Rio de Janeiro, 30 de Dezembro de 2025

Janot, até quando abusarás da nossa paciência?

Por Celso Lungaretti - Obcecado em ter uma cabeça presidencial para levar como troféu quando esvaziar as gavetas, Janot decidiu manter uma inútil guerrilha contra Temer, fazendo o Brasil inteiro refém de suas pirraças.

Quinta, 29 de Junho de 2017 às 01:58, por: CdB

Obcecado em ter uma cabeça presidencial para levar como troféu quando esvaziar as gavetas, Janot decidiu manter uma inútil guerrilha contra Temer, fazendo o Brasil inteiro refém de suas pirraças. 

Por Celso Lungaretti, de Sao Paulo:

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Janot não desiste, quer a cabeça de Temer
Quando o procurador-geral Rodrigo Janot, de braços dados com as Organizações Globo e contando com o aval do ministro do STF Edson Fachin para passar como um trator por cima da Constituição Federal, desencadeou uma guerra relâmpago para forçar a renúncia do presidente da República ou tanger a Justiça Eleitoral a condenar a chapa Dilma-Temer, estranhei a afoiteza com que foi lançada tal blitzkrieg: por que tanta correria, a ponto de ele ter aceitado sem restrição nenhuma, como prova válida, uma gravação ilegal, imperfeita e inconclusiva, negligenciando até a lição de casa de submetê-la à imprescindível perícia?! Não me caiu, de imediato, a ficha de que o fim do mandato de Janot estava tão próximo.
 
 
 
A tramoia fracassou, depois de virar o País de pernas pro ar; afetar profundamente os mercados, beneficiando a uns e prejudicando a outros (principalmente aqueles que não dispunham de informações privilegiadas e deixaram de se proteger adequadamente); comprometer a tênue recuperação econômica para o qual a economia brasileira marchava, de fôlego curto, claro, mas que daria um pequeno alívio aos coitadezas que arrancam os cabelos sob os rigores da recessão desde 2015; lançar sérias dúvidas sobre a lisura da Operação Lava-Jato, fornecendo o melhor trunfo que até agora caiu nas mãos dos políticos encalacrados, etc. O estrago foi enorme.
 
Qualquer cidadão com um mínimo de simancol cessaria imediatamente as hostilidades e tentaria passar tão despercebido quanto possível até setembro (quando Janot finalmente entregará o cargo). Mas, não ele! Obcecado em ter uma cabeça presidencial para levar como troféu quando esvaziar as gavetas, ele decidiu manter uma inútil guerrilha contra Temer, fazendo o Brasil inteiro refém de suas pirraças. 
Rodrigo Janot curtiu
 
Não importa que suas novas tentativas sejam cada vez mais capengas em termos legais; que sua decisão de apresentar duas ou três denúncias separadas se evidencie flagrantemente como uma tática de guerra psicológica e não uma iniciativa juridicamente justificável; nem dá a mínima para o fato de que um processo de impeachment, mesmo que os deputados federais aprovassem sua abertura (o que até as pedras das ruas sabem que não farão), levaria à substituição provisória de Temer pelo presidente da Câmara e depois à eleição pela via indireta de um presidente que governaria no máximo três trimestres, ou seja, muito barulho por (quase) nada.
 
Conforme notou o bom repórter Rubens Valente, da sucursal da Folha de S. Paulo, a primeira das denúncias-bomba apresentadas por Janot é recheada com vento: tenta envolver Temer no recebimento de R$ 500 mil por parte de seu antigo assessor Rodrigo Loures, mas não consegue provar em lugar nenhum que a grana da JBS foi parar no bolso do presidente. Ilações e conjeturas não bastam para o monumental passo que Janot quer dar, mas ele parece estar tão premido pelo calendário e transtornado com os fracassos que agora partiu para o vale tudo.
 
Antes mesmo de qualquer advogado, Valente já desconstruiu a denúncia do Janot:
"Ao restringir a denúncia de corrupção passiva contra Michel Temer ao recebimento de R$ 500 mil pelo ex-assessor Rodrigo Loures, a Procuradoria-Geral da República deixou exposta a maior fragilidade da investigação: a dificuldade de comprovar que o presidente foi o beneficiário final ou que solicitou o dinheiro... 
...A investigação foi curta, durou apenas dois meses. É comum grandes investigações da PF durarem até mesmo anos antes de uma denúncia.
Uma das consequências da pressa em concluir o caso (...) é a ausência, na denúncia, de laudos bancários ou tributários para comprovar conexões financeiras entre Loures e Temer. O caminho do dinheiro não foi desenhado na denúncia.
 ...a PGR não conseguiu demonstrar, nas 60 páginas da acusação, como seria a suposta operação monetária que beneficiaria Temer depois da chegada da mala a Loures. (...) Não há indício de relação financeira entre os dois...
As mais de 2.000 conversas telefônicas interceptadas com ordem judicial e a conversa gravada pelo empresário da JBS Joesley Batista com Temer em 7 de março não trazem a informação objetiva de que o presidente pediu os R$ 500 mil, mesmo que 'por intermédio' de Loures".
Até quando, Janot, abusarás da nossa paciência?!
 
AVISO AOS INSENSATOS: BRAVATA TEM HORA. E NÃO É AGORA!
O péssimo exemplo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, começa a dar seus frutos azedos.
Já que a suprema corte do País está consentindo em que ele promova um verdadeiro festival de arbitrariedades  no afã de derrubar no grito o presidente da República, os figurões do PT devem ter concluído que esse é o caminho das pedras: imporem, também no grito, a absolvição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, às vésperas de o juiz Sérgio Moro anunciar a sentença do primeiro processo finalizado do Lula, o presidente do PT de Patópolis... ôps, quer dizer, do Rio de Janeiro, Washington Quaquá, como um Donald Duck destrambelhado, grasnou:
"Queremos, a partir do Rio de Janeiro, dizer em alto e bom som: condenar Lula sem provas é acabar de vez com a democracia! Se fizerem isso, se preparem! Não haverá mais respeito a nenhuma instituição e esse será o caminho para o confronto popular aberto nas ruas do Rio e do Brasil!"
Poderíamos pensar que se tratasse apenas de um tico-tico (talvez seja mais apropriado dizer patinho) da política metendo os pés pelas asas. Afinal, quando era prefeito de Maricá (atualmente está inelegível devido a uma condenação por abuso de poder político) o tal Quaquá já chamava a atenção por, nas redes sociais, incitar seus seguidores a darem porrada nos adversários 
Quaquá imitando carcará: pega, mata e come!
Mas, a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, também insinuou uma ameaça: 
"Nossa militância segue atenta e mobilizada para, junto com outros setores da sociedade brasileira, dar a resposta adequada para qualquer sentença que não seja a absolvição completa e irrestrita de Lula".
Se o Quaquá e a Hoffmann têm a intenção oculta de se verem livres do Lula por um bom tempo, fizeram o certo: tal bravata ridícula poderá, isto sim, fazer o julgador pagar pra ver. Parafraseando os versos de uma ópera-rock sobre Cristo, isto é o que se esperaria de qualquer superstar...
O mais sensato, evidentemente, seria Lula manter a questão no terreno jurídico, sem blefes inverossímeis nem estardalhaço pueril, pois há um longo caminho entre a condenação em primeira instância e o cumprimento de uma pena de prisão. Se agir com tirocínio e sutileza, ele jamais verá o sol nascer quadrado.

Mas, como eu já disse noutras ocasiões, se evitar as grades, no caso dele, seria relativamente fácil, difícil mesmo será o PT ter um desempenho satisfatório nas eleições de 2018 caso o Lula não concorra. 
E se o Moro pagar pra ver?
A péssima performance nas eleições municipais de 2016 deve estar tirando o sono dos dirigentes petistas. Então, o empenho deles será no sentido de preservar a possibilidade de Lula disputar o pleito presidencial, mesmo estando carecas de saberem que pesquisas eleitorais realizadas 15 meses antes da ida às urnas são ilusórias. 

Mas, ainda que não se eleja (a possibilidade mais plausível, numa análise desapaixonada), Lula poderá fazer a diferença como puxador de votos, evitando um novo e acentuado encolhimento do partido.
Este é o xis da questão: terceiro mandato fora, não faria sentido nenhum Lula e seus apoiadores cutucarem a onça com vara curta, pois a cana é dura para septuagenários. 
Já para o partido, será melhor se ele correr todos os riscos, mesmo que prejudicando suas chances de não ter de cumprir pena de prisão.
E para o povo brasileiro? Aí a coisa pega: numa situação tão explosiva como a atual, estimular a militância petista a não acatar sentenças da Justiça, confrontando-a, poderá ter consequências terríveis. 
É uma briga que a esquerda não pode ganhar neste instante, então deveria fazer de tudo para a evitar. Quando os podres Poderes já estão mais do que desmascarados como meros biombos da dominação capitalista, perspectiva eleitoral nenhuma compensa o risco de, acendendo um fósforo no momento errado, botarmos fogo no circo, precipitando o advento de uma nova ditadura.
 
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia (Geração Editorial). Tem um ativo blog com esse mesmo título.

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

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