Rio de Janeiro, 28 de Dezembro de 2025

Compra de votos escancarada parece ‘sexo explícito’ afirma ex-chanceler

“O problema é você ter que negociar favores, verba. Como você está vendo agora. Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", dispara.

Sexta, 28 de Julho de 2017 às 12:19, por: CdB

“O problema é você ter que negociar favores, verba. Como você está vendo agora. Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", dispara.

 

Por Redação - de São Paulo

 

Ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, o embaixador Celso Amorim fez duras críticas ao sistema de "toma lá, dá cá" implantado nas relações entre o governo Michel Temer e o Congresso.

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O embaixador Celso Amorim, chanceler nos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aponta para o risco de novas medidas totalitárias O ex-ministro Celso Amorim apoia os movimentos sociais contra o golpe de Estado, em curso

— Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito — disse Amorim em entrevista à agência britânica de notícias BBC Brasil.

Sem plano b

Ele também atacou a política externa do governo temer, que reduziu a condição do Brasil de protagonista internacional a um mero coadjuvante.

— Nos melhores momentos, (a política externa) é passiva. Nos piores, é desastrada — afirmou.

Amorim também destacou que as eleições de 2018 devem contar com a participação do ex-presidente Lula. Para o diplomata, "não pode haver um cenário presidencial" nas eleições presidenciais de 2018 sem a participação de Lula, já que ele seria o único o a reunir condições capaz de derrotar "as ameaças de direita e de extrema-direita".

— Nessa coisa não tem que ter plano B — avisa.

Golpe militar

Sobre o fato do ex-presidente ter sido denunciado, Amorim afirma ter "certeza que nenhuma dessas acusações se sustentará. Acho que as pessoas percebem que as acusações são infundadas.

— Acho que o povo não vai cair nessa, e que o Lula tem muita chance de ser eleito — afirma.

O ex-chanceler acrescentou, na entrevista, acreditar que a presidenta deposta Dilma Rousseff caiu em meio a um golpe de Estado.

— Pessoalmente, acho que foi um golpe. As formalidades foram seguidas, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso estão funcionando, então não é um golpe militar, claro. Mas se você teve uma eleição que elegeu uma chapa com um determinado projeto de país - pode até ter errado na execução. Isso é outro problema — disse.

Extrema-direita

E continua:

— Mas um projeto que pressupõe maior inclusão social, autonomia na política internacional, não incluía privatizações como as que estão sendo feitas agora, nada disso. E você substitui, através do impeachment, por um projeto oposto - isso é um golpe, a meu ver. Ainda que os meios não tenham sido ilegais do ponto de vista formal.

Para o ex-chanceler, "as eleições de 2018 serão muito importantes, e temos riscos até da (ascensão de um candidato de) extrema-direita, graças à campanha feita no Brasil. O objetivo foi desmoralizar o PT, mas desmoralizou a política. Os candidatos que se apresentam como não-políticos, da extrema-direita ou da direita mesmo, podem se beneficiar disso", analisa.

Critérios diferentes

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Para ele, "o Lula é a única pessoa que tem capacidade de mobilizar o povo para derrotar essas ameaças de direita e de extrema-direita. Não é nem para ganhar do PSDB tradicional, não, é para ganhar de pessoas que são antipolíticas e antidemocráticas".

— Criminalizaram o fato de o Lula receber determinada quantia pelas palestras que fez. Gente, isso é o que faz o Clinton, o Bush... já que a gente gosta de ver exemplos fora. Quase todos esses líderes têm uma fundação. Você acha que eles tiraram dinheiro do bolso deles para botar na fundação? O Instituto Lula é auditado com uma lupa que eu nunca vi aplicada a outros institutos. Eu não tenho nada contra o Instituto Fernando Henrique Cardoso, acho bom que haja. Mas são critérios diferentes, nunca ninguém nunca pensou (em fiscalizar) — afirma.

Sexo explícito

Para Amorim, a crise política brasileira somente será resolvida por meio de "uma reforma política que dê legitimidade ao poder no Brasil. Senão, fica impossível. Com o Congresso sendo eleito da maneira como é eleito hoje, qualquer governante vai ser obrigado a entrar em negociação”.

“Não estou falando de negociar politicamente. Isso é normal. Em qualquer país do mundo, você faz concessões para fazer uma coalizão. Não é isso. O problema é você ter que negociar favores, verba. Como você está vendo agora. Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", dispara.

— Falaram tão mal da Dilma, mas a Dilma não mudou a composição de Comissão nenhuma (referência à substituição de última hora de membros da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em julho para rejeitar denúncia contra Temer). E isso de pessoas do mesmo partido, como o deputado que soube pelo jornal que tinha sido substituído por outro — destaca.

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