Pré-candidatos republicano e democrata conseguem importantes vitórias na segunda prévia da corrida à Casa Branca
Por Redação, com agências internacionais - de Washington, EUA:
As primárias de New Hampshire terminaram na terça-feira com a vitória de dois pré-candidatos não alinhados aos pilares tradicionais da política norte-americana: o magnata Donald Trump, pelos republicanos, e o senador Bernie Sanders, pelos democratas. O resultado confirma a fama de independente do Estado. E reflete um momento em que os norte-americanos parecem estar irritados com os políticos tradicionais. New Hapshire foi a segunda prévia no processo dos partidos para escolha de seus candidatos à eleição de 8 de novembro.Trump: "Mundo voltará a nos respeitar"
Durante seu discurso da vitória, Trump prometeu que acabará com a "epidemia" de heroína e toxicomania que afeta New Hampshire e o resto do país. Ele atribuiu a raiz do problema à imigração e ao tráfico de drogas "que entram nos EUA pela fronteira sul." – Vamos fazer algo tão bom, tão rápido e tão forte que o mundo voltará a nos respeitar. Acreditem em mim – disse Trump para seus seguidores, após agradecer aos eleitores por seu apoio. – Vamos construir o muro, acreditem ou não. Não é uma coisa tão difícil de fazer – reiterou o empresário em relação a uma de suas propostas de campanha mais polêmicas para evitar a chegada de imigrantes a solo norte-americano. Além disso, Trump falou em acabar com a reforma da saúde promulgada pelo presidente norte-americano, Barack Obama, e conhecida como "Obamacare", além de acusar o atual governo de maquiar os dados de desemprego, que neste mês ficou em 4,9%, a primeira vez desde 2008 que fica abaixo da barreira de 5%. Já Sanders afirmou que, com sua vitória, envia-se "uma mensagem que ecoará de Wall Street a Washington", falando que o povo quer "uma mudança real". – Juntos enviamos uma mensagem que ecoará de Wall Street a Washington, do Maine à Califórnia, que o governo de nosso grande país pertence a todo o povo e não só a um punhado de ricos contribuintes para as campanhas – disse Sanders. Sanders afirmou que a alta participação nas primárias de New Hampshire demonstra que sua campanha "colhe o entusiasmo que o partido democrata vai precisar para ter sucesso em novembro", nas eleições gerais. – O que começou na semana passada em Iowa, o que se confirmou New Hampshire hoje, não é nada menos que o começo de uma revolução política, que unirá milhões de pessoas – afirmou Sanders, que em Iowa terminara quase em empate técnico com Hillary.Insatisfação do eleitorado
Aonde Mary Gargiulo vai, a cadelinha Misty vai junto. Ela é a única dos quatro cães da casa que pode acompanhar a dona até o escritório. Mary é gerente de pessoal da imobiliária do marido, uma empresa que administra 20 mil propriedades no valor total de 1 bilhão de dólares (R$ 3,9 bilhões). O personal trainer de Mary a encontra três vezes por semana e, mesmo na hora do exercício, Misty está sempre ao lado da dona: "Nós a tiramos de um abrigo para animais, e ela está sempre com medo de ser abandonada", explica. Mary tem 58 anos. Todo dia, tenta se levantar da cama sem usar as mãos. "É mais difícil do que você pensa. Você deveria tentar." Ela cuida da forma física para ter uma boa aparência: "Tento manter todas as refeições abaixo de 300 calorias." Mary quer ser capaz de se levantar caso caia acidentalmente e "quebre os braços na queda". Mary prefere ter segurança. Tanto ela como o marido, Lou, apoiam o republicano Donald Trump. O casal faz campanha para o pré-candidato, vai para eventos do partido e até doa uma quantidade "considerável" de dinheiro. Em seu círculo social, a mansão do governador fica a poucos metros da casa deles, muitos podem achar o comportamento estranho. Mas Mary aceita o fato de que o fervor político de Trump faz dele diferente dos republicanos ricos de New Hampshire. – Alguma coisa tem de acontecer antes que o nosso país seja completamente arruinado – diz Mary. Ela acha que Trump sabe como conduzir um negócio, ao contrário de todos os outros políticos. "Ele sabe o que todas as regras de Washington significam para empresários como nós." Mary acredita que o atual sistema político norte-americano foi gravemente danificado porque, uma vez eleitas para um cargo público, "as pessoas querem ficar para sempre". E isso as torna suscetíveis à corrupção. "Em algum momento, somente as pessoas que ajudam os políticos a continuarem no poder têm influência, não importando mais do que o país realmente precisa." Lou não tem problemas no momento. Os negócios estão indo bem, mas ele está preocupado com o que o futuro reserva para seus filhos e netos. Diz que a dinâmica tem que mudar agora para evitar o pior. "Trump vai ser capaz de fazer isso. Ele é experiente. Ele não é um político convencional e não está com medo."Sem julgamentos morais
A principal preocupação de Lou é dinheiro, e a dívida pública. Mary fala muito sobre valores e responsabilidade social: "Eu nunca perdi uma única eleição", diz. "Desde os 18 anos, voto nos republicanos. Mas parei de me considerar uma republicana. Agora eu me refiro a mim mesma como uma conservadora." Ela é uma devota católica. E não gosta do fato de tantos republicanos fazerem política à parte de suas convicções religiosas. "Nós não devemos rejeitar homossexuais ou mulheres que fazem aborto." O casal tem quatro filhos. "Eu iria amar os meus filhos se eles fossem homossexuais. Ou se minha filha precisar fazer um aborto para não ter problemas financeiros. Eu não tenho que julgar. Apenas Deus pode julgar." Peggy Greenough também não aguenta mais "o sistema corrupto do país". Ela quer um presidente que "se preocupe com as pessoas e não com aqueles que lhe dão dinheiro". Ela quer um nome fora do sistema, alguém experiente, que seja independente e não possa ser comprado, que seja forte e não tenha medo. Alguém que vá defender as pessoas, não somente em Washington, mas pelo mundo. Alguém que diga e faça o que deve ser dito e feito. O discurso é semelhante ao do casal Gargiulo. Peggy apoia, no entanto, o democrata Bernie Sanders.Desilusão com sistema
Ela, o marido Steve e os três filhos participam de eventos e batem de porta em porta para angariar votos para Sanders na campanha das primárias de New Hampshire. Eles não podem fazer doações. Steve trabalhava no setor de tecnologia da informação, mas ficou desempregado há mais de dez anos e agora vive fazendo trabalhos esporádicos. "Nós vivemos cada semana. Muitas vezes temos que optar entre comprar gás para o aquecedor ou um novo par de calçados", revela Peggy. A família com cinco integrantes vive com cerca de US$ 20 mil por ano (R$ 78 mil). Peggy está doente e precisa de medicamentos regulares. O plano de saúde não cobre todos os seus gastos. Nos Estados Unidos, ela precisa pagar US$ 300 por mês. – No Canadá, nós pagamos US$ 95 por uma caixa que dura três meses. É por isso que os políticos se vendem para a indústria farmacêutica", opina. "Eles apenas fazem o que lhes dá dinheiro. Não se importam com o que povo norte-americano precisa." Peggy parece forte, apesar de suas olheiras profundas. Seus olhos brilham, desafiantes, enquanto explica por que Sanders é o candidato certo, garantindo que a "revolução" já começou. Segundo ela, as ideias e os planos de Sanders já estão influenciando fortemente a campanha eleitoral como um todo. Seus olhos ficam marejados quando fala sobre o seu cotidiano, quando nota que o dinheiro da semana já foi gasto no domingo. "Da última vez, eu apoiei Hillary (Clinton). Mas ela não faz nada pelas pessoas como nós", afirma. "Agora nós temos apenas uma esperança: a visão que Bernie tem. Bernie é a nossa esperança. E revolução é esperança."Voltar à liderança
O senador Bernie Sanders derrotou a ex-secretária de Estado Hillary Clinton nas prévias do partido Democrata em New Hampshire na terça-feira. A vitória de Sanders, aliada ao empate na disputa em Iowa, há uma semana, lança o senador aos holofotes da disputa democrata e deixa a campanha de Hillary sob forte pressão.
Mas concluir que a fatura da ex-secretária de Estado está liquidada pode ser precipitado. De acordo com as pesquisas, o bom desempenho de Sanders se dá em Estados com ampla maioria branca - caso de New Hampshire. O senador obteve uma vitória convincente na prévia no Estado, com mais de 20 pontos percentuais de diferença sobre a rival. Entre os negros americanos, porém, grupo especialmente importante em prévias no sul do país, Hillary está bem à frente nas pesquisas. Ela concentra as preferências do grupo, embora Sanders prometa privilegiar os mais pobres, universalizar a saúde e tornar gratuitas as universidades públicas, medidas que tendem a favorecer principalmente os negros, grupo populacional mais pobre, menos escolarizado e com menos acesso à saúde nos EUA. Os eleitores de origem latino-americana também terão papel relevante na decisão. Novamente, é Hillary quem leva vantagem folgada no grupo, ainda que dois concorrentes republicanos tenham laços sanguíneos com o continente. O outro candidato hispânico é o senador Marco Rubio, nascido na Flórida e filho de pais cubanos. Por enquanto, porém, nem entre os cubano-americanos da Flórida Rubio lidera as pesquisas. Nos debates, Rubio é o candidato que mais tem encampado o discurso sobre o "excepcionalismo" dos Estados Unidos - a ideia de que o país possui características únicas, que devem ser celebradas independentemente da opinião de estrangeiros ou das experiências de outros países. Para ele, os EUA são "a maior nação que já existiu na história da humanidade". É possível que Rubio ou Cruz conquistem a vaga republicana, mas o apoio de Cruz hoje se concentra entre evangélicos brancos e Rubio tenta se tornar o candidato do establishment conservador.