O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu cumprir o "crescimento espetacular" prometido em 2002, e o Brasil perdeu o passo, em comparação a Rússia, Índia e China, publicou o diário conservador britânico Financial Times, em sua edição desta quinta-feira. A média de crescimento anual do país desde 2000 foi de 2,7%, contra 9,4% da China, 6,7% da Rússia e 6,5% da Índia, segundo o jornal.
Ricardo Amorim, diretor do departamento de análise da América Latina do banco WestLB, em Nova York, citado pelo jornal britânico, disse que o Brasil se parece cada vez mais com uma "economia submergindo", em vez de uma emergente. Com isso, o jornal aponta a importância do plano de crescimento econômico, anunciado em janeiro pelo presidente Lula, no início de seu novo mandato. Com um aumento dos gastos em estradas, portos e outras infra-estruturas, e a introdução de novos incentivos ao investimento, o governo brasileiro acredita que o país poderá alcançar um crescimento anual de 5%, sem arriscar a estabilidade econômica e financeira.
A ênfase em infra-estrutura é um elemento central da nova estratégia, diz o jornal, já que nos últimos anos, devido à necessidade do Governo de estabilizar suas finanças para controlar a dívida, os investimentos públicos diminuíram bastante. Mesmo incluindo os investimentos da Petrobras, os investimentos em capital foram inferiores a 3% do PIB, percentagem muito inferior à de alguns países asiáticos de rápido crescimento econômico. Em declarações ao jornal, o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, afirmou que os novos investimentos em infra-estrutura "mobilizarão a indústria da construção, que esteve parada durante vários anos, e dinamizará a economia".
Mas a escassez de investimentos não é a única barreira ao crescimento enfrentada pelo Brasil, diz o jornal. Muitos economistas afirmam o problema que as leis trabalhistas restritivas representam, empurrando cerca de 60% da força de trabalho para o setor informal. No setor público, acrescenta o jornal, as escalas salariais inflexíveis e que consideram apenas a idade inibem incentivos baseados em resultados, que poderiam, por exemplo, melhorar os padrões da educação pública. Outros obstáculos incluem um sistema fiscal proibitivo, e um sistema judiciário que não funciona satisfatoriamente.
O ministro Mantega reconhece que o Governo sabe da necessidade de eliminar os impedimentos burocráticos ao crescimento, e traz novidades recentes, como uma lei para as pequenas e médias empresas, que simplifica e acelera o pagamento de impostos. Mantega também se mostra otimista em relação ao impacto de uma reforma tributária mais ampla: os brasileiros pagam atualmente 39% do PIB em impostos, mais do que muitos países desenvolvidos, e o dobro de muitas das nações de sua categoria, diz o jornal. A carga fiscal está distribuída desigualmente, e a qualidade dos serviços públicos é tida freqüentemente como "lamentável".
O ministro explica o plano do Governo de fundir todos os impostos indiretos em um só imposto nacional sobre o valor agregado. Para isso, no entanto, será necessário o apoio dos governadores, segundo o jornal. Contudo, os críticos acham que essas medidas não são suficientes, e muitos deles chegaram à conclusão de que o Governo está cada vez menos convencido de que a ortodoxia econômica é o caminho a ser seguido. O Governo, diz o jornal, "parece estar perdendo a disciplina fiscal que manteve durante o primeiro mandato de Lula", quando Antônio Palocci era o ministro da Fazenda.
Desde a queda de Palocci, em conseqüência de um escândalo de corrupção, o Governo concedeu "generosos aumentos salariais aos funcionários públicos, e aumentou muito o salário mínimo em relação à inflação". Em vez de reduzir as despesas e promover reformas trabalhistas e na previdência, o Governo confia agora inteiramente no poder dos investimentos, para aumentar a atividade econômica.