Reunião da Executiva do PSDB revela que rachadura no ninho tucano é maior do que o previsto.
Por Redação - de Brasília
Assolado por divergências insanáveis e dividido ao meio entre quem prefere se distanciar do governo do presidente de facto, Michel Temer, e aqueles que integram o núcleo do poder instalado após a derrubada da presidenta Dilma Rousseff (PT), em maio do ano passado, o PSDB resolveu bater pesado no programa partidário que vai ao ar na semana que vem.
A prévia foi exibida na terça-feira, quando o partido veiculou, nas redes sociais, um vídeo no qual pede desculpas aos seus eleitores por se aliar ao governo Temer. Presidente tucano em exercício, o senador Tasso Jereissati (CE) foi alvo de duras críticas na reunião da Executiva Nacional, na noite passada.
Aécio destoa
O vídeo tem a duração de 30 segundos e passa a mensagem de que “O PSDB Errou”. Na peça publicitária, o partido propõe uma autocrítica. Os detalhes serão apresentados no dia 17. O conteúdo da mensagem causou inquietação entre os dirigentes do PSDB. Muitos ainda não tinham ideia do que será dito no programa partidário. Diante das posições conflitantes, a divisão da legenda se acentua dia após dia.
O PSDB, atualmente, luta em dois fronts distintos. No primeiro deles, segue acuado pelas denúncias de corrupção contra o presidente licenciado e senador Aécio Neves (MG). No outro, lida com o profundo descontentamento de metade da legenda e a maioria dos eleitores com o apoio a Temer.
Temer é alvo de denúncias em série por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR). Aquela que o investiga por corrupção foi rejeitada pela Câmara dos Deputados, mas o custo foi elevado. Os tucanos seguiram para a votação em lados opostos e, agora, os aliados de Temer cobram a fatura: querem os cargos dos tucanos na Esplanada dos Ministérios.
Culpa genérica
O site de notícias Buzzfeed, em matéria veiculada na véspera, ressalta que “citações dos executivos da Odebrecht a propinas em obras do governo paulista, como o Metrô e o Rodoanel (com potencial destrutivo para Alckmin) e a repasses a José Serra no exterior foram obscurecidas pela delação-bomba de Joesley Batista. A culpa que o PSDB pretende assumir, contudo, não tem nada a ver com os malfeitos de Aécio e Temer, narrados por Joesley Batista”.
“No programa que vai ao ar no dia 17, o partido deve admitir a culpa genérica de não ter apoiado com mais afinco o parlamentarismo. E, no plano mais terreno, que cometeu erros como financiar campanha com o caixa dois. Os coordenadores afirmam que não haverá ‘personalização da culpa”. O diretor das peças de comunicação é o publicitário Einhart Jacome. Ele foi contratado, unicamente, para produzir os vídeos para propaganda do partido.
Embora Einhart seja paulista, lembra o site, “muita gente do próprio PSDB pensa que que ele é cearense. A confusão se deve à antiga ligação entre o marqueteiro e Tasso, que remonta ao ano de 1986; quando o político disputou e venceu, pela primeira vez, a disputa pelo governo do Ceará. Einhart foi casado com Lia Ferreira Gomes. Trata-se da irmã de Ciro e Cid Gomes, ambos ex-governadores. O publicitário também fez uma das campanhas de Fernando Henrique Cardoso à Presidência.
Mea culpa
“A nova propaganda com a mea-culpa foi decidida por Tasso com apenas alguns cabeças pretas (ala mais jovem de tucanos) e outros cabeças brancas (os tucanos mais velhos). O briefing com a ideia da errata foi passado para Jacome diretamente por Tasso. O roteiro da propaganda está pronto e cenas já foram gravadas para fazer o mea culpa”, acrescenta.
O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, foi um dos que mais reclamou. Para ele, o resultado do comercial divulgado, no qual atores falam que o PSDB errou, foi o pior possível.
— Na (reunião) Executiva, quase de maneira unânime, criticaram a forma com que ficou a peça publicitária — relatou aos jornalistas.
O prefeito afirmou que a mea-culpa prevista para o programa é sobre “posturas adotadas pelo partido”. Ele citou como um dos problemas o PSDB ir “rachado para a votação da denúncia contra Temer”.