Rio de Janeiro, 29 de Dezembro de 2025

Iludido, Temer acredita que país vive um cenário de normalidade

Em sua passagem por Hamburgo, o presidente de facto, Michel Temer, nega que as crises política e econômica sejam reais.

Sexta, 07 de Julho de 2017 às 11:18, por: CdB

Em sua passagem por Hamburgo, o presidente de facto, Michel Temer, nega que as crises política e econômica sejam reais.

 

Por Redação, com agências internacionais - de Hamburgo, Alemanha

 

Presidente de facto empossado após o golpe de Estado, em Maio de 2016, e prestes a ser substituído no cargo também pela via indireta, Michel Temer disse, nesta sexta-feira, que não existe crise econômica no Brasil. Ele sequer reconheceu que o cenário político esteja deflagrado o suficiente para derrubá-lo. Temer desembarcou nesta manhã em Hamburgo, na Alemanha, para o encontro do G20.

— Crise econômica no Brasil não existe. Vocês têm visto os últimos dados. Pode levantar os dados e você verá que estamos crescendo no emprego, estamos crescendo na indústria, estamos crescendo no agronegócio. Lá não existe crise econômica — acredita ele.

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Temer (D) posa ao lado dos líderes do G20 e só. Todos os demais compromissos bilaterais foram cancelados

Questionado sobre se a crise política não atrapalharia, ele negou com um gesto movendo o dedo indicador.

PIB brasileiro

Ocorre, no entanto, que no último dia 30, o IBGE divulgou que o desemprego no Brasil é de 13,3% e atinge 13,8 milhões de pessoas. O dado foi considerado estável pelo instituto, em comparação ao trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2016, na outra ponta, houve alta de 20,4%, com um adicional de 2,3 milhões de pessoas desocupadas.

Já a produção industrial brasileira cresceu em maio pelo segundo mês consecutivo. A recuperação, porém, é considerada "pouco vigorosa" pelo IBGE. O ocupante do Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles, havia dito em Hamburgo, na véspera, que o governo manterá a previsão inicial de crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

No fim de junho, na capital paulista, Meirelles chegou a dizer que a economia cresceria menos do que o esperado neste ano. Ele afirmou, na época, que a previsão de crescimento do PIB em 2017 seria "um pouco menor" que 0,5%.

Sem clima

Temer participou, à tarde, de uma reunião dos Brics (grupo composto por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul), durante a qual adiantou que discutirá o ambiente com os demais países. Sobre o tema, o peemedebista foi vigorosamente repreendido pela premiê norueguesa, durante visita ao país na semana passada. A irrelevância do mandatário brasileiro, no entanto, não passou despercebida.

Os compromissos bilaterais foram todos cancelados, depois de ele dizer que não viajaria à Alemanha. Temer havia cancelado sua participação no G20, mas reavaliou a decisão na segunda-feira. O governo tenta, com sua visita, transmitir uma imagem de normalidade institucional, em meio à crise política.

Temer não tem nenhuma reunião bilateral prevista com outro líder internacional, nem se reuniu em Berlim com a chanceler alemã, Angela Merkel, algo que estava inicialmente planejado. O programa oficial distribuído à imprensa ainda registra como chefe da delegação brasileira o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e não Temer. Era o arranjo previsto caso o presidente não viajasse. O material na internet já foi corrigido.

Corrupção

A mudança climática é um dos grandes eixos dessa cúpula, que congrega os líderes das principais economias do mundo – são 19 países, incluindo EUA e Alemanha, somados à União Europeia. A visita de Temer a Hamburgo, com retorno previsto à tarde de sábado, coincide com as negociações em Brasília para barrar na Câmara a denúncia de corrupção passiva contra ele. A comitiva liderada por Temer tem cerca de 15 pessoas, incluindo embaixadores, assessores da Fazenda e a assessoria internacional do presidente, mais o cerimonial.

Do gabinete, estão confirmados o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o chanceler Aloysio Nunes. Este último, juntamente com seu partido, o PSDB, foi um dos fiadores do golpe parlamentar. O mesmo que depôs a presidenta Dilma Roussseff e colocou Michel Temer no poder. Ele criticou a legenda que ameaça desembarcar da base governista.

“Nem Lula nem Dilma tiverem esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição", postou no Twitter.

Na véspera, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o Brasil está à beira da ingovernabilidade. Ele expôs o desejo iminente de deixar a base aliada.

"Do ponto de vista dos interesses do Brasil, não poderia haver ocasião mais inoportuna para os recentes ataques de dirigentes do PSDB ao presidente da República, quando ele representa nosso país na Cúpula do G20", escreveu Aloysio no Twitter.

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