Presidente de facto e cada vez mais fraco junto à sua base aliada, Temer ainda tenta um último lance, mesmo sem previsão de quórum em Plenário.
Por Redação - de Brasília
O presidente de facto, Michel Temer, está disposto a levar até as últimas consequências a sua estratégia para permanecer no poder. Na noite passada, ainda que incrédulo quanto à chance de haver quórum em Plenário para a votação de parecer sobre a investigação de que é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF), Temer reuniu ministros e deputados da base aliada. Segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, o ambiente no encontro era de extrema apreensão.
Em mais um jantar antes da votação, marcada para dia 2 de agosto na Câmara, ele alertou aos convivas que poderá demitir ministros para que possam votar pela inadmissibilidade da ação no STF. Na chegada ao Palácio do Jaburu, os deputados confirmaram que ministros com mandato na Câmara dos Deputados podem reassumir seus postos. Eles voltarão ao parlamento, temporariamente, para votar contra a denúncia.
— Todos os ministros vão se licenciar. Todos — disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Em Plenário
Líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE) também comentou o assunto. Mas preferiu não confirmar. Citou que, em reunião no Palácio do Planalto, a questão foi levantada e está sendo discutida.
— Foi até uma sugestão dos parlamentares que participaram da reunião de hoje à tarde — desconversou.
Moura é favorável à ideia, que não é nova no governo Temer. Em abril, o presidente decidiu que iria exonerar todos os ministros com mandato na Câmara. Assim, eles poderão participar da votação em plenário da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma da Previdência, prevista inicialmente para ser colocada em pauta em maio; mas que ainda não foi levada ao plenário.
Votação
No mesmo mês, Temer exonerou os ministros Bruno Cavalcanti, das Cidades; José Mendonça Filho, da Educação; e Fernando Bezerra Filho, de Minas e Energia, para reassumirem as vagas de deputado federal e votarem na projeto da reforma trabalhista, que foi aprovada.
— A presença dos ministros no plenário é a certeza do governo estar presente na votação. Então, os ministros retornarão para poder votar, se essa for a decisão tomada, na certeza de termos a presença do governo lá dentro — disse Moura.
A equipe de ministros de Temer conta com 14 deputados federais. Mas, neste caso, apenas 13 deputados terão voto, uma vez que Raul Jungmann (PPS-PE), ministro da Defesa, é suplente de Mendonça Filho (DEM-PE), que será outro a deixar temporariamente seu cargo para voltar à Câmara.
Sem quórum
Embora esteja disposto a lançar mão de quaisquer expedientes para se manter no cargo, Temer não acredita que haja quorum para votar denúncia contra ele na quarta-feira (2). O peemedebista tem defendido que seja convocada nova sessão parlamentar na segunda semana de agosto.
Uma sondagem feita por aliados mostra que a tendência preponderante é a de obstrução, por parte dos adversário. Caso ocorra, inviabilizará a votação. O Palácio do Planalto reconhece que não conta com 342 parlamentares em sua base aliada. E a tendência é que o número de votos favoráveis a Temer caia ainda mais. As últimas pesquisas de Opinião mostram um governante cada vez mais fraco e desprezado.
O grupo de estrategistas do Palácio do Planalto, inicialmente, preferia adiar, ao máximo possível, a votação. Mas, agora, considera que um adiamento seria prejudicial. Na avaliação de seus assessores, enquanto a denúncia permanece em aberto, não será possível votar mais nada. Nenhuma reforma governista passaria em um Plenário conflagrado.
Termômetro
Diante do impasse, o mercado financeiro eleva o tom contra o peemedebista, que prometeu entregar a reforma da Previdência.
O Palácio do Planalto teme, ainda, que as delações premiadas de Lúcio Funaro e de Eduardo Cunha venham a público. Isso tende ampliar o desgaste na imagem de Temer e afastar, ainda mais, os votos que lhe restam na Casa.
Um novo encontro está agendado para este domingo, com integrantes da base aliada. O número de parlamentares presentes servirá como um termômetro para a possível votação, na semana que vem.