Um dos principais estrategistas políticos do PT, o advogado José Dirceu passa a exercer mais influência nas decisões do Partido ao longo dos próximos meses, enquanto estiver em liberdade
Por Redação - de Brasília
O líder petista José Dirceu, condenado a mais de 20 anos de prisão, em primeira instância, vai ampliar sua presença política nas decisões do Partido. A previsão é do ex-ministro Gilberto Carvalho, ex-secretário da Presidência entre 2011 e 2015. Em entrevista ao site de notícias Diário do Centro do Mundo (DCM), Carvalho visitou Dirceu em sua residência.
O vazamento no diário de extrema direita Correio Brasiliense do endereço de Dirceu gerou tumulto, na véspera, quando chegava em casa. O jornal apoiou o golpe contra Dilma Rousseff e faz parte do grupo Diários Associados. A empresa é alinhada ao senador tucano mineiro Aécio Neves, em outro jornal de sua propriedade: O Estado de Minas.
Carvalho falou ao jornalista Ribamar Monteiro sobre suas expectativas no PT em relação à atuação de Dirceu. Ainda, sobre a agenda que estão sendo preparados em Curitiba para o depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro, na próxima quarta-feira.
Leia, adiante, a entrevista com Gilberto Carvalho:
– No contexto atual, o que significa a saída de José Dirceu da prisão?
– Recebemos com muita alegria a libertação do Zé e sua chegada a Brasília porque, além do aspecto afetivo, é um primeiro sinal do Supremo para conter os excessos da Lava Jato. O STF mostrou que a operação tem limites, não pode continuar fazendo o que quiser, nem interferir na execução do devido processo legal, a não ser para cumprir o que está determina a democracia brasileira.
— O que representa José Dirceu para o PT?
— O Zé é uma uma referência histórica, pedagógica. Ele tem uma lucidez, poder de análise e uma forma de pensar estrategicamente que é muito impressionante, e que tem servido historicamente ao partido. O PT não teria chegado onde chegou se não fosse sua forte capacidade de liderança e de formulação. É um mestre.
— Como vai ser a atuação política de José Dirceu?
— A atuação dele contra o golpe, mesmo com todas as limitações impostas, é muito importante. Mas sabemos que no momento atual, e ele mesmo nos explicitou isso, todos os cuidados serão tomados para cumprir, rigorosamente, aquilo que está determinado nos autos de sua soltura.
Não é de se esperar do Zé uma posição de vanguarda, com presença em atos públicos, envolvimento em debates de grande alcance político, mas sabemos que ele será muito útil nos ajudando a formular novos caminhos nesse momento difícil. Sugerindo, discutindo de táticas, estratégias, sem provocar qualquer problema na execução do processo.
— Como vê o papel da imprensa no episódio da invasão ao prédio onde ele está morando em Brasília?
— É lamentável a posição do Correio Braziliense, que virou um panfleto do ódio contra o PT, celebrando isso sempre que pode. Dois jornalistas desse jornal acabaram publicando o endereço.
E o Zé vai processar, sim, aqueles que invadiram a garagem, porque foi uma ação que prejudicou muito, inclusive sua esposa, vítima do gás pimenta espalhado, e sua filha, que estava numa alegria imensa, e ficou assustada ao ver todo aquele tumulto.
Por meio das câmeras do circuito interno do condomínio estão sendo identificados os invasores, alguns são fotógrafos que, infelizmente, cumprem o triste papel de ajudar a transformar a imprensa não em um veículo de informação democrático, mas em exacerbação do discurso da intolerância.
— Diante do ocorrido, há preocupação em relação à segurança e integridade física dele?
— Infelizmente o ódio que se esparramou pela sociedade fez com que um bando de picaretas fosse perturbar a paz da família do Zé e de todo o edifício, a ponto de a polícia ter de intervir com bombas de gás lacrimogêneo. Eu acredito que isso vai passar em poucos dias.
Essa carga de ódio não tem como se manter.
O Zé está apenas cumprindo o que o STF determinou. Combinamos que não faremos manifestação no prédio, só estaremos lá para defendê-lo do ódio desses que não entendem que a convivência com pontos de vista diferentes é própria da democracia.
— Sobre o depoimento de Lula em Curitiba, quais as expectativas?
— O PT está se mobilizando e já há uma programação vasta. Estamos organizando atos para os dias 9 e 10 de maio, na capital do Paraná, em solidariedade ao Lula. Teremos uma aula pública na Universidade Federal do Paraná, com a presença de juristas. Vamos debater questões que envolvem a Lava Jato as reformas propostas pelo governo Temer.
Estranhamos a posição da Prefeitura da capital paranaense e da Secretaria de Segurança Pública. Ao invés de nos facilitar espaços para acampamento e montagem de um palco, tem criado obstáculos. Na segunda vamos dialogar e tentar um acordo. Até porque quanto mais assistência, mais segurança para todos.
— E como vê a possível proibição, por parte da Justiça, da transmissão ao vivo do depoimento?
— A ideia é acompanharmos ao vivo, por vídeo ou áudio. Se o juiz Moro proibir – parece ter vergonha da transparência, permitindo vazamentos seletivos –, continuaremos os debates programados. Também com teatro, música e outras manifestações. Será um momento histórico contra o golpe e as reformas trabalhista e previdenciária, sem pregação de ódio e baderna.