Linha de investigação dos procuradores segue o dinheiro pago por Joesley Batista ao grupo político de Michel Temer.
Por Redação - de São Paulo
O empresário Joesley Batista, dono do grupo J&F, que controla a JBS, decidiu quebrar o silêncio. Ele afirmou que o Brasil é hoje presidido por seu maior e mais perigoso criminoso: o presidente de facto, Michel Temer. Em detalhes, Batista reforça a linha de investigação da Procuradoria Geral da República (PGR). A denúncia a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), na semana que vem, seguiu o caminho do dinheiro sujo, pago “à organização criminosa” supostamente comandada por Temer e sua equipe de governo.
— O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais. Nem deixando eles longe demais, para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida — disse Joesley Batista. As afirmações constam de entrevista à revista Época, do Grupo Globo.
Queda de Dilma
Na entrevista, Joesley falou sobre sua relação com Temer, sempre baseada na troca de favores.
— Nunca foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele. E fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. (Temer) por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá — afirmou.
O empresário menciona o caso em que Temer o pediu para ajudar a financiar a guerrilha na internet, para ajudar a golpear a presidente legítima Dilma Rousseff, a quem devia lealdade institucional, e financiar o golpe de 2016.
— Sempre estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um 'mensalinho'. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava para ajudar o Yunes — acrescentou.
Segundo Joesley, Temer acredita que os empresários lhe devem favores em razão do cargo que ocupa.
— Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim — descreve.
“Chefe de Cunha"
Joesley Batista afirmou, ainda, que o presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara e comandado por Temer, tinha lugar de destaque na organização criminosa. Ele aceitou um pedido de impeachment fraudulento e hoje está condenado a mais de 15 anos de prisão.
— A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel — revela.
E segue o entrevistado:
— Em grande parte do período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel. Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto entre eles.
Corrupção institucional
Joesley acrescenta que, em seguida, começou a tratar “uns negócios direto com o Eduardo”.
— Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo — relata.
Joesley relembra que a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara institucionalizou o achaque.
— O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado — define
Ele enfatizou ainda que a turma que governo o Brasil pós-golpe "é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país, liderada pelo presidente."
Outro lado
Após a pancada, na capa da revista Época, Temer divulgou nota na qual aprofunda suas dificuldades no processo que a PGR finaliza contra ele. Na mensagem, divulgada nas redes sociais, Temer afirmou o empresário Joesley Batista "desfia mentiras”. Para o eventual parceiro de negócios escusos, recebido de forma incógnita no porão do Palácio do Jaburu, “há razões para o empresário ter ódio de seu governo e anunciou ações civil e penal contra ele”.
Em comunicado, a Presidência da República classificou as alegações de "mentiras em série".
"A maior prova das inverdades desse é a própria gravação que ele apresentou como documento para conseguir o perdão da Justiça e do Ministério Público Federal por crimes que somariam mais de 2000 anos de detenção", diz a nota divulgada pelo Palácio do Planalto, sobre o acordo de delação de Joesley, que gravou uma conversa com o presidente.
"Em entrevista, ele diz que o presidente sempre pede algo a ele nas conversas que tiveram. Não é do feitio do presidente tal comportamento mendicante. Quando se encontraram, não se ouve ou se registra nenhum pedido do presidente a ele. E, sim, o contrário."
Temer anunciou que na segunda-feira serão protocoladas ações civil e penal contra Joesley.
"Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil", segundo a nota da Presidência.
Joesley Batista x Temer
De acordo com a nota, Joesley tem motivos para ter ódio de Temer e de seu governo e citou episódio de outubro de 2016, quando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) impediu a transferência de domicílio fiscal do grupo do empresário para a Irlanda, "um excelente negócio para ele, mas péssimo para o contribuinte brasileiro".
O comunicado informa ainda que o próprio Joesley disse na gravação que tinha as portas fechadas no governo, que não se encontrava havia mais de 10 meses com o presidente e que reclamou do Ministério da Fazenda, do Cade, da Receita Federal, da Comissão de Valores Mobiliários, do Banco Central e do BNDES.
Temer afirma que o faturamento da família Batista cresceu com relação construída com governos do passado, mas que "toda essa história de ´sucesso´ é preservada nos depoimentos e nas entrevistas do senhor Joesley Batista".
No comunicado, Temer reclama ainda que ao fazer a delação "alcançou o perdão por todos seus crimes".
No final de maio, representantes da J&F e procuradores do Ministério Público Federal fecharam as bases de um acordo de leniência que prevê o pagamento de multa recorde no valor de R$ 10,3 bilhões por atos praticados por empresas controladas pela holding, uma delas a JBS. O acordo da J&F prevê 25 anos para o pagamento de todo o passivo.
"Os fatos elencados demonstram que o senhor Joesley Batista é o bandido notório de maior sucesso na história brasileira. Conseguiu enriquecer com práticas pelas quais não responderá e mantém hoje seu patrimônio no exterior com o aval da Justiça", conclui o comunicado.