Rio de Janeiro, 28 de Dezembro de 2025

Escolha: a favor ou contra Maduro?

Editor do Direto da Redação - As opiniões divergem, dentro da esquerda, com relação ao governo de Maduro na Venezuela, sua reforma da Constituição, suas relações com o Legislativa e o Judiciário, sua situação econômica. Por isso, seguem hoje duas colunas, de Jakobskind e Lungaretti, que consideram de ângulos diferentes a situação venezuelana.

Segunda, 24 de Julho de 2017 às 12:00, por: CdB

As opiniões divergem, dentro da esquerda, com relação ao governo de Maduro na Venezuela, sua reforma da Constituição, suas relações com o Legislativa e o Judiciário, sua situação econômica. Por isso, seguem hoje duas colunas que consideram de ângulos diferentes a situação venezuelana, dentro do espírito  deste Direto da Redação de se promover o debate, ficando ao leitor concordar, discordar ou propor uma outra alternativa.A      seguir, dia 24, será publicada uma coluna de Dalton Rosado sobre o mesmo tema venezuelano. (Nota do Editor)

Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro; Celso Lungaretti, de São Paulo:

Ofensiva da mídia comercial latino-americana contra a Venezuela é uma escalada golpista -
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro:

A ofensiva da mídia comercial conservador contra o governo de Nicolas Maduro se intensifica a cada dia. Jornais como O Globo, o mais vendido do Rio de Janeiro e outros as mesma linha agrupados no grupo Diário das Américas, dedicam diariamente pelo menos uma página para acusar o governo bolivariano e apoiar a oposição, que não esconde o objetivo de tomar o poder a qualquer custo.

Seguindo a mesma trilha, o governo golpista chefiado por Michel Temer segue os passos do governo Donald Trump e outros do continente latino-americano como o da Argentina. Os argumentos são sempre os mesmos, mas a mídia comercial conservadora não divulga os argumentos contrários aos que pregam os que querem derrubar o governo Maduro. Fica valendo apenas o que dizem os oposicionistas. E tudo isso acontece diariamente nos jornalões e telejornalões.

Chegaram ao ponto de divulgar que o povo venezuelano se manifestou em um plebiscito contra o governo do Presidente Maduro e também contra a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, o que Trump  é contra e ameaçou com represálias econômicas caso se realize como está marcado no próximo dia 30 de julho.

No plebiscito badalado pela mídia comercial conservadora foram mostradas imagens de manifestações em favor da Constituinte, que se realizava no mesmo domingo, com se fossem da escalada golpista proporcionada pela oposição coordenada com forças retrógradas do continente latino-americano.

Para se ter uma ideia do grau de comprometimento do governo usurpador brasileiro, uma das primeiras ações que o preso político Leopoldo Lopez fez ao lhe ser concedida prisão domiciliar foi telefonar para o putrefato político Michel Temer para agradecer o seu empenho para com ele.

Lopez, condenado por incitar a violência foi cumprir a pena em casa, mas não reconheceu o que fez o governo venezuelano com o objetivo de distensionar o país. Preferiu agradecer o ilegítimo que ocupa o governo brasileiro que em várias oportunidades tem se manifestado contra o governo Maduro seguindo os passos do Departamento de Estado norte-americano.

Nesse sentido, o golpista ilegítimo participou de uma reunião do Mercosul na Argentina, onde o Ministro da Fazenda e aposentado do Bank of Boston  foi flagrado cochilando enquanto    Temer discursava e destilava  veneno contra o governo venezuelano de Nicolas Maduro, o que satisfaz sobremaneira o presidente estadunidense Donald Trump.

No tal plebiscito ultra badalado pelos meios de comunicação conservadores da América Latina aconteceram fatos superdimensionados para demonstrar ter ocorrido um grande número de votantes. No Rio de Janeiro, por exemplo, um grupo de venezuelanos foi votar numa urna localizada na Lagoa e a informação divulgada é que cem por cento votaram contra o governo Maduro.  

É assim que tocou a banda, sem comprovação de que o total de votantes teria sido o divulgado pelos que realizaram o plebiscito. Na verdade, mais do que um plebiscito o que aconteceu mesmo foi de fato uma escalada golpista orquestrado por alguns países liderados pelos Estados Unidos. Mas isso jamais seria divulgado pela mídia comercial conservadora, porque se o fosse o acontecimento perderia a credibilidade e não cumpriria o objetivo de enganar os incautos.

E para reforçar o esquema golpista, os meios de comunicação conservadores superdimensionaram o lockout de alguns empresários contra o governo Maduro. O movimento golpista de alguns empresários foi divulgado como se fosse uma greve e não um lockout de um grupo de empresários. O referido movimento não passa da mesma escalada golpista.

Vale então assinalar que greve é um movimento de trabalhadores, enquanto lockout é uma ação de empresários, fato acontecido em outros movimentos golpistas, como, por exemplo, no Chile quando do golpe chefiado pelo assassino Augusto Pinochet contra o presidente constitucional Salvador Allende, também com o apoio incondicional do então governo estadunidense sob o controle de Richard Nixon e do Secretário de Estado, Henry Kissinger.

Mário Augusto Jakobskind, professor, jornalista, escritor e Coordenador de História do IDEA, Programa de TV, transmitido pela Unitevê, Canal Universitário de Niterói, Universidade Federal Fluminense (UFF).
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
 

CONFRONTO É IMINENTE NA VENEZUELA

Por Celso Lungaretti, de São Paulo:

O Governo Maduro coloca num amargo dilema os defensores dos ideais revolucionários em todo o mundo. Forças direitistas locais e exteriores o confrontam politicamente e o asfixiam economicamente, mas ele responde da pior maneira possível, arrastando o povo venezuelano à penúria extrema e resvalando para o mais desembestado autoritarismo, com os assassinatos políticos aumentando dia a dia.
 
Infelizmente, Maduro parece estar decidido a travar uma guerra que não tem como vencer. Com isto, engrossará a onda reacionária no nosso continente e vai destruir o que possa ter sobrado do legado de Chávez. Só podemos encarar este quadro com profundo pesar e desalento.
 
Mas, no estágio em que a coisa chegou, as prioridades máximas, agora, são deter a matança e restituir aos venezuelanos condições minimamente civilizadas de existência. Não parece restar sequer uma esperança de o pior ser evitado. Segue um comentário do editorialista Clóvis Rossi a respeito -
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DIPLOMACIA BRASILEIRA JÁ SE PREPARA
PARA CENÁRIO DE GUERRA NA VENEZUELA
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Por Clóvis Rossi
O embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, marcou para as próximas terça e quarta (25 e 26) uma reunião com os representantes diplomáticos na Venezuela para, segundo o chanceler Aloysio Nunes Ferreira Filho, discutir providências para proteger a comunidade de brasileiros no país na eventualidade de um agravamento de uma crise que já está em ponto de combustão.
 
A conta mais recente indica que vivem na Venezuela cerca de 32 mil brasileiros.
 
A iniciativa do embaixador é sábia, a julgar pela descrição que faz da conjuntura venezuelana um de seus melhores analistas, Luis Vicente León, responsável pelo centro de pesquisas Datanalisis:
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"O governo acredita que está morto politicamente se não consegue passar a sua Constituinte [votação convocada para dia 30]. Mas, da mesma forma, a oposição sente que essa Constituinte representa sua morte e também a da democracia, da República, dos direitos humanos e econômicos e das possibilidades de resgatar a paz".
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Caminhão de comida saqueado em Sinamaica
Como nenhum dos lados em confronto quer morrer, é inevitável que soem tambores de guerra em um país já conflagrado por manifestações diárias há cem dias (96 mortos até agora) e por uma situação econômica e social que fica mais dramática a cada dia.
 
O drama do dia (quarta-feira, 19): o custo da cesta básica subiu 24,1% de maio para junho. Em um ano, o aumento foi de 343,2%.
 
Para poder adquirir a cesta básica, um venezuelano precisa de 18,9 salários mínimos.
 
Não há quem consiga viver nesse ambiente, o que ajuda a explicar a notável mobilização para votar no domingo (16) em um plebiscito não oficial, convocado pela oposição.
 
Compareceram, segundo os oposicionistas, 7,6 milhões de pessoas, que era o máximo para o qual se preparara a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática. Foram montados locais de votação para apenas um terço do eleitorado total (19,8 milhões), o máximo de capacidade logística que a oposição conseguiu. O comparecimento foi, portanto, praticamente o total do esperado.
 
Com base nesse resultado, a MUD declarou nesta quarta-feira que a mudança de governo "é inevitável e iminente" e anunciou seu compromisso de "formar um governo de união nacional", para "garantir a governabilidade do país no caso de que se logre a saída de Nicolás Maduro do poder".
Protesto contra o governo em Caracas
A oposição acredita que o sucesso de uma greve geral convocada para esta quinta-feira (20) servirá para tornar ainda mais "inevitável e iminente" a queda de Maduro.
 
Mas o governo não está nem remotamente disposto a ceder um milímetro nesta batalha.
 
Toca, ele também, os tambores de guerra, na forma, por exemplo, da convocação do Conselho de Defesa. Trata-se do "organismo máximo de consulta para a planificação e assessoramento do Poder Público em assuntos relacionados com a defesa integral da Nação, sua soberania e a integridade de seu espaço geográfico".
 
É, em tese, resposta à ameaça dos Estados Unidos de impor sanções à Venezuela, se não for desconvocada a votação para a Assembleia Constituinte.
 
Na prática, contudo, é a preparação do governo Maduro para a guerra antevista pelo analista Luis Vicente León.
 
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia (Geração Editorial). Tem um ativo blog com esse mesmo título.

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

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