Rio de Janeiro, 16 de Dezembro de 2025

Guerrilheiros islâmicos abandonam a capital da Somália

Soldados do governo da Somália chegaram às cercanias da capital do país, Mogadíscio, em um comboio com vários veículos militares, depois da fuga de seus inimigos islâmicos. (Leia Mais)

Quinta, 28 de Dezembro de 2006 às 11:49, por: CdB

Soldados do governo da Somália chegaram às cercanias da capital do país, Mogadíscio, em um comboio com vários veículos militares, depois da fuga de seus inimigos islâmicos.

- As pessoas saúdam e acenam com flores para os soldados - disse à agência inglesa de notícias Reuters o morador Abdikadar Abdulle, acrescentando que as tropas passaram pela Universidade Nacional da Somália.

O deputado somali Mohamed Jama Fuuruh disse, por telefone, do porto da cidade, que o "governo conquistou Mogadíscio"

- Agora estamos no comando - comemorou.

Já Abdirahman Dinari, porta-voz do governo, foi mais cauteloso:

- Estamos assumindo o controle da cidade e vamos confirmar quando tivermos estabelecido o controle completo. Antes, ele havia dito que tropas etíopes e somalis controlavam as principais rotas de acesso à capital e que em pouco tempo a ocupariam.

A Etiópia começou uma ofensiva em larga escala no fim de semana em apoio ao governo interino da Somália, tomando terreno que estava nas mãos da milícia islâmica.

- Nós não deixamos a capital em caos. Nós partimos para evitar pesado bombardeio porque as forças da Etiópia estão praticando genocídio contra o povo somali - disse o líder da milícia União das Cortes Islâmicas (UCI), xeque Sharif Ahmed, à emissora de televisão Al Jazeera.

Centenas de homens armados que lutavam pela UCI tiraram seus uniformes e se submeteram ao comando de chefes de clãs, disse a agência norte-americana de notícias Associated Press (AP). Moradores de Mogadíscio dizem que ouviram intenso fogo de artilharia no norte da capital nas primeiras horas desta quinta-feira - nono dia de um conflito em que ambos os lados dizem ter deixado centenas de mortos.
 
Até esta quinta-feira, as milícias islâmicas ainda controlavam a cidade portuária de Kismayo 

Correspondentes afirmam que a partida da UCI deixa um vácuo de poder em Mogadíscio, despertando temores da volta de choques entre clãs que eram parte do cotidiano da cidade na década de 90.

A retirada ocorre depois que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não conseguiu chegar a um acordo sobre a retirada das forças estrangeiras da Somália.

Saques e violência

Moradores relataram saques e tiroteios na capital, e um líder do Conselho das Cortes Islâmicas da Somália (CCIS) disse que suas principais autoridades haviam fugido. Os militantes islâmicos haviam tomado em junho a cidade das mãos de grupos armados apoiados pelos Estados Unidos.

Dinari disse que os militantes islâmicos fugiram para a cidade portuária de Kismayu, ao sul, e que o governo agora controla 95 por cento do país, que fica no nordeste africano.

O parlamentar disse posteriormente à Al Jazeera que o governo havia declarado estado de emergência "para controlar a segurança e a estabilidade".

O dirigente do CCIS disse que a apressada retirada de seus funcionários foi uma manobra tática na guerra iniciada na semana passada contra as tropas etíopes que protegem o frágil governo somali, que tem apoio ocidental.

O CCIS havia levado uma aparente estabilidade a Mogadíscio ao impor a sharia (lei islâmica). Agora, militantes e moradores disseram que a capital vive um colapso com a saída das autoridades islâmicas.

Milícias pró-governo, que antes controlavam a cidade, disseram ter capturado vários prédios na madrugada de quinta-feira, inclusive o antigo palácio presidencial.

- A incerteza paira no ar. Meu maior temor é de que a capital sucumba à sua velha anarquia. O governo deve entrar agora e assumir -- é a melhor chance antes de a cidade cair novamente nas mãos de líderes de milícias - disse o morador Muktar Abdi.

Ao fugirem, os militantes islâmicos aparentemente tentam evitar o risco de batalhas campais nas ruas, uma situação que há mais de dez anos obrigou os EUA a retirarem suas tropas de lá, depois do humilhante incidente retratado no filme Falcão Negro

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