Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2025

Especulações em torno da lógica do PAC

Por Bernardo Kucinski: A lógica do Programa de Aceleração do Crescimento contraria economistas clássicos como Michael Kalecki e John Keynes. Um PAC que não contém uma política monetária expansionista não é um PAC, é um anti-PAC, como, aliás, deixou claro a última ata do Copom. (Leia Mais)

Domingo, 11 de Fevereiro de 2007 às 10:13, por: CdB

A economia brasileira pode até crescer cinco por cento este ano, ou mais. Mas não por causa do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Enquanto o juro real básico da economia se mantiver no patamar anômalo de 10% ao ano, não há discurso de crescimento que faça o país crescer. Qualquer economista sabe disso. Não depende de sua escola de pensamento, se é marxista, monetarista, keynesiano ou neokeynesiano.

Depois da lei das vantagens comparativas de David Ricardo, e do capital de Marx, foi a descoberta da relação fundamental entre crescimento e taxa de juros, feita simultaneamente por Michael Kalecki e John Keynes, que mais contribuiu para instituir o pensamento econômico em saber científico.

Ricardo havia mostrado que, ao contrário do que reis e governantes acreditaram durante 300 anos, quanto mais uma economia se concentra na produção de bens em que é mais eficiente, trocando seus excedentes por mercadoria que outros países produzem melhor, mais ela progride, mais valor ela produz com o mesmo uso de fatores de produção. É por isso que podemos dizer que o comércio internacional cria valor.

Durante 300 anos, os reis só viam a aparência do comércio exterior: quanto mais o país tinha que importar, menos ouro sobrava em seus cofres, portanto eles tinham menos meios para financiar suas guerras de conquistas. Durante 300 anos eles acreditaram que o ouro era o próprio valor, sem perceber que usavam cada vez mais terras e trabalho para conseguir uma mesma quantidade de valor.

Kalecki, um marxista, e Keynes um antimarxista, demonstraram por métodos totalmente diferentes que a intensidade da atividade de uma economia é diretamente proporcional à renda das pessoas e inversamente proporcional à taxa de juros. Quanto maior a taxa de juros, menor a propensão ao investimento por parte dos capitalistas e menor a propensão ao consumo por parte dos trabalhadores, maior o desemprego e a ociosidade nas fábricas.

Se o Banco Central está pagando juros tão altos para quem investe nos seus papéis, muito melhor agüentar mais um pouco o carro usado e deixar o dinheiro no banco. Ou pagar aluguel com a renda da caderneta de poupança do que construir sua casinha. As empresas pensam da mesma forma. Para que assumir o risco de expandir a produção, construir mais um galpão, se o dinheiro está rendendo muito mais parado no banco?

O PAC é uma tentativa de fazer o capitalismo crescer mexendo em tudo menos no principal, que é o juro básico. Para compensar, o governo adotou uma subpolítica monetária, oposta à política principal, de estimular o consumo através de empréstimos com garantia de salário, os empréstimos consignados. Mas mesmo esses cobram juro de usura, da ordem de 25% ao ano.

Não deve dar certo. Mesmo porque, no caso brasileiro, o altíssimo juro básico pago pelo Banco Central também (a) derruba a cotação do dólar, estimulando a substituição de produção nacional por produção importada, o que estimula o crescimento em outros países, não no nosso, e (b) eleva muito o custo da dívida pública impedindo o governo de investir.

A lógica do PAC contraria os economistas clássicos. Um PAC que não contém uma política monetária expansionista não é um PAC, é um anti-PAC, como, aliás, deixou muito claro a última ata do Copom. Se a lógica do PAC não é a dos economistas clássicos, qual a sua lógica? Ou o PAC nasce de um conhecimento do mundo real diferente do manejado pelos economistas clássicos, ou tem origem em interesses de classe ou de grupos que se sobrepõem a essa lógica.

Lembro que era comum, nos tempos das grandes greves do ABC, os dirigentes sindicais argumentarem nas assembléias dos metalúrgicos que as montadoras de veículos podiam dar aumento maior de salário sem elevar os preços dos carros, porque o salário era apenas 10% do custo de um carro.Viam o aparente, o peso do salário na matriz de custos das montadoras, e não a essência, de que em todas as peças e componentes ta

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