Rio de Janeiro, 12 de Dezembro de 2025

Dilma admite que ela ou Lula nunca foram de esquerda, mas de centro

Para os segmentos capitalistas mais radicais, no entanto, as concessões dos governos petistas aos mais pobres tornavam os governos de Lula e Dilma alinhados ao socialismo.

Domingo, 06 de Maio de 2018 às 13:46, por: CdB

Para os segmentos capitalistas mais radicais, no entanto, as concessões dos governos petistas aos mais pobres tornavam os governos de Lula e Dilma alinhados ao socialismo.

 

Por Redação - de Buenos Aires e São Paulo

Por mais de uma vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que cumpre pena em Curitiba — e sua sucessora, a presidenta deposta Dilma Rousseff (PT), já sinalizaram ao mercado financeiro que não são de esquerda. Dilma foi mais longe, pouco antes da queda. Contratou o economista ultraliberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.

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Presidenta deposta, Dilma Rousseff transferiu uma fortuna aos cofres da Globo

Lula, por sua vez, orgulha-se de dizer que “os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro” quando ele esteve, por dois mandato, à frente do governo brasileiro. Sua tese era a de que, ao manter os cofres da elite financeira recheados, poderia levar adiante a política de integração social e combate à miséria no país.

Centro

Nesse sentido, criou programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, entre outros, para promover a distribuição de renda. As olhos dos segmentos capitalistas mais radicais, no entanto, estas concessões tornavam o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) alinhado ao socialismo. Com apoio internacional de fundações norte-americanas, em seguida, foi adiante o movimento que derrubou a presidenta Dilma. Em seu lugar, assumiu o então vice-presidente, Michel Temer.

Alinhado à extrema-direita, Temer não apenas restringiu os benefícios sociais; mas passou à prática o mais destrutivo plano de privatizações desde o governo tucano do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele foi eleito na chapa de Dilma Rousseff, em uma composição política com o atual MDB. A legenda disputa, agora, a posição de centro na soma política brasileira com o antigo aliado, diante da inflexão de Dilma Rousseff: o PT.

O diário argentino Página 12, em sua edição deste domingo, traz a entrevista de Dilma, em que avalia o papel da mídia conservadora no golpe de Estado, em curso. Ela aponta a liderança das Organizações Globo na formação da imagem junto ao eleitor médio de uma proposta de esquerda nos governos petistas.

Negociação

A realidade é a outra, diz a presidenta apeada do poder há dois anos. Ela e Lula seriam os verdadeiros representantes do centro. Do campo político que se alinha com o capitalismo, mas tenta suavizá-lo com medidas sociais mais generosas.

A Globo, segundo Dilma, passou a fazer política e criou um ambiente de caos no país. A concessionária de um lote de canais públicos de TV e seus associados patrocinaram uma verdadeira caçada a Lula, bem sucedida com a prisão dele, há exatos 30 dias.

— Ele (Lula) é a única pessoa que ocupa o centro da política. Lula não é uma pessoa que radicaliza. Sempre teve uma prática de negociação; de construção de consenso; de estabelecer diálogo. Se Lula não for candidato, o processo não será verdadeiramente democrático. Numa sociedade complexa como a brasileira; não é possível conviver sem construir relações de consenso e negociação — alega.

Retrocesso

Na linha da negação ao seu afastamento gradual, embora rápido, da Presidência da República; uma vez restrita ao Palácio Alvorada e despejada, definitivamente, logo em seguida, Dilma acredita que o golpe de 2016, em curso até agora, não deu certo. Sem oferecer, no entanto, uma evidência concreta de que o atual grupo no poder foi derrotado.

— Hoje não existe uma pessoa que conheça esse processo; e considere que houve alguma margem para o impeachment. Depois desse primeiro ato veio o golpe; o programa do atual governo. As reformas neoliberais com perda de direitos; e um grande retrocesso em questões fundamentais para o crescimento econômico do Brasil — argumenta.

Ultradireita

No entanto, pondera, o governo “ainda não conseguiu aprovar a reforma previdenciária no Congresso”.

— Eles não nos derrotaram. Eles queriam destruir o PT, eu e o presidente Lula. E qual foi o resultado? Que depois de toda a perseguição é claro não só que Lula é inocente; mas vai primeiro nas pesquisas. O PT é o partido que, como tal, tem o apoio mais popular: 20% contra 1% ou 5% dos demais — pontua.

A meta dos segmentos de ultradireita, no país, “é eliminar o PT da face da Terra”, predisse Dilma Rousseff, aos jornalistas.

— Ele (Lula) é inocente, portanto, é uma perseguição política. Eles o colocaram na prisão para impedi-lo de participar das próximas eleições. O partido conservador mais forte hoje é o partido da mídia. O partido de cinco grupos oligopolistas do Brasil. A direção dessa festa é a TV Globo. O partido da mídia e o partido judicial uniram-se para tirar Lula do processo eleitoral — acrescenta Dilma.

Crescimento

O conjunto conservador de meios de comunicação, que Dilma chama de “grande mídia”, na opinião dela é, hoje, a mais alta instância judicial do país. Ao longo dos governos de Lula e nos seis anos em que a presidenta ocupou o Palácio do Planalto, foram destinados mais de R$ 6 bilhões apenas para as Organizações Globo, segundo o site Transparência Brasil. Ao longo de seu período no governo, Dilma também passou a perseguir a mídia alternativa, a pedido do cartel midiático que domina o setor.

Sem o mea culpa do erro estratégico de tentar se alinhar à direita e aos meios conservadores de comunicação, Dilma passa a culpá-los, diretamente, pela queda do governo petista.

— Eles (a mídia conservadora) julgam; condenam e até se dão o prazer de dizer como os juízes do tribunal devem votar. Eles alcançaram um clima de catástrofe. Mas durou muito pouco porque mesmo na Justiça, onde o princípio da presunção de inocência; pedra angular do Estado democrático, não é respeitado, Lula consegue discutir as condições. Pergunta como eles o acusam. Reivindica seu direito de defesa. E as pessoas veem isso. Isso explica seu crescimento sistemático, mesmo depois de ir para a prisão — conclui.

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