Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Dirceu se resigna a passar os últimos dias na cadeia

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Sexta, 20 de Abril de 2018 às 13:13, por: CdB

“Você tem que lutar por todos os meios, legais e políticos, para ser solto. Mas sempre tenho a ideia de que, se souber levar a prisão, ela pode se transformar numa melhora para você mesmo”, afirmou José Dirceu.

 

Por Redação - de São Paulo

 

Aos 72 anos, a maioria deles passados ou na clandestinidade ou na luta política, o ex-ministro José Dirceu parece resignado a passar o resto de seus dias na prisão. Os últimos recursos negados, por unanimidade, no Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-IV) o colocam ao dispor do juiz Sérgio Moro, para que decrete seu recolhimento, a qualquer minuto.

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José Dirceu foi condenado a mais de 40 anos de prisão e teve seus últimos recursos negados

Dirceu admite que, no momento em que entrar na cela, poderá jamais deixá-la. Em conversa com a jornalista Monica Bergamo, colunista de um dos diários conservadores paulistanos, o fundador do PT admite que esta é “uma hipótese”.

Diante da pergunta de como se sentia, prestes a ser preso de novo, Dirceu afirma que espera ficar, em regime fechado, ao menos durante 7 anos.

Dano causado

— O país vive uma situação de insegurança e instabilidade jurídica, de violação dos direitos e garantias individuais. O aparato judicial policial se transformou em polícia política. Como a minha vida é o PT e o projeto que o Lula lidera, eu tenho que me preparar para continuar fazendo política. Eu não posso me render ao fato de que vou ser preso — disse.

Condenado a 41 anos de prisão, sob o novo regime de progressão penal, o ex-líder estudantil também cogita que nunca mais deixe a cadeia.

— Eles acabaram com a progressão penal. Você só pode ser beneficiado se reparar o dano que dizem ter causado. E como, se todos os seus bens estão bloqueados? Acabaram com o indulto (para crimes de colarinho branco). Vamos cumprir a pena toda — disse.

— Então o senhor pode entrar agora na cadeia para não sair nunca mais? — perguntou a jornalista.

— É uma hipótese.

— E como se sente?

— Não muda nada. Preso ou aqui fora, vou fazer tudo o que eu fazia: ler, estudar e fazer política.Eu tenho que cumprir a pena. Eu não posso brigar com a cadeia. O preso que briga com a cadeia cai em depressão, começa a tomar remédio.

‘Mocozinho’

Os presos antigos, de forma jocosa mas a sério, quando veem um de nós não aceitando... porque é duro perder a liberdade. Quer dizer, não perde porque não perde a liberdade de criar, de pensar, e também não perde o afeto, o amor. Milhões de pessoas vivem numa condição subumana por causa da pobreza, da exploração. E criam, né? Fazem música, arte, criam os filhos, batalham.

Mas eles (presos antigos) dizem (para quem chega na cadeia): "Já chorou bastante? Já rezou? Já chamou mamãe? Já leu a Bíblia? Então agora, cidadão, começa a trabalhar! Arruma emprego aqui dentro pra fazer remissão [da pena]. Estuda, viu?

Outra coisa: arruma a tua cela. Transforma aquilo num mocozinho seu, num apartamentinho, põe fotografia da tua filha, põe a bandeira do teu time. Limpa ela direitinho, melhora o que você come. Joga futebol. Porque você vai ficar aqui quatro anos. (Aumentando o tom de voz). Tá entendendo o que eu tô te falando? Ou você quer ficar igual àqueles lá? (referindo-se a presos deprimidos).

Isolado

Aquilo ali é três Frontais (remédio para ansiedade) por dia. Olha como ele já tá andando durinho. É o crack em parte que queimou a cabeça dele. Mas o resto é a depressão — revela José Dirceu.

Sobre as condições de Lula, na cadeia, Dirceu é objetivo:

— Como o tratamento é respeitoso e ele recebe advogados todos os dias, e a família uma vez por semana, vai se adaptando. O pior para ele já aconteceu: a indignidade de ser condenado e preso injustamente. Depois disso, tem que se adaptar às condições e transformar elas em uma arma para você.

Esse é o pensamento. Mas eu acho que raramente um ser humano suporta ficar um ano num banheiro e quarto vendo três vezes por dia alguém trazer comida para ele. Agora surgiu a ideia de o Lula ir para um quartel. Seria pior ainda. Porque eles não querem ninguém lá. A função do quartel não é ser presídio. Ele vai ficar mais isolado — prevê.

Preso comum

— E ele não consegue?

— Eu acho que ele não deve. É uma questão política. Ele deve conviver com outras pessoas, pensar o país, pensar no que está acontecendo. Ele não está proibido de fazer política só porque está preso.

Se o Lula vier para a sexta galeria (unidade do complexo penal em que Dirceu ficou detido), verá que é uma convivência normal. É muito raro ter um incidente. E na prisão você conversa, aprende muita coisa. As pessoas têm muito o que ensinar.

Às vezes você acredita no mito que criam sobre você. Que você é especial, que teve uma vida, no meu caso, que dá até um filme. Mas você começa a conversar com um preso comum, e descobre que é fantástica a vida de cada um lá.

— O que o senhor sentiu quando viu Lula sendo preso?

Vida do Lula

— Eu sou muito frio para essas questões, sabe? Acho que ele fez o que tinha que fazer, aquela resistência simbólica foi necessária. E nós ganhamos essa batalha política e midiática.

— Mas nada mexeu com o senhor?

— Eu fiz da minha vida praticamente o Lula. E me mantive leal a ele. Não faltaram oportunidades, amigos e companheiros que me empurravam para romper com ele, em vários episódios. Mas eu sempre achei que a obra do Lula, a liderança dele, o que ele fez pelo país, compensava qualquer outra coisa. Então eu não dei importância. Depois de uma semana, já não lembrava.

Em 2011, eu estava num barco alugado, pescando, e recebi um telefonema com a informação de que o Lula estava com câncer. Eu chorei. Me deu a sensação de que poderia ser o começo do fim da vida do Lula. Mas agora, como já passei três vezes pela prisão, é diferente.

Fio da História

Você tem que lutar por todos os meios, legais e políticos, para ser solto. Mas sempre tenho a ideia de que, se souber levar a prisão, ela pode se transformar numa melhora para você mesmo. De estudo, de pesquisa, de reflexão — afirmou.

Sobre a conjuntura política, o Comandante, como Dirceu é chamado por seus admiradores, no PT, “o lado de lá tem a TV Globo, o aparato judicial militar e o poder econômico. Mas está mais desorganizado e enfraquecido do que nós”.

— Eu tenho confiança de que o fio da história do Brasil não é o fio das forças da direita. O fio da história do Brasil é o fio que nós representamos — concluiu.

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