Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Grécia assume a presidência da União Europeia

Arquivado em:
Quarta, 08 de Janeiro de 2014 às 10:27, por: CdB
grecia.jpg
Durão Barroso e Antonis Samaras: os gregos assumem a quinta presidência europeia desde a adesão do país à UE, em 1981
A União Europeia (UE) da crise está cheia de ironias e paradoxos. Nesta quarta-feira, a Grécia assume a presidência rotativa da EU no momento em que é novamente questionada pela Troika (FMI, Comissão Europeia, Banco Central Europeu) pelo fracasso dos planos de ajuste e pela iminência de um novo resgate. Ao mesmo tempo, a inflação dos 17 países que formam a zona do euro caiu e os comentaristas quebram a cabeça: longe de ser uma boa notícia, a queda dos preços consolida o temido fantasma da deflação. O editor associado do Financial Times, o alemão Wolfgang Munchau, é pessimista. “E crise do euro não terminou, mas em certo sentido ela mudou. O debate sobre a política a seguir está terminado. Não haverá uma União Bancária ou mutualização da dívida e quanto ao ajuste se seguirá com a austeridade e a deflação na periferia. O ajuste recém está começando. E a dívida será reduzida pagando-a, não por meio da inflação, de uma moratória, ou de um perdão”, escreveu segunda-feira. Quanto à deflação, a Agência de Estatisticas europeia (Eurostat), confirmou o dado nesta terça-feira. A inflação na zona do euro caiu de 0,9% em novembro para 0,8% em dezembro, cada vez mais longe da meta de 2% pretendida pelo Banco Central Europeu (BCE). Em outubro passado havia caído pela primeira vez desde 2010 para menos de 1% e se manteve ali desde então. “A deflação é terrível para a acumulação capitalista. O capitalista é dinâmico quando os preços sobem. Quando baixam, diminuem os lucros que se necessitam para manter o nível de investimento e produtividade”, disse à Carta Maior o economista grego Costas Lapavitsas, da Universidade de Londres, autor de “Financialization: profiting without producing” (Financeirização: lucros sem produção). Neste quadro, a zona do euro tem que seguir por esse beco sem saída que é pagar a dívida (em média, 93,4% do PIB de 17 países, cerca de 4% a mais que em 2012), com uma mescla de ajustes e resgates que não deram resultado nestes quatro anos. A Grécia é o melhor exemplo. Desde seu primeiro resgate em maio de 2010, não conseguiu sair da recessão e seu Produto Interno Brito (PIB) caiu cerca de 21%, quase o dobro da queda experimentada pela Argentina com o fim da convertibilidade em 2001-2002. E o perfil de sua dívida melhorou? Em nada. A dívida grega hoje é 169% do seu PIB. “A Grécia vive uma crise humanitária pior que a Argentina no fim da convertibilidade. A pobreza absoluta e relativa cresceram. O sistema de saúde colapsou, as pessoas não podem manter a calefação, os bancos de alimentos estão na ordem do dia”, assinala Lapavitsas. A Grécia não está sozinha. Na Espanha, a Caritas fala de três milhões de pessoas em “pobreza severa” (renda inferior a 307 euros por mês). Em Portugal, 18% vive abaixo da linha da pobreza, segundo cifras oficiais, e até em países fundadores do projeto pan-europeu como a Itália, o número de pobres duplicou entre 2007 e 2012, situando-se em torno de cinco milhões de pessoas. O editor associado do Financial Times é categórico a respeito do que tem pela frente a Itália, cuja economia se contraiu 1,8% no ano passado. “Segundo o acordo fiscal da zona do euro, a Itália tem que pagar 70% de sua dívida nos próximos 20 anos. Isso requer um superávit fiscal primário – antes do pagamento dos juros da dívida – que nunca foi alcançado nem em montante nem na duração dos pagamentos”, diz Wolfgagn Munchau. No mundo desenvolvido as economias anglo-saxãs alardearam seu êxito graças ao fato de que Estados Unidos e Reino Unido estão crescendo mais que a zona do euro. Mas os EUA estão experimentando a recuperação econômica mais débil dos últimos 90 anos, baseada em uma bolha imobiliária e em um boom creditício com altíssimos níveis de pobreza. E o Reino Unido não fica atrás, registrando 20% de aumento das buscas dos bancos de alimentos de organizações de caridade. No caso britânico, cabe apontar uma ironia adicional. O crescimento se deve ao aumento do consumo que está sendo financiado com a indenização que os bancos estão pagando aos seus clientes pela venda de produtos financeiros fraudulentos. - Os consumidores estão gastando mais graças ao fato de que há mais crédito (umas três quatro partes do consumo é feita a crédito) e às compensações PPI. Nos últimos 18 meses, os bancos pagaram 12 bilhões de libras em compensações. É uma injeção equivalente a 1% do PIB, mais do que o governo aportou desde 2008. Esse dinheiro não vai durar”, assinala o diretor econômico da BBC, Robert Preston. Em meio a este panorama, o novo presidente rotativo da UE, Grécia, pode disparar o princípio do fim antes que termine seu período de governo, no final de junho. - Em maio há eleições para o parlamento europeu que nos darão uma ideia se existe apoio às políticas de ajuste em países como Itália e outras nações periféricas”, assinala Muchau. Na Grécia, estas eleições podem ser cruciais porque um partido de esquerda anti-austeridade, Syriza, está à frente das pesquisas e a coalizão governamental dos socialistas do Pasok e seu inimigo histórico, a direita da Nova Democracia, perdeu muito apoio. “É muito possível que a coalizão se saia muito mal e que Syriza obtenha muita vantagem. Se isso ocorrer será muito difícil para a coalizão seguir governando e implementando todas as medidas de ajuste e cortes pactuados com a Troika. Neste caso é muito possível que tenham que chamar eleições - aponta Costas Lapavitsas. Sobre uma coisa não resta dúvida. Um ano cheio de emoções aguarda a União Europeia, a zona do euro e seu novo presidente rotativo, a Grécia.
Tags:
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo