Rio de Janeiro, 14 de Dezembro de 2025

Facebook, censura política e a ditadura

Por Celso Lungaretti - Ao anunciar meu artigo no domingo 26, fui impedido: "essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".

Segunda, 03 de Agosto de 2015 às 12:00, por: CdB
Por Celso Lungaretti, de São Paulo Não sou de ficar anunciando de 10 em 10 minutos os meus artigos no Facebook e no Twitter, como vejo muitos fazerem. Posto-os apenas uma vez, pois detesto esses artifícios típicos da propaganda, "quanto mais aparecerem, maior a chance de serem notados", etc. Mesmo assim, há internautas com índole totalitária tentando fazer com que não apareçam sequer uma vez. Ao anunciar meu artigo no domingo 26, fui impedido:  "essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".
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Como funciona a censura no Facebook
Os mesmos que vira-e-mexe tiram o meu blogue do ar, fazendo-me perder uns 15 minutos para reativá-lo, agora empenham-se em excluí-lo do Facebook. Direitistas ou governistas dá no mesmo, têm alma de censores. E do tipo fanáticos, como os do Santo Ofício, não meros tarefeiros na linha da dª Solange da ditadura militar. Quanto ao Facebook, é moderninho por fora e medieval por dentro. Quer dizer que qualquer ação concertada de inimigos políticos é suficiente para tirar-se um articulista do ar, sem comunicação prévia nem chance nenhuma para apresentar defesa?! Torquemada vive. Obs. Por curiosidade, tentei divulgar esta denúncia há poucos minutos e o Facebook a aceitou. Tentei novamente anunciar o artigo político e constatei que continuava embargado. Ou seja, trata-se de um bloqueio automático, que é ativado quando existe tal ou qual palavra no texto. Qualquer semelhança com a burrice e prepotência da censura dos milicos nos anos de chumbo não é mera coincidência. SEGUE O ARTIGO CENSURADO

SE PLANTAR MAIS DO MESMO, DILMA COLHERÁ MAIS DO MESMO.

Continuam viajando na maionese Dilma Rousseff e a ala chapa-branca do PT (aquela que não dá a mínima para as bandeiras históricas do partido e adere até ao neoliberalismo quando isto lhe convém).
A presidenta vinha evitando aparições na TV com dia e hora marcados, para que os adversários não convocassem humilhantes panelaços. Mudou de idéia e dará a luz de sua (des)graça no próximo programa do PT, que vai ao ar no dia 6, em rede nacional. Alguém dúvida de que os opositores articularão, nas redes sociais, o panelaço mais barulhento de quantos houve até agora?
Ela decidiu também que procurará cativar os governadores e líderes da oposição, no sentido de que abracem a causa da governabilidade e orientem suas bancadas a não abrirem mais rombos na canoa furada do ajuste do Levy.
Haverá muita discurseira engana-trouxas e, noves fora, os parlamentares vão continuar defendendo apenas seus interesses, não os do povo ou do País. Dilma dá a impressão de que ainda crê em Papai Noel e coelhinho da Páscoa...
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos alvos da ofensiva dilmista e lulista, já disse que "o momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo". Raposa velha não atira boias para inimigo que está afundando.
Enfim, o PT continua acreditando que atingiu seu pior momento em 35 anos de existência por causa da superexposição dos escândalos de corrupção na grande mídia (adversa como sempre!), de erros na forma de comunicar-se e de não haver sido suficientemente persuasivo na cooptação dos rivais.
Enquanto insistir na auto-ilusão, seguirá em direção ao abismo. A direita golpista, começando pelo Reinaldo Azevedo, exultou com a notícia de que a Dilma sairá da sua reclusão para receber mais tortas na cara. Com sua teimosia em considerar correto e imutável tudo que fez até agora, ela não para de levantar bolas para o time adversário marcar pontos.
Vou repetir mais uma vez, talvez alguém a bordo do Titanic finalmente me escute: o iceberg que afundará o governo atende pelo nome de recessão. E recessão é o pseudônimo do Joaquim Levy. Enquanto o cidadão comum sentir-se empobrecendo dia a dia, rejeitará Dilma e o PT na mesmíssima proporção.
Então, não adianta querer sair do buraco com mais do mesmo, pois o resultado será... mais da mesma rejeição estratosférica atual.
Para salvar-se, Dilma terá de devolver o Levy à sua insignificância, anunciar uma guinada de 180º na política econômica e tentar reconquistar o apoio popular.
Se depender dos banqueiros, dos ruralistas, dos grandes capitalistas em geral, das parlamentares, etc., ela não iniciará 2016 no Palácio do Planalto. Se cair nos braços do povo (como o Lula já recomendou), talvez escape da degola.
Ou, pelo menos, terá um epitáfio digno, de quem tombou defendendo os explorados, não um do tipo "aqui jaz uma presidenta que seguiu as pegadas de Margaret Thatcher e Angela Merkel, mas não possuía a competência de ambas".
E ISSO LEMBRA A ÉPOCA DA DITADURA MILITAR

A IMPRENSA SOB O TERROR DA DITADURA E O TACÃO DA CENSURA

Artigos de resistência ao golpe
OCorreio da Manhã (RJ) foi o primeiro veículo da grande imprensa a manter uma posição firme contra o golpe militar. Tinha uma constelação de grandes jornalistas de esquerda, como Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis, Antonio Callado, Jânio de Freitas, Sérgio Augusto, Márcio Moreira Alves e Hermano Alves. Os artigos que Carlos Heitor Cony escreveu sobre os primeiros tempos da ditadura, sarcásticos e combativos, foram depois por ele reunidos em livro: O Ato [alusão aos Atos Institucionais baixados pela ditadura] e o fato.
Quase um nanico, A Tribuna da Imprensa havia sido fundada pelo corvo Carlos Lacerda mas, na ditadura, se tornou uma espécie de trincheira pessoal do combativo jornalista Hélio Fernandes, irmão do Millôr. Seus editoriais, cuspindo fogo contra os tiranos, ocupavam a capa inteira, ou deixavam um pequeno espaço para as manchetes; eram o maior, talvez único, atrativo  do matutino. Foi o dono de jornal mais intimidado e retaliado pelos militares.
Longe de serem de esquerda, O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde honraram o passado de resistência ao arbítrio: repetindo a postura adotada face à ditadura getulista, foram os dois veículos da grande imprensa que mais resistiram à censura do regime militar na primeira metade da década de 1970.
Camões no trecho censurado
Enquanto os demais, que publicavam as matérias sem os trechos cortados e aceitavam substituir as matérias integralmente vetadas por outras, inofensivas, o Estadão preenchia esses espaços vagos com poesias e o Jornal da Tarde com receitas culinárias. Assim, os leitores podiam saber exatamente qual era o espaço ocupado pelos textos tesourados e até adivinhar a que se referiam.Em meados da mesma década, a Folha de S. Paulo reuniu um elenco de primeira linha da esquerda: Paulo Francis, Alberto Dines, Samuel Wainer, Tarso de Castro, Plínio Marcos, Osvaldo Peralva, João Batista Natali e outros, com o trotskista Cláudio Abramo dirigindo a redação. Motivo: pouco antes da posse de Ernesto Geisel, o dono do jornal, Otávio Frias de Oliveira, foi aconselhado a assim proceder pelo estrategista do novo presidente, Golbery do Couto e Silva. Ele planejava a abertura e queria um contraponto à influência que O Estado de S. Paulo presumivelmente adquiriria.
Em termos jornalísticos, nunca a Folha teve ou teria depois tanta qualidade. O suplemento especial sobre os 60 anos da revolução soviética, p. ex., é inesquecível, com cada um dos grandes jornalistas tendo uma página inteira para preencher com seu artigo. E a página dominical Jornal dos jornais, do Dines, dava dicas valiosíssimas sobre os bastidores do regime, que serviam até para alertar os que deveriam se precaver contra perspectivas nefastas.
Tente achar a pegadinha...
Mas, uma crônica inconsequente do Lourenço Diaféria, dizendo que a estátua do Duque de Caxias só servia para os mendigos urinarem, deu pretexto para uma intervenção do II Exército, que exigiu a cabeça de Cláudio Abramo (deixou de ser diretor de redação e virou correspondente em Londres) e outros. A primavera da Folha terminou, com o jornal se tornando bem mais comedido sob a direção de Boris Casoy e, depois, do filho do patrão. O semanário Pasquim foi o grande respiradouro da imprensa na virada dos anos 60 para os 70, com Paulo Francis pontificando nos comentários políticos e humoristas como o Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo e Henfil soltando suas farpas na área de costumes, além de fazerem também suas alusões ao arbítrio e à burrice institucionalizada. Outros destaques eram Ivan Lessa, Tarso de Castro e o guru da nova esquerda Luís Carlos Maciel. Havia, ainda, colaboradores de peso como Glauber Rocha, Chico Buarque, Caetano Veloso e Carlos Heitor Cony.
Anárquico, irreverente, difundindo o jeito carioca de ser num Brasil ainda provinciano, atraiu um público jovem e não necessariamente politizado. Chegou a vender mais de 200 mil exemplares, tiragem superior à de muitos veículos da grande imprensa, antes de sucumbir ao arbítrio oficial e ao terrorismo oficioso: imposições da censura, prisões de integrantes da equipe, atentados contra bancas de jornais que ousassem vendê-lo, etc.
Um semanário corajoso
Finalmente, mais na linha da esquerda convencional, os alternativos Opinião, Movimento, Em Tempo e Coojornal foram outros respiradouros importantes, ao longo da década de 1970. Atingiam um público bem menor que o do Pasquim, de pessoas que já pertenciam à esquerda ou com ela simpatizavam, a maioria do meio estudantil.
Corajosamente, conseguiam passar a esse pequeno universo informações importantes que a grande imprensa preferia não revelar (ou era impedida de fazê-lo).
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia. Tem um ativo blog com esse mesmo título.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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