Capital cearense possui infeliz tradição de acolher bandidos do Rio, desde os tempos de Uê.
Cidade onde Joca acabou preso, Fortaleza já foi o ponto escolhido por outros chefões do tráfico para se refugiar e lavar dinheiro. Todos usavam documentos falsos e dificilmente eram identificados. Para capturá-los, a polícia do Rio teve que se deslocar até o Nordeste.
Em março de 1996, Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, foi preso quando se encontrava hospedado em um hotel na Avenida Beira-Mar, na região litorânea do Ceará. Um dos fundadores da facção Amigos dos Amigos (ADA), Uê estava em Fortaleza para montar uma nova ramificação da sua quadrilha. Seis anos depois, o traficante acabou morto dentro do presídio Bangu I por seu maior rival, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Em 1998, Francisco Carlos da Conceição, o Kiko Russo, acusado de ser o líder do tráfico de drogas no Morro da Ititioca, em Niterói, foi preso por policiais da 40ª DP (Honório Gurgel) no modesto município de Ipu, a 300 quilômetros de Fortaleza. Na cidade de dez mil habitantes, ele se fazia passar por comerciante. Chegou a ser dono de um bar e a comprar uniformes para um time de futebol de várzea.
Alexander Mendes da Silva, conhecido como Polegar, foi preso, em 2002, em Fortaleza por uma equipe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) em operação secreta. Ele era acusado de ter ajudado 14 traficantes do Comando Vermelho (CV) e outras 20 pessoas a fugir de carceragem da Polinter um ano antes.
Em maio de 2005, Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho, um dos líderes do CV, foi detido em Fortaleza, onde se escondeu por três meses em um casarão que havia comprado. Da cidade, comandava bocas-de-fumo em cinco favelas do Rio: Grota, no Complexo do Alemão; Mandela, em Manguinhos; e Antares, Rola 1 e Rola 2, em Santa Cruz.
No Nordeste, Dinho Porquinho usava três nomes falsos e tinha carteira cadastrada na Secretaria de Fazenda do Ceará, que o apontava como dono de farmácia.
Bem-Te-Vi importou ‘cangaceiros’
Um esquema de ‘importação de cangaceiros’ do Ceará já foi investigado anteriormente por policiais do Serviço Reservado do 23º BPM (Leblon). O traficante Bem-Te-Vi, ex-chefe da Rocinha, tentou reforçar em 2005 a sua quadrilha com cerca de 100 homens nascidos nas cidades de Varjota, terra natal do bandido, Independência e Nova Russas, localizadas no sertão nordestino.
De acordo com policiais que investigaram a ‘conexão Nordeste’, a preferência do traficante era por homens com idades entre 18 e 30 anos. Eles receberiam ainda passagens de ônibus dos bandidos cariocas. Os trabalhadores eram seduzidos, pois moravam em áreas assoladas pela seca. — Muitos nem tinham envolvimento com o crime no Ceará, mas se iludiram com a idéia de sair de um lugar muito pobre e vir morar no Rio — afirmou, na época, um policial.
Para o recrutamento, Bem-Te-Vi usava um homem de confiança identificado como Jiló. Mas um desentendimento fez com o chefe da Rocinha expulsasse Jiló da comunidade.
Mais prisões preventivas
A Polícia Civil de Fortaleza vai investigar quais eram as relações de Joca na cidade cearense. A operação que desencadeou a prisão do criminoso continua em outros estados. Mais prisões estão previstas para as próximas semanas.
O subsecretário de Segurança Pública do Ceará, José Nival Freire, elogiou a atuação dos policiais cariocas. — Foi um trabalho de inteligência e muito bem articulado. Acho que a polícia tem que trabalhar assim, de forma integrada contra a criminalidade — comentou ele.
Vários bandidos cariocas estão presos no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), no Ceará. A cadeia, de segurança máxima, tem uma ala, conhecida como “selva de pedra”, onde ficam os traficantes de organizações criminosas de São Paulo e do Rio. A p