Fiasco internacional e aumento da pressão no Judiciário levam parlamentares a avaliar plano B imediato. Perdas substantivas na base aliada colocam governo Temer em xeque.
Por Redação, com agências internacionais - de Brasília e Oslo
A série de gafes cometidas na viagem ao exterior, encerrada nesta sexta-feira; as pesquisas de opinião que apontam para a quase unanimidade dos eleitores contra o governo; o agravamento das denúncias no Judiciário e a permanência do ministro Edson Fachin na condução da Operação Lava Jato, no Supremo Tribunal Federal (STF) formam a tempestade perfeita para o presidente de facto, Michel Temer, no Congresso. A base aliada ao peemedebista “está pior do que geleira no verão: derrete”, disse um parlamentar tucano, à reportagem do Correio do Brasil.
Sob a condição de se manter no anonimato, “porque essa turma do Temer é muito perigosa”, disse, o filiado ao PSDB nordestino avalia que seus colegas deixarão a base do governo “queiram ou não os dirigentes do partido”:
— Não há como permanecer na defesa de um grupo político que se fragmenta, dia após dia, em denúncias de corrupção; erro em cima de erro na condução da economia. E o pior, na ilusão de que a maioria dos deputados e senadores precisam de Temer para aprovar as reformas trabalhista e previdenciária.
Sem base aliada
Ele acrescentou que “a (reforma) trabalhista passa no Senado, apesar da recente vitória da oposição na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado”.
— A da Previdência, embora tenha muitos pontos a serem discutidos, também é vista como imprescindível para o controle das contas públicas. Com ou sem Temer no Palácio do Planalto — acredita.
Ainda segundo o parlamentar tucano, “atualmente, a presença de Temer no governo mais atrapalha do que ajuda na aprovação dessas reformas”.
— Diante da possível denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), que deve desembarcar no STF na próxima semana, tanto o PSDB quanto os demais partidos da base aliada avaliarão se será possível seguir no apoio à permanência de Temer no governo. Caso não seja possível mantê-lo, sempre é possível recorrer à Constituição. Desde que se cumpra o que está disposto no texto constitucional, o ‘Plano B’ estará sempre disponível. A democracia brasileira está consolidada e vai suportar, com grandeza, esse novo solavanco — afirmou.
Nova gafe
A curta permanência de Michel Temer na Noruega, encerrada nesta sexta-feira, foi marcada por novas gafes e protestos populares. Na reunião pública entre Temer e a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, o peemedebista transferiu o reinado de Harald V para a Suécia. Confundiu o Parlamento norueguês com o brasileiro e ouviu os gritos de “Fora, Temer!”, no lado de fora.
O mandatário foi alvo de dezenas de manifestantes. Eles exibiam cartazes pedindo respeito à democracia, aos direitos humanos, aos indígenas e contra o afrouxamento no combate ao desmatamento da Amazônia.
Extermínio indígena
A índia Sônia Guajajara, líder indígena com inserção mundial na luta contra o extermínio, em curso no Brasil, esteve presente ao protesto. Para Sônia, Temer representa uma ameaça direta aos povos indígenas no Brasil.
— Temer não cumpre com suas obrigações e não respeita os direitos constitucionais. Os seus ataques aos direitos dos povos indígenas e ao meio ambiente são de uma magnitude nunca antes vista — afirmou.
O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou em 29% de 2015 para 2016. O Congresso brasileiro está prestes a tratar um grande número de propostas que devem enfraquecer a legislação ambiental. As propostas visam reduzir unidades de conservação no país. Para o diretor norueguês da Rainforest Foundation, Lars Løvold, a Noruega precisa exigir que o Brasil cumpra com os seus deveres conforme acordos internacionais e nacionais.
As ONGs organizadoras do protesto pedem às autoridades norueguesas firmeza no diálogo com Temer. E pressão política, para que ele providencie proteção para os povos indígenas; assim como o cumprimento das obrigações internacionais para redução do desmatamento e das emissões do Brasil.
Perturbado
Investigado sob suspeita de obstrução da Justiça, corrupção passiva e formação de quadrilha, Temer ficou visivelmente nervoso com a cobrança da primeira-ministra Solberg. Em seu discurso, ela lhe disse, sem reservas, que a Noruega está "preocupada" com os efeitos da operação Lava Jato. E mais: o Brasil precisa passar uma "limpeza" de corruptos.
— Estamos muito preocupados com a (Operação) Lava Jato. É importante fazer uma limpeza — disse Erna Solberg.
Perturbado, Temer tentou, sem sucesso, manter o equilíbrio. Encerrou sua visita ao reino da Noruega confundido-o com o da Suécia. Após afirmar que se encontraria com o “Parlamento brasileiro”, quando na verdade a reunião seria com o Parlamento local, disse que, em seguida, faria uma visita ao “rei da Suécia”. Seu encontro estava marcado, no entanto, com o rei norueguês Harald V.