“O impeachment da presidente ou presidenta Dilma, foi um golpe de Estado que envolveu os três Poderes da democracia burguesa brasileira”, disse o general Meirelles
Por Redação, com Julio Cesar de Freixo Lobo-Jornal Inverta - do Rio de Janeiro
General de Brigada e anistiado político, o militar da reserva Bolivar Meirelles rompeu o silêncio para comentar sobre a situação política do país. Em entrevista ao Jornal Inverta, ele falou sobre sua luta durante vários períodos da história do Brasil. Lembrou sua cassação política com o golpe de 1964 e a sua volta à vida política e social, após a redemocratização.
O militar fez uma análise sobre a atual conjuntura nacional e internacional e o golpe de 2016 contra a presidenta cassada Dilma Roussef, que alinhou o Brasil novamente aos EUA no cenário global.
Leia, adiante, um trecho da entrevista reproduzida aqui, no Correio do Brasil:
— Como o senhor vê a atual conjuntura política do Brasil com o impeachment da presidente Dilma Roussef eleita pela população e a posse do atual presidente (de facto) Michel Temer?
— O impeachment da presidente ou presidenta Dilma, foi um golpe de Estado que envolveu os três Poderes da democracia burguesa brasileira. Tivemos como base do golpe, fundamentalmente, os mesmos interesses econômicos que deram o golpe de Estado, em 1964 (o Grande Capital, principalmente financeiro, mas não só nacional e internacional; a base política conservadora brasileira e norte-americana).
Ficou clara a forte atuação da mídia conservadora, principalmente da Rede Globo, como agente de Propaganda. Agregue-se a isso uma forte ignorância das camadas médias da população, principalmente médias altas. O Michel Temer foi usado e é passível de descarte. Foi a maneira de darem uma falsa ideia de um golpe legal, pelo simples fato dele ser o vice-presidente.
Eu, particularmente não votava no PT em primeiro turno, votei no Brizola, no PDT e até em Garotinho, pelo PSB ainda não traidor e, no PT em segundo turno. Votei em Dilma na primeira eleição. Na segunda, votei Mauro Iasi pelo PCB e em Dilma, contra o Aécio, no segundo turno. Pouca esperança tenho no PT como instrumento de libertação do povo brasileiro do jugo capitalista. Agora, o que vemos hoje é um massacre assimétrico contra o PT, nos campos político, jurídico, parlamentar, executivo e midiático. Como se o PT fosse o inventor da corrupção permanente e inerente ao Sistema Capitalista.
Posição estratégica
— Qual a sua análise sobre a conjuntura política da América Latina atualmente? E como o Brasil poderia ajudar a encontrar soluções para a ofensiva neoliberal na região que aumenta a miséria da população e a desigualdade entre pobres e ricos?
— Na América Latina atual, há um tentativa de ser criada, após alguns governos relativamente independentes do Império do Norte, a hegemonia norte-americana. Como área de influencia econômica e política. Alguns governos na América Latina, dentre os quais o Brasil, Honduras, Paraguai, já sofreram o golpe de Estado atual. Sem o envolvimento direto das Forças Armadas.
Agora mesmo, estamos vendo o Brasil governado pelo golpista Michel Temer, articular uma manobra militar na Amazônia com os EUA. Uma tentativa de constranger a Venezuela, o Equador e a Bolívia. O quadro da América Latina, agregada a formação dos BRICS é uma tentativa de realinhamento do continente sul-americano à zona de influência norte-americana.
A riqueza sul-americana, a posição estratégica, a Base de Alcântara, são fatores da cobiça dos EUA. No caso particular do Brasil, o pulmão do mundo ressente-se do oxigênio gerado na grande floresta da Amazônia. Do estoque aquífero brasileiro, de seu petróleo. E das 97% das reservas de Nióbio do mundo. Sem falar no ouro, no diamante, na biodiversidade de nossa flora e fauna e outros fatores.