

Por Redação - do Rio de Janeiro

 

Em uma conversa de quase uma hora com o deputado Wadih Damos (PT-RJ), nesta terça-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um desabafo. Ao mesmo tempo, demonstrou o quando a Rede Globo o incomoda, a ponto de precisar que o apresentador William Bonner, no Jornal Nacional (JN), principal noticioso da emissora, peça-lhe desculpas para que, assim, possa “morrer em paz”.

lula.jpgEx-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem um problema a resolver com o , Rede Globo
Jornal Nacionalda

Sem explicar a transferência de cerca de R$ 6 bilhões às Organizações Globo, ao longo dos 15 anos em que o PT permaneceu no governo, Lula sente-se um refém da mídia conservadora. Embora, em outras ocasiões, cite momentos vividos em poucos encontros com os proprietários das principais redes de comunicação do país, todas com muito carinho, dessa vez diz que está pronto para brigar.

Com ternura

Ainda que se disponha a lutar por seus direitos, pretende fazê-lo sem perder a mesma ternura que encantou os industriais da extrema direita. Ou os latifundiários e banqueiros, dignatários das maiores taxas de juros já cobradas em toda a história da nação. Ou, ainda, com a Globo, que ajudou a apear do poder a presidenta cassada Dilma Rousseff, sua substituta no Palácio do Planalto.

Damous, por sua vez, levantou a bola da regulação e da democratização da mídia no país:

— Já não passou da hora de nós voltarmos a refletir, em termos de alterações, de reformas, no Judiciário, no Ministério Público e na ‘grande’ imprensa? Já não passou da hora de nós discutirmos a regulação, a democratização da mídia? Já não passou da hora de nós debatermos com o povo brasileiro esse papel deletério, por exemplo, que as Organizações Globo exercem no país. (Trata-se de) um monopólio que não tem paralelo em nenhum lugar do mundo. Já não está na hora das forças democráticas e populares, a esquerda, enfrentarem isso, como isso deve ser enfrentado, presidente?

Perseguição

Mas Lula tergiversou para, no final, dizer o quanto Bonner, e o JN, lhe são caros.

— Primeiramente, quero dizer para seus amigos, seus seguidores, que no dia 11 estarei aí (no Rio de Janeiro), na UFRJ, para o lançamento de um livro que discute a sentença que me foi dada pelo juiz (Sérgio) Moro. Quero dizer para você que eu, sinceramente, fico triste não pela perseguição pessoal a mim. Ou seja, não estou acima da lei, se cometi erros tenho que ser julgado, punido.

Agora, é importante lembrar que o juiz também não está acima da Lei. O juiz existe para ser o aplicador do fiel cumprimento da Lei; sobretudo, com decisões tomadas nos autos do processo. Não baseadas na Opinião Pública, como alguns querem — disse, inicialmente.

E foi adiante.

— A segunda coisa é, acho, que há uma disputa. Você sabe do respeito que tenho pela instituição Polícia Federal, Ministério Público, pelo Poder Judiciário. Agora, meu problema é com as pessoas que compõem a força-tarefa (da Operação Lava Jato). Porque eles se submeteram aos meios de comunicação. Para eles, o que menos importa é a verdade. O que importa é a versão. Se não têm provas, não tem problema. Vamos condenar assim mesmo. Na sentença do juiz Moro, até a última página, só caberia uma coisa: me absolver. Mas como ele tinha compromisso e não podia sair; aliás, disse para ele em meu depoimento em Curitiba, que ele não tinha como absolver.

Teria que me condenar. Estava por demais comprometido com a tese de me condenar. Quando um juiz resolve dizer que não precisa de provas para condenar um cidadão, o mundo acabou, meu filho. A Justiça está em crise. É preciso que tenha prova concreta. Ah, mas se alguém disse que viu, já basta. Não é verdade. Nós já vimos uma quantidade de injustiça feita no mundo por conta disso.

Jornal Nacional

O que tenho dito, com muita paciência? Tenho dito o seguinte: olha, eu desafio os procuradores da Lava Jato, a Polícia Federal da Lava Jato e o juiz Moro a apresentar uma única denúncia contra mim. Uma única. Uma única denúncia contra mim que tenha prova. Um papel qualquer que se possa pegar. Alguma coisa. O que não dá é para você ser perseguido como eu sou. (…)

Se tem alguém que quer passar o país a limpo, esse alguém sou eu. Se tem alguém que quer a verdade, esse alguém sou eu. E se tem um partido que tem que brigar para combater a corrupção é o PT — afirmou.

Prestes a encerrar sua participação na transmissão ao vivo, levada para cerca de 12 mil espectadores, Lula manda o recado para a Globo.

— Fico imaginando, Wadih, o dia em que o William Bonner tiver que abrir o Jornal Nacional e dizer: ‘Boa noite. Eu quero pedir desculpas ao presidente Lula porque ele não cometeu nenhum crime’. Aí, meu caro, poderei morrer em paz, olhando na cara da minha bisneta e dizer: seu bisavô é honesto. Não posso aceitar é a quantidade de mentiras, contadas todos os dias a meu respeito — concluiu.

Assista, adiante, à íntegra da conversa entre Lula e Wadih Damous:

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