Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2024

Butão: destino de mistério, paisagens idílicas e ótima comida

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Domingo, 23 de Abril de 2017 às 12:09, por: CdB

O Butão é um país asiático, localizado ao Sul do continente. Porém, fora seus templos e paisagens naturais, frequentemente citados em roteiros turísticos fora dos grandes centros, há muito o que descobrir sobre este pequeno destino

 

Por Redação, com agências internacionais - de Thimbu

 

A natureza é o maior patrimônio deste pequeno país, o Butão. Uma jóia encrustada no maior conjunto de montanhas da Terra. Um destino capaz de encantar os amantes dos grandes mistérios do mundo, em meio a paisagens de tirar o fôlego. Trata-se de um país no qual a fauna e a flora são preservadas como verdadeiros tesouros nacionais.

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A fortaleza de Paro, um dos símbolos nacionais do Butão

Em recente texto publicado por Eduardo Shimahara, é possível conhecer os atrativos a serem descobertos no Butão.

“O Butão é um país asiático, localizado ao Sul do continente. Porém, fora seus templos e paisagens naturais, frequentemente citados em roteiros turísticos fora dos grandes centros, há muito o que descobrir sobre este pequeno destino", afirma Shimahara.

Bons motivos

Conheça, agora, 10 razões que fazem do Butão um país a ser visitado:

1. Isolamento


Viajar para o Butão é literalmente viajar para um outro universo que parece ter parado (ou avançado) no tempo. Assim que você pousar no aeroporto de Paro, você vai entender do que estou falando. O país conhecido como Druk Yul (Terra do Dragão, na língua local Dzonga) é comumente descrito como a última Shangrilá.


Com um mundo cada vez mais globalizado (talvez ocidentalizado deva ser a melhor palavra para descrever nossa situação atual), onde todas as cidades parecem convergir para as mesmas marcas e estilos de vida, este pequeno país localizado na cordilheira do Himalaya resiste. Fiquei muito feliz em não ver nenhum dos conhecidos restaurantes de fast-food, outdoors das grandes marcas, entre outras tantas imagens tão comuns no Ocidente.


Graças ao sábio governo de seus cinco reis ao longo da história, a abertura para o Ocidente e seus visitantes tem sido gradual. O país recentemente se tornou uma “Monarquia Constitucional”, onde ainda figuram o rei e rainha como cabeças do Estado, mas com poder distribuído e um Primeiro Ministro. Quando a transição para a democracia foi anunciada, o povo Butanês chorou e se desesperou, o que mostra a sabedoria de seus monarcas ao longo do tempo. Esta devoção do povo, em especial ao 4º Rei – Jigme Singye Wangchuck, pode ser vista e sentida ao longo de toda a viagem.

Fotos dos reis e rainhas estão nas paredes das casas, restaurantes, hotéis, e em todos os lugares. O rei e rainha atuais não vivem num palácio ou fortaleza, mas numa pequena casa bem escondida na floresta ao lado da imponente fortaleza de Thimphu – a capital – e voam em aviões comerciais comuns. A passagem de poder e transição para uma democracia foi uma decisão do 4º rei.

Este isolamento criou um cenário absolutamente único no mundo, que pode ser visto nas roupas, costumes, e principalmente na incrível arquitetura. E se ele não for suficiente para deixar você de queixo caído quando chegar, você ainda pode colocar algum vilarejo rural no roteiro. A pequena vila de Rukha, recentemente, depois de dois anos de preparação, abriu-se para receber turistas interessados no Butão literalmente intocado.

Para se ter uma ideia, quando chegamos à vila, o responsável pelo turismo local organizou uma pequena cerimônia para nos receber com danças e canções que datam do século VIII, afinal fomos os primeiros ocidentais a visitar o lugar e se hospedar no vilarejo. Para chegar ao local são necessárias seis horas de caminhada, mas que valeram cada passo.

O extremo isolamento e a hospitalidade e humildade de seus habitantes nos permitiu uma experiência absolutamente única e que nunca vou esquecer. A vila de Rukha é uma das seis vilas que tem permissão do governo para pescar um específico tipo de truta e prepará-la defumada (Nga-Dô-Tshem). Este peixe é pescado depois de sua desova no rio e é um dos pratos preferidos da realeza do país. Sempre que existe algum evento real, as pessoas desta comunidade têm bastante trabalho para suprir os “banquetes”.

2. Turismo guiado


Como forma de gerar renda e preservar a cultura do país, um dos grandes fatores que trazem dinheiro ao Butão é o turismo. Mas você só faz turismo no país, guiado por agentes autorizados e a um custo mínimo de US$250,00 por dia e por pessoa (duzentos e cinquenta dólares americanos). Este valor vai incluir todos os seus traslados, todas as suas refeições e toda a sua hospedagem (que, no nosso caso, incluiu desde pernoite em casa de família Butanesa na vila Rukha, até resorts 5 estrelas como o caso dos hotéis Termalinca e Nak-Sel).

Provavelmente neste momento você torceu o nariz, seja pelo preço ou pelas palavras “turismo guiado”. Bem, acredite, eu devo ser uma das pessoas mais avessas a turismo guiado neste planeta, mas especificamente neste caso, isto mudou minha concepção radicalmente e posso dizer que fiz pelo menos dois incríveis amigos (Dorji e Sangê) que nos acompanharam ao longo de oito dos mais incríveis dias de minha vida.

O país tem dezenas de guias e agências credenciadas e uma boa escolha é absolutamente vital neste sentido, chegamos a cruzar turistas reclamando um pouco do inglês de seus guias ou ainda do conhecimento a respeito da história. O seu guia e o seu motorista serão parte integrante de sua viagem e indicação é uma das principais formas de ter acesso a serviços já testados. No nosso caso, viajamos com o pessoal da Rainbow Tours and Treks e assino embaixo do serviço deles. Dorji e Sangê foram absolutamente impecáveis além de amigáveis e cheios de história e informação para contar.

O turismo guiado vai te permitir conhecer melhor a cultura do país em cada minúsculo detalhe. Você previamente envia para a agência butanesa os temas de seu interesse (por exemplo: espiritualidade, cultura, vida rural, etc) e a agência desenvolve um roteiro específico para você (e seu grupo se for o caso) e de acordo com suas preferências, se seu guia for bom, pequenas adaptações são possíveis.

Para ter um exemplo disso, percebemos que nossa primeira refeição (o guia e motorista se sentarão na sua mesa apenas se os convidarem), os pratos eram um tanto ocidentalizados (macarrão, carnes assadas, etc) e pedimos para que isto fosse radicalmente mudado, queríamos comida local em todas as refeições. A partir daí foi uma surpresa atrás da outra, desde o onipresente Ima-Datshi (literalmente pimentas cozidas com queijo) até bebidas artesanais como o Ára (aguardente feito de trigo e arroz) e Ban-Chan (aguardente de milho que pode levar um ovo cru de bônus – longe de ser meu preferido).

Além disso, um bom guia vai adaptando o roteiro de acordo com aquilo que você for provando e gostando. Por isso, de novo, a regra de ouro: procure guias por indicação de pessoas que já estiveram por lá.

3. Pessoas


Minha primeira imagem do Butão foi a de um funcionário do aeroporto de Paro, vestido em seu tradicional Ghô (falaremos dos fantásticos tecidos do país logo mais), anunciando a cada um dos passageiros (um por um) que tinha encontrado um tablet dentro do avião recentemente pousado e estava atrás do dono.

Outra imagem que nunca vou esquecer é a do responsável pelo turismo em Rukha, nos recebendo com uma formal saudação “Kuzuzampô-la”, fazendo uma reverência e mostrando as palmas de suas duas mãos num sinal de respeito, ao mesmo tempo em que nos guiava para uma parte do terreno que ele tinha previamente forrado com folhas de pinheiro onde nos sentamos, para em seguida nos servir chá e milho torrado, nos dando as boas vindas para sua pequena vila.

E por fim, nosso guia se despedindo de nós algumas horas antes do tour terminar pois sua esposa tinha acabado de iniciar o trabalho de parto e estava indo para o hospital. Não fosse nossa insistência, possivelmente Dorji nos guiaria até o fim de nossa jornada. Naquele momento estava tão preocupado em nos deixar antecipadamente no hotel, que seu desconforto era visível.

Chegou a dizer que passaria no hospital e retornaria, mas de fato, nos despedimos com um caloroso abraço que deixou lágrimas em nossos olhos e dissemos que ele já havia cumprido seu trabalho e que fosse cuidar da família.

Estes três casos não são casos isolados. O povo no Butão é absurdamente amigável, respeitoso e hospitaleiro. Antes do Butão eu estava há quatro semanas caminhando pelos Himalayas Ocidentais (Nepal) onde achava ter conhecido o povo mais hospitaleiro e amigável do mundo, mas os butaneses, de fato, levaram isto para um outro nível.

4. Gross National Hapiness (GNH) ou Felicidade Interna Bruta


O 4º rei do Butão Jigme Singye Wangchuck, de longe o mais adorado por seu povo, parece de fato ser um homem visionário. Percebendo que a “ocidentalização” e o tal chamado “progresso” poderiam trazer ao seu país coisas boas mas também bastante ruins, como a devastação ambiental e a perda da cultura, pensou que deveriam haver outras formas de medir economia e desenvolvimento, que fossem mais holísticas e escapassem de números ocos como o caso do Produto Interno Bruto (PIB).

Para isso, desenvolveu uma proposta absolutamente única no planeta e colocou na Constituição do Butão o conceito de Felicidade Interna Bruta como algo a ser medido e acompanhado em todo o país. Aqueles que hoje (como eu) estão dedicados a estudar e aprender sobre formas “alternativas” de desenvolvimento, ficarão pasmos ao ter contato com o conceito, seus pilares, e mais ainda, ao perceber como questões como a vida cultural no país fazem parte integrante do GNH.

Na ultima pesquisa, realizada em 2010 com mais de 7 mil pessoas que responderam, o índice ficou em 0,743 (de um máximo de 1) e mais de 40% desta população se declarou “feliz”. Mas não se engane. A aparente inocência do conceito, traz nove diferentes domínios que são: Bem Estar Psicológico, Saúde, Uso do Tempo, Educação, Diversidade Cultural e Resiliência, Boa Governança, Vitalidade da Comunidade, Diversidade Ecológica e Resiliência, Padrões de vida. Ao todo, os nove domínios são medidos por 33 indicadores.

Alguns turistas porém, parecem desmerecer o conceito “Perguntei para uma mulher num vilarejo, se ela conhecia o que era FIB, e ela me disse que não” diz uma turista. Obviamente, pensando pelo outro lado, se formos a alguma vila rural em qualquer país do mundo e perguntarmos o que é PIB, talvez a resposta mais provável, seja “Não sei”, então, eu particularmente não vejo problema nisso.

O GNH acontece junto com uma nova proposta de desenvolvimento “New Development Paradigm” que leva em consideração muitas outras camadas além do clichê econômico. No pilar saúde, por exemplo, o governo do Butão cuida de todas as despesas relacionadas a doenças. Se for necessária uma viagem para o exterior para um caso de transplante, o sistema de saúde nacional cuida de tudo.

5. Natureza


Mais de 70% do território do país é totalmente preservado. Incrustrado nos Himalayas, as paisagens tendem a ser sempre algo de tirar o fôlego. Rios de águas limpas e transparentes, montanhas imensas com picos nevados (o Butão tem algumas montanhas com mais de 7 mil metros), florestas habitadas por animais que até algumas décadas atrás eram tidos como “mitos”, como o caso do Tákin que vive em altitudes acima dos 4 mil metros. O estranho animal nacional que lembra uma mistura de um alce com um búfalo ou ainda o panda vermelho, que pode ser visto nas árvores em lugares mais isolados.

Uma das imagens mais clássicas (e mágicas) do Butão são grupos de 108 (tido como número sagrado) estacas com bandeiras brancas fincados no meio de florestas. Estas estacas são fincadas no solo quando alguém da família morre. Toda a comunidade ajuda a família na construção deste “sitio sagrado” e o corpo é cremado. As cinzas do corpo, misturadas a barro e água, são usadas para fazer as pequenas esculturas chamadas “tsa-tsa” e distribuídas por lugares sagrados como stupas e templos.

Graças ao forte pilar “ambiental” no GNH, o governo está tentando promover uma gradual mudança cultural para que as estacas (feitas a partir de árvores inteiras) sejam substituídas por cordas e amarradas em círculos com as bandeiras.

Por conta da cultura totalmente voltada e fincada sobre os pilares do Budismo, animais tendem a ser respeitados e não maltratados. Cachorros vadios, por exemplo, são esterilizados e alimentados pelos governos locais até o fim de suas vidas. Gatos então, têm um lugar especial na casa das famílias Butanesas, costume que acompanhou o fato deste animal caçar os ratos que atacam os estoques de grãos durante o inverno.

6. Festivais e Cultura


Todas as províncias do país organizam festivais culturais, onde danças e músicas típicas e únicas do Butão são celebradas. Estes festivais acontecem em datas diferentes espalhados por todo o território. O início do mês de outubro, por exemplo, recebe uma explosão de turistas (na maioria europeus e os vizinhos chineses) para ver o festival de Thimphu, a capital, um dos mais importantes e maiores do país e que acontece literalmente ao lado da casa do rei e da rainha.

O festival é gratuito e oferecido a toda a população e também aos turistas que são recebidos com respeito (e que, acredito, devem também respeitar os costumes locais vestindo-se de acordo para as cerimônias). Em geral, as apresentações acontecem nas fortalezas ou templos. São comuns danças e cantos.

A cultura do Butão está ainda bastante preservada, seja na sua língua natal, na religião Budista, nas danças e cantos, na comida, em esportes como o arco e flecha e dardo (são dardos bem pesados, com cerca de 300g, e arremessados a 30m do alvo) e principalmente na forma de se vestir. Professores de cultura frequentam universidades públicas por cerca de quatro anos e a seguir são enviados para diversas escolas no país para ensinar a cultura Butanesa para jovens e crianças.

Durante nossa visita a Rukha village, o grupo de aldeões que dançou e cantou para nós era composto das mais diversas idades, prova de que músicas e danças do século VIII ainda permeiam a cultura em todas as gerações. Outra forma de manter a cultura é promovê-la é através das roupas, mas isso, sem dúvida, é um capítulo a parte.

7. Roupas


Ao pousar no aeroporto de Paro (aqui cabe a dica interessante: se você estiver voando a partir de Kathmandu no Nepal, fique na janela ao lado esquerdo do avião para o trecho Kathmandu-Paro ou do lado direito na direção oposta. A razão para isso é simples – durante o vôo é possível ver parte da cordilheira dos Himalayas com destaque à incrível Chomolungma, mais conhecida como Monte Everest na imponência dos seus 8.848m de altura) você já se sente em outro mundo ao ver os campos de arroz pontilhados por casas de arquitetura única e ao perceber os funcionários do aeroporto vestindo roupas que você não costuma ver todos os dias.

Os homens vestem o ghô, uma espécie de “kimono” que cobre até a altura dos joelhos. Nosso incrível guia “Dorji” nos deu uma aula enorme sobre a roupa, cheia de simbolismos, como por exemplo o fato da parte interna ser coberta de um tecido de algodão bem macio – para lembrar ao homem como deve lidar com sua família. Já a parte externa é coberta por tecidos dos mais diversos tipos, desde a seda bruta até o algodão. Os bordados são todos feitos à mão.


Homens quando visitam espaços como as fortalezas (que são prédios administrativos durante o dia) usam também um tipo de echarpe de algodão bruto que é o símbolo do servidor civil. A echarpe cobre o ombro e deve ser rapidamente dobrada sobre o punho, caso se cruze com o rei ou rainha.


Para as mulheres, a roupa tradicional é a Kira. A parte de baixo, lembra um sarong (canga) enrolada no corpo e a parte de cima é uma blusa e o ombro também coberto por uma echarpe específica. Todas as roupas são feitas à mão e os intrincados e únicos padrões das kiras principalmente, são trançados fio a fio por pessoas que moram nas aldeias do leste do Butão. Os tecidos são absurdamente bonitos e detalhados.

Uma kira de seda bruta chega fácil a patamares de US$ 1,500.00 (mil e quinhentos dólares) e quando encontro pessoalmente uma das artesãs que me explica que demorou um ano inteiro para concluir uma das kiras que está ali para ser vendida, me sinto absolutamente envergonhado em tentar negociar qualquer preço. Simplesmente sorrio, agradeço pelo seu tempo e digo que não posso comprar o produto.

Ao contrario de países como Índia e mesmo o Nepal, o artesão (ou comerciante) não vai vir correndo atrás de você perguntando qual é o preço que você oferece para iniciar uma negociação. Ele respeita o seu próprio trabalho e mercado não parece faltar ao ver as centenas de milhares de mulheres ostentando orgulhosamente suas kiras absolutamente únicas durante os festivais. Nenhuma kira é igual a outra.

8. Templos e fortalezas


Com seu passado militar de unificação das diversas províncias em uma única Nação, o Butão é rico em fortes imensos, com suas lisas paredes de cor branca e tetos avermelhados. Para entrar num forte ou templo, é preciso vestir calças compridas e as mulheres devem cobrir os ombros e pernas. Isso se deve ao fato da bandeira Butanesa, com seu lindo dragão branco, estar no local e então merecer o devido respeito.


Os fortes são obras de arte. Ao olhar de perto todo o trabalho na madeira, incrivelmente detalhada e pintada a mão, dá pra se ter uma ideia da disciplina e cuidado que seu povo tem com os monumentos nacionais. Por dentro, os fortes são um labirinto, uma estratégia típica de defesa para casos de invasão. Além disso, espalhados pelo país todo (em cada vilarejo, em cada forte e, às vezes, no meio de florestas) estão templos e estupas (que representam o Buddha) lindíssimos.


O alfabeto Butanês, trazido do Tibet, é uma arte a parte com suas intrincadas letras espalhadas por rodas de oração que são empurradas por pessoas entoando mantras e orações. As estupas seguem estilos diversos. A estupa Tibetana – que tem o formato de um comprido muro, a estupa Nepalesa que tem os olhos que tudo vêem e a estupa Butanesa, quadrada e com telhado avermelhado. Junto as estupas, principalmente, é fácil ver as bandeiras coloridas (Lungta) que representam o cavalo que corre pelo vento espalhando boas notícias.


O templo mais visitado do país (único lugar onde você vai certamente cruzar com centenas de turistas) é o Ninho do Tigre – Taktshang Goemba –, que é indescritível. Situado na borda de um penhasco perto da cidade de Paro, é visita absolutamente obrigatória e, melhor ainda se deixada para o último dia, como forma de coroar sua jornada. Mesmo para os viajantes com mais milhas espalhadas pelo mundo, ao virar a pequena curva à esquerda e dar de cara com o lugar, a primeira sensação é de deixar o queixo caído. Talvez comparável a imagens como a vila de Rocamadour, na França, ou Meteora, na Grécia, mas ainda assim, absolutamente único e sensacional.

9. Comida


Butaneses gostam de comida apimentada. E mesmo para alguém como eu que já encarou alguns “dragões”, como a indiana Bhut Jolokia e a latina Trinidad Scorpion, o Butão foi uma experiência “quente”.


A comida no país é cheia de simbolismos e temperos. O arroz está presente em toda a refeição (inclusive no café da manhã) em suas diversas variedades, como o branco e também o arroz vermelho típico do país. Os locais comem com as mãos muitas vezes, seguindo costumes parecidos com a Índia, onde jamais se toca a comida com a mão esquerda, apenas com a direita (já que a esquerda é utilizada para a higiene pessoal nos banheiros que não tem papel higiênico e sim um pequeno balde com água – use sua imaginação para pensar no “como”).

O desafio de comer com apenas uma das mãos se aprende fácil, mas para cortar os chapatis apenas com a mão direita (pães indianos) é preciso alguma prática. Se você tocar um dos pães com a esquerda, provavelmente ninguém mais da mesa vai tocar neles depois.


Ocidentais sempre recebem garfos, facas e colheres, portanto, se não quiser se aventurar, não se preocupe. Para os menos aventureiros, pratos como o Ima-Datsi (pimentas cozidas com queijo) podem ser picantes, mas são bastante saborosos e depois de quatro dias comendo isso, provavelmente nem vai suar mais. O Kewa Datsi é uma versão bem menos apimentada feita com batatas, pimenta e queijo. Outra curiosidade vem dos brotos de samambaia refogados – Nakay Tshoem – que também são um prato comum no interior de Minas Gerais no Brasil. Mômos são bolinhos de massa cozidos no vapor (assim como os Gyozas nos restaurantes japoneses) e deliciosos, acompanhando uma bela cerveja Butanesa – Red Panda ou ainda a Druk 11,000 (que tem 8% de álcool).


Para quem gosta de aventuras, vale provar o “suja”, um chá temperado com sal e manteiga (lembra uma sopa), difícil de fazer e apreciado pelos habitantes locais. O izê é um pratinho de pimentas picadas junto com gengibre que podem arrancar lágrimas dos mais incautos. Galinha, porco, vaca são também servidos – embora a população evite de certa forma comer, por conta dos preceitos Budistas de respeito a todas as formas de vida.

10. Espiritualidade


Não há como separar espiritualidade e Butão. Seja nas florestas de pinheiros e ciprestes, nos rios que descem das mais altas montanhas dos Himalayas, seja vendo as estacas com bandeiras brancas no meio de florestas verdes, parece haver algo mais no ar. É possível ver o Dragão Branco, avistado por um dos fundadores da Nação, ao sentir o vento que corta as florestas. E a cada penhasco por onde passamos, nossos guias assobiavam para chamar o Lungtha (o cavalo do vento) e recebiam em troca, uma leve brisa que refrescava a caminhada.


Ao entrarmos no Tiger’s Nest nosso guia se prostra 3 vezes – segundo a tradição Budista. Ali, nada se pede, apenas se agradece. A seguir nos aponta um tapete no chão dentro de um dos locais mais sagrados do país, e nos convida a meditar ou apenas a agradecer. Nos sentamos, fechamos os olhos por alguns instantes e o leve cheiro de incenso nos leva para longe e, ao mesmo tempo, para perto. Minha curta meditação me traz a mente palavras e sensações de imensa gratidão por tudo que pude experimentar e viver neste lindo país nas montanhas do Himalaya, que me fez pensar que talvez, de fato, outros modelos sejam possíveis.

Onde felicidade seja o principal indicador do seu povo e onde monarcas decidem abrir mão do poder em prol da democracia. Resta saber se a democracia será capaz de manter um equilíbrio entre modernidade e ancestralidade. O “desenvolvimento main stream” trouxe a lugares como Ladakh (India) ou Kathmandu (Nepal), a inequalidade, a criminalidade, a miséria, a fome e o lixo espalhado pelas cidades e rios. E enquanto isto não acontece no Butão, é melhor você correr pra lá e sonhar um outro mundo possível.

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