Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 2025

João e José, Tonico e Tinoco: a voz mais famosa da música caipira emudece

Sexta, 04 de Maio de 2012 às 07:42, por: CdB
João e José, Tonico e Tinoco: a voz mais famosa da música caipira emudece

Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual

Publicado em 04/05/2012, 13:35

Última atualização às 13:38

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O site oficial da dupla comunica o falecimento de Tinoco, nome definitivamente ligado à cultura popular brasileira (reprodução)

São Paulo – “Agente tava acostumado a cantar na roça, pros amigos, nunca tinhaestrado num estúdio. Chegamo, ajeitamo a goela, o peito, e abrimo aboca. Pronto, o microfone estourou. O técnico veio, mexeu e remexeue disse 'tá estourado'. De castigo gravemo só um lado do disco, ooutro ficou com o Palmeira e o Piraci, que cantaram 'SaladaInternacional'”. Foi desse jeito que Tinoco contou como foi aprimeira experiência em estúdio com o irmão Tonico, em 1945. Ahistória consta do livro “Música Caipira – da Roça ao Rodeio”,da pesquisadora Rosa Nepomuceno.

Eram João e José, oprimeiro três anos mais velho, filhos da terra, nascidos no interiorpaulista e estabelecidos na capital em 1941, com as crescentesdificuldades enfrentadas no campo pela família Pérez. Instalaram-seno bairro paulistano da Mooca, carregando sacos de farinhas e deroupas amontoadas. O pai virou faxineiro, as irmãs, empregadasdomésticas. João foi capinar chácaras no distante bairro de SantoAmaro. José trabalhou em depósito de ferro-velho e como servente depedreiro.

Não estouravam sómicrofones. “As cordas eram frágil, era só pra você tocar umacatira. Quando arrebentava a gente passava muita vergonha, mascontinua tocando com metade delas”, contou Tinoco.

A mais famosa duplacaipira do Brasil, Tonico e Tinoco, se desfez em 1994, com a morte doirmão mais velho, que sofreu traumatismo craniano após cair daescada no prédio onde morava – na Mooca. Ele tinha 77 anos. Namadrugada de hoje, morreu Tinoco, de insuficiência respiratória,aos 91 anos. Na quarta, chegou a gravar para o programa de Inezita Barroso na TV Cultura – a apresentação deverá ir ao ar no próximo dia 20.

João/Tonico nasceu em 1917 em uma fazenda em São Manuel. José/Tinoco também nasceu em fazenda, no arraial de Guarantã, em Pratânia, na época distrito de Botucatu, em 1920. Os irmãos Pérez foram apadrinhados pelo capitão Furtado, pesquisador e produtor do universo caipira, o mesmo que já havia lançado Alvarenga e Ranchinho. De batismo, era Ariovaldo Pires, sobrinho de Cornélio Pires, lendário divulgador da música chamada de raiz. Capitão Furtado foi quem deu o nome definitivo à dupla de "espanhóis", que começou a fazer sucesso em meados dos anos 1940, após a gravação de Chico Mineiro. A primeira música que aprenderam, ainda na lavoura, foi outro clássico do mundo caipira, Tristeza do Jeca.

Foram 60 anos de carreira, mil gravações, 80 discos de 78 rotações (os chamados "bolachões"), 30 compactos, 80 LPs, 40 mil shows, 150 milhões de cópias vendidas. Resistiram à introdução da guitarra na música caipira. Em junho de 1979, viveram um momento de consagração ao se apresentarem no Teatro Municipal de São Paulo. O interior ganhava a imponente casa de espetáculos da capital. Um conquista que, no samba, foi assim narrada por Cartola em Tempos Idos: "Conseguiu penetrar no Municipal/ Depois de percorrer todo o universo". Assim foi com Tonico e Tinoco, a mais universal das duplas brasileiras.

 

 

 

 

 

 

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