"Senador Renan Calheiros confirma o que sempre denunciamos: Eduardo Cunha levou a cabo o golpe para governar por trás de Temer, até da cadeia”. A declaração é da presidenta cassada Dilma Rousseff (PT).
Por Redação - de Brasília
Após deixar a Liderança do PMDB, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) comentou com interlocutores, na manhã desta quinta-feira, que nunca havia “acordado tão bem nos últimos tempos”. A disposição para colaborar para a aprovação das denúncias contra o presidente de facto, Michel Temer, nunca esteve tão afiada. Ainda assim, o senador alagoano conhece suas limitação na Câmara, segundo afirmou uma fonte à reportagem do Correio do Brasil.
— Na Câmara prevalece o PMDB do Cunha. Mas mesmo este grupo está dividido, por causa das eleições. Quem pretende se reeleger, quer distância de Temer. O mesmo ocorre na bancada do PSDB na qual, se Temer perder a maioria, corre o risco de não chegar aos 172 votos necessários para barrar a denúncia — afirmou
Cunha, presidiário
Mesmo a presidenta cassada Dilma Rousseff (PT), que tem se mantido no ostracismo durante a pior crise política na História moderna do país, manifestou-se sobre o cenário de crise. Pelas redes sociais, nesta quinta-feira, confirmou que a situação brasileira é mais esdrúxula do que simplesmente ter o sucessor na Presidência denunciado por corrupção.
Dilma lembrou, em sua conta no Twitter, o discurso feito na véspera pelo senador Calheiros, quando entregou o cargo de líder do PMDB. Ele afirmou que o Brasil, na verdade, é governado pelo presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que daria ordens em Temer da cadeia.
"Senador Renan Calheiros confirma o que sempre denunciamos: Eduardo Cunha levou a cabo o golpe para governar por trás de Temer, até da cadeia", postou Dilma Rousseff. "Cabe ao STF julgar a flagrante ilegalidade do impeachment que propiciou o absurdo de termos um governo dirigido desde a cadeia", acrescentou.
Estrago político
A renúncia de Calheiros provocou um “estrago político” nas hostes do PMDB, segundo fonte. Ao deixar o cargo, disse não ter vocação para "marionete”. Ele afirmou que Michel Temer não tem credibilidade para conduzir as reformas trabalhista e da Previdência. Calheiros as considera "exageradas" e "desproporcionais", num discurso que buscou provocar mais desgaste ao governo.
Renan deixou o comando da bancada, majoritariamente favorável às reformas que o governo vem conduzindo — especialmente à trabalhista —, voltou a criticar o governo por ser "comandado" por Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, preso na operação Lava Jato. E recomendou que Temer renuncie.
— Devolvo agradecido aos meus pares o honroso cargos que me confiaram — disse o senador.
Aceitar ou reagir
Ele não estaria disposto “a liderar o PMDB atuando contra os trabalhadores e os Estados mais pobres da Federação". A impossibilidade de senadores promoverem mudanças na reforma trabalhista "degrada o bicameralismo", disse. Renan argumentou que não poderia permanecer na liderança sob a pena de "ceder" a um governo que trata o PMDB como um "departamento do Executivo".
O senador sugeriu ainda que se instalou em seu partido um ambiente de "perseguição". De "intrigas" e "ameaças" contra quem "não reza a cartilha governamental".
— Cabe-nos aceitar a situação ou reagir a ela. Não tenho a menor vocação para marionete — reafirmou.
‘Prefiro renunciar’
Mais adiante, usou cores ainda mais fortes contra o inquilino do Palácio do Planalto.
— Sinceramente, não detesto Michel Temer. Não é verdade o que dizem, longe disso. Não tolero é a sua postura covarde diante do desmonte da consolidação do trabalho — afirmou.
Renan disse ser um "erro" de Temer achar que poderia governar sob influência de um "presidiário" (Cunha); além de ameaçar que poderia trocar as indicações da Comissão e Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, onde deve ser votada nesta quarta-feira a reforma trabalhista.
O senador acrescentou que se fosse para defender essa proposta, preferiria renunciar ao cargo.