O governo palestino, liderado pelo Hamas, mandou, nesta sexta-feira, que sua nova milícia saia das ruas de cidades da Faixa de Gaza. A decisão foi tomada após confrontos dessa milícia com as forças do movimento Fatah, ligado ao presidente Mahmoud Abbas, terem alimentado temores sobre uma guerra civil na região.
E aparece dias depois de Abbas ter surpreendido o Hamas ao fazer um ultimato para que dê apoio a uma proposta de criação do Estado Palestino que, implicitamente, reconhece Israel. Caso isso não aconteça, Abbas prometeu convocar um referendo sobre a questão.
O presidente palestino deu um prazo de dez dias para o governo do Hamas concordar com a proposta, passando na prática por cima da liderança do grupo militante e abrindo as portas para um embate. O Hamas defende a destruição do Estado judaico e rejeitou os apelos anteriores de Abbas para a realização de negociações com Israel.
Youssef al-Zahar, líder da força de 3 mil homens do Hamas que atua na empobrecida Faixa de Gaza, afirmou à Reuters que o Ministério do Interior havia ordenado a retirada.
- Recebemos ordens para desocupar as ruas e para nos concentrar em certos locais a fim de estarmos prontos para entrar em ação quando for necessário enfrentar o caos - disse Zahar.
Segundo autoridades do governo, a ordem foi dada para baixar o nível de tensão nas relações com o Fatah. Ghazi Hamad, porta-voz do gabinete de governo palestino, afirmou que o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, um dos líderes do Hamas, havia telefonado para Abbas a fim de informar-lhe sobre a decisão.
Os confrontos entre o Hamas e o Fatah tornaram-se mais frequentes depois de a unidade de segurança ter começado a atuar, na semana passada. Segundo membros do governo, a nova força não seria desfeita, apesar dos apelos do presidente para que isso fosse feito, mas integrada em unidades regulares da polícia.
Abbas e o Hamas travam uma luta cada vez mais acirrada pelo poder desde que o grupo islâmico tomou posse, dois meses atrás, depois de vencer o Fatah nas eleições de janeiro.
Pressionando o Hamas, Abbas deu ao grupo um prazo de dez dias, a contar de quinta-feira, para concordar com um plano que prevê a criação de um Estado palestino vivendo pacificamente ao lado de Israel ou enfrentar, dentro de 40 dias, o que poderia se transformar em uma moção de desconfiança.
O Hamas, segundo um membro da liderança exilada do grupo em declarações dadas na sexta-feira, não seria "chantageado" para aceitar o plano.
Mohammad Nazzal não rejeitou a proposta de imediato, mas criticou Abbas por ameaçar colocá-la em um referendo.
- Entendemos esse referendo como um instrumento para pressionar o Hamas - disse Nazzal em Damasco.
A aprovação do plano por meio de uma votação popular poderia dar ao Hamas uma chance de moderar sua postura em relação a Israel e a quaisquer negociações de paz sem ter de mudar formalmente essa postura.
<b>DEBATE</b>
A proposta prevê um acordo de paz se Israel retirar-se de toda a Cisjordânia e de Jerusalém Oriental (parte árabe da cidade), territórios ocupados desde a Guerra dos Seis Dias (1967).
O plano foi elaborado em uma prisão israelense por líderes de várias facções palestinas, entre as quais o Hamas e o Fatah.
Israel não fez comentários sobre a proposta, mas sempre rejeitou abrir mão de toda a Cisjordânia, pretendendo manter intactos os grandes blocos de assentamento existentes ali. E o país afirma que Jerusalém é sua "capital eterna e indivisível".
As facções palestinas envolvidas no último dos dois dias de diálogo nacional convocado para diminuir as tensões nos territórios debateram na sexta-feira o ultimato de Abbas. Um parlamentar do Hamas, Mushir al Masri, afirmou à Reuters que todos os palestinos teriam de participar de um plebiscito do tipo, uma condição que dificultaria a realização dele. Muitos palestinos vivem em campos de refugiados espalhad