Premiê grego compara país a "barril de pólvora"; povoados turcos são destruídos em minutos. Calor, seca e ventos propiciam fogos descontrolados, mas falta de infraestrutura os agrava, e há indícios de ação criminosa.
Por Redação, com DW - de Bruxelas
A Grécia segue combatendo os incêndios que, nos últimos cinco dias, já devastaram milhares de hectares de florestas. Na madrugada deste sábado registou-se uma morte e diversas áreas tiveram que ser evacuadas.
Até o início da tarde (hora local) o corpo de bombeiros havia controlado mais de 420 deflagrações em áreas urbanas e 91 em zonas florestais, além de receber 90 chamadas de ajuda e assistência. O vento dificulta seriamente o combate às chamas.
Na vizinha Turquia, incêndios descritos como os piores em décadas atingiram partes da costa sul do país nos últimos dias, causando pelo menos dez mortes. O povoado rural Kalemler, na província de Antália, teve 67 de suas 150 casas incineradas. Moradores relatam como, em poucos minutos, as chamas consumiram prédios, olivais, animais e equipamento agrícola.
A autoridade florestal turca declarou que, desde 28 de julho, 217 incêndios foram controlados em mais de metade das províncias do país, e que os bombeiros continuam a combater seis focos em algumas províncias neste sábado.
"Barril de pólvora"
A Grécia está sendo atingida por uma onda de calor considerada a mais prolongada em três décadas, com temperaturas de até 45 ºC. Embora estas tenham diminuído na sexta-feira, a intensidade do vento aumentou, agravando a situação. O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis alertou que algumas regiões passavam por uma situação "sem precedentes", já que "os últimos dias de calor e seca transformaram o país num barril de pólvora".
Devido à exaustão que toma conta de suas forças de combate ao fogo, o governo grego solicitou ajuda ao sistema de apoio de emergência da União Europeia. Bombeiros e aeronaves chegaram da França, Ucrânia, Chipre, Croácia, Suécia e Israel, e são esperados outros da Romênia e Suíça.
Um voluntário de 38 anos foi atingido pela queda de um poste enquanto combatia o fogo nos subúrbios ao norte da capital Atenas. Dois bombeiros também se encontram em estado crítico, com queimaduras no aparelho respiratório.
Um grande dispositivo foi mobilizado para controlar o fogo na região de Ática, onde foram queimadas casas e propriedades em diversos bairros, enquanto novas frentes surgem em torno de uma rodovia, devido às fortes rajadas de vento que atingiram a área na sexta-feira.
Suspeitas de fogo criminoso
Segundo o chefe da Proteção Civil de Ática, Yorgos Patulis, os incêndios catastróficos não podem ter sido acidentais, já que vários cilindros de gás foram encontrados na área devastada no sopé do Monte Parnés.
Na sexta-feira à noite, o vice-ministro da Proteção ao Cidadão, Nikos Jardaliás, anunciou três detenções relacionadas aos incêndios: um homem de Kalamata, no Peloponeso, e uma mulher do centro de Atenas, acusados de iniciar incêndios, e outro em Phocis, no centro do país, por negligência na queimada de capim.
No Peloponeso e na ilha de Eubeia, a situação também continua grave apesar de ter chovido durante uma hora na manhã de sábado. Os ventos fortes estão propagando as chamas para sudoeste, após terem devastado o norte da ilha, colocando em risco a capital, Cálcis.
O governador da Grécia Central, Fanis Spanos, criticou a falta de recursos aéreos e terrestres que permitiu ao fogo se propagar de forma descontrolada nos primeiros dias, quando o vento não era tão forte como agora. Na sexta-feira à noite, mais de 600 moradores tiveram que ser retirados de balsa de Eubeia pela Guarda Costeira.
Outro grande incêndio ocorreu na região de Mani, no sul do Peloponeso. Segundo a vice-autarca Eleni Drakoulakou, falando à emissora ERT, 70% da região foi destruída: "É uma catástrofe bíblica. Estamos falando de três quartos do município."