O fim do governo Temer passou a ser tratado como objetivo prioritário em segmentos da então ‘base aliada’.
Por Redação - de Brasília
Presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) já mostra as garras ao atual inquilino do Palácio do Planalto, Michel Temer, sem medo de ser repreendido. Maia declarou que “o rei está nu”, na manhã desta terça-feira, após o novo adiamento do anúncio sobre o rombo fiscal recorde no país. A declaração do primeiro nome na escala sucessória, no entanto, apenas resume o quadro de volatilidade instalado no Parlamento.
Temer empenhou cerca de R$ 15 bilhões em emendas parlamentares, destinadas a obter os votos necessários para seguir adiante com o mandato. A manobra lhe garantiu a suspensão de um eventual julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), por acusações no âmbito da Operação Lava Jato. Haverá uma segunda denúncia, se depender do procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. E antes de deixar o cargo, no mês que vem.
Com menos de 30 dias para se defender da nova saraivada de flechas de bambu, expedidas pela PGR na direção do Palácio do Planalto, Temer ainda não conseguiu pagar a dívida anterior junto aos deputados da então ‘base aliada’ que salvaram seu mandato. O tom das cobranças aumenta na mesma proporção das críticas de Maia. Se assumir o posto, fica até março do ano que vem.
Em queda
A exposição na Presidência da República, se conseguir levar adiante a reforma da Previdência — a contento dos investidores nativos e internacionais — valerá a Maia o cacife político necessário para concorrer ao governo do Estado do Rio de Janeiro. É onde mantém sua base eleitoral. Maia tenta, enquanto isso, um apoio mais firme do PSDB. Negocia, ainda, com os mesmos setores da esquerda que o ajudaram na sucessão do hoje presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na direção da Casa.
Fiel da balança, os parlamentares da extrema-direita ainda negociam uma passagem mais fluida no governo Temer. Buscam, justamente, os cargos ocupados por aqueles tucanos representados por Aécio Neves; senador mineiro que acompanha o peemedebista no ranking de políticos denunciados por corrupção. A paciência deles, no entanto, tem sido colocada à prova. Além das emendas parlamentares empenhadas, mas não liberadas, efetivamente, pela completa falta de recursos no caixa da União; os cargos prometidos ainda não foram publicados no Diário Oficial.
Ainda nesta terça-feira, os procuradores que atuam na Operação Lava-Jato reuniram-se com os advogados do doleiro Lúcio Bolonha Funaro. Fechavam os detalhes finais do acordo de delação em curso. Trata-se de um dos principais cúmplices de Eduardo Cunha, nos crimes cometidos contra os cofres públicos.
Rocha Loures
Uma vez repassados os termos da delação, as confissões de Funaro tendem a agravar a situação jurídica de Temer. Levará, junto, um número ainda não especificado de parlamentares; principalmente aqueles mais próximos do peemedebista. Uma vez autorizado, legalmente, Funaro iniciará seu depoimento sobre cada processo, individualmente.
Funaro pode incriminar Temer tanto direta quanto indiretamente. Em uma conversa preliminar com os delegados, há algumas semanas, Funaro adiantou que as acusações do empresário Joelsey Batista contra Temer têm total fundamento. O doleiro confirmou que o ex-deputado Geddel Vieira Lima, integrante do primeiro escalão do Palácio do Planalto, atuava como interlocutor de Batista no governo.
Assim sendo, a substituição de Geddel pelo ex-assessor Rodrigo Rocha Loures na intermediação dos interesses da JBS teria todo sentido. Na gravação, Temer indica Rocha Loures como sucessor do político baiano “para tudo”; todos os assuntos referentes à prisão de Funaro e Cunha. A conversa gravada marca o início da delação do empresário e de mais seis executivos da JBS contra Temer e seus parceiros. E o fim do governo que sustenta o golpe de Estado, em curso há mais de um ano.