Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Associados de Cabral abrem rede de bares na orla do Rio

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Quarta, 01 de Fevereiro de 2017 às 08:55, por: CdB

Por trás das tulipas de chope, estão nomes e relações muito próximas ao maior escândalo de corrupção da história do Rio de Janeiro

Por Redação, com Sportlight - do Rio de Janeiro:

 

A expansão atípica de um bar cujos registros apontam para a abertura de quatro filiais nos pontos mais caros do Rio de Janeiro em apenas cinco meses no segundo semestre de 2016 em meio a grave crise econômica, tem um ponto a se destacar: a proximidade dos sócios com Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes. O estabelecimento de vertiginoso e incomparável crescimento tem um sócio que é membro da “Turma do Guardanapo” e da “República de Mangaratiba”, confrarias formadas pelos mais íntimos parceiros de Sérgio Cabral Filho. Por trás das tulipas de chope, estão nomes e relações muito próximas ao maior escândalo de corrupção da história do Rio de Janeiro, e parceiros em volumosas relações comerciais com o Estado, assim como com a prefeitura do Rio de Janeiro durante a gestão de Eduardo Paes. Ao mesmo tempo em que a Operação Lava Jato se acirra e atinge aos dois ex-governantes.

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Os sócios do Riba seguem tendo participação nas refeições de Cabral

São sócios do fenômeno comercial “Riba”. Marco Antônio de Luca, que aparece nas fotos da “Turma do Guardanapo” em Paris e José Mantuano de Luca Filho, cujas empresas, a Masan Alimentos e Serviços e a Comercial Milano respectivamente, fornecedoras do governo estadual e da prefeitura, estiveram envolvidas em escândalos recentes.

As relações de poder do estabelecimento vão além da esfera de Cabral e chegam a Eduardo Paes, já que a também sócia Cristianne de Luca teve vínculos societários com Guilherme Paes, irmão do ex-prefeito.

Somando-se o ganho das duas empresas dos sócios do Riba na prefeitura entre 2008 e 2016, anos de Eduardo Paes no comando, chega-se a quantia de R$ 728.867.747,32, como pode ser constatado no “Rio Transparente”.

Outras empresas

A presença de Marco Antônio de Luca e José Mantuano de Luca Filho no Riba não aparece de forma direta e sim através de outras empresas. Marco Antônio de Luca aparece na base de dados da Receita Federal no registro do “Riba Botecagem”, nome fantasia do Meckong Bar ltda. Através da MDL Participações e Negócios, que tem 45% da sociedade. José Mantuano de Luca Filho. Consta através da JMLF Participações e Serviços, que detém outros 45% do negócio.

Ambas abertas também no segundo semestre de 2016. Cristianne de Luca aparece com 8%. O italiano Arturo Isola consta com 1%, embora apareça em entrevistas e na divulgação como o proprietário do Riba. O outro 1% é de Charles Leandro Chiapetti. E José Manuel da Silva consta como administrador.

Arturo Isola é casado com Maria Rita Magalhães Pinto, prima de Paulo Fernando Magalhães Pinto, ex-assessor especial de Sérgio Cabral. Paulo Fernando foi preso na Operação Calicute. Encontra-se em prisão domiciliar por estar em processo de delação premiada, em curso.

De acordo com as investigações, é um dos muitos laranjas de Cabral. Notabilizou-se por ser um dos principais nomes deste laranjal. A lancha Manhattan, de 80 pés, avaliada em R$ 5,3 milhões, usada pelo ex-governador, estava em nome do assessor, agora delator.

José Mariano Beltrame

Os filhos do secretário de segurança José Mariano Beltrame também utilizaram a lancha. Durante seis anos, no exercício do cargo, Beltrame morou em apartamento de Paulo Fernando Magalhães Pinto, em Ipanema. Arturo Isola é sócio dos Mantuano em uma outra empresa, a Portofino Serviços, onde consta em participação societária junto com a Masan.

Os pontos em que as quatro filiais do bar foram registradas nesses cinco meses estão entre alguns dos mais caros do Rio. Rua Dias Ferreira, no Leblon, (registro na Jucerja em 15 de junho de 2016). Quiosque na Praia do Leblon (registro em 13 de setembro de 2016).

Quiosque na Praia do Pepê (registrado em 28 de setembro de 2016). E bar na Rua Barão da Torre esquina com Garcia d’ Ávila, Ipanema, considerada a rua mais cara do Rio para o comércio (na Jucerja em 23 de novembro de 2016). Este último ainda em obras e a ser aberto nos próximos dias.

Embora o registro da filial do bar na praia do Leblon conste na Jucerja como 13 de setembro, a abertura oficial foi no mês de agosto. E contou com a presença do ex-governador Sérgio Cabral, ao lado da mulher Adriana Ancelmo, na provavelmente última aparição pública de ambos antes de serem presos, em novembro.

Vip

Na ocasião, Cabral e os convivas à mesa da área vip beberam champagne e brindaram com os amigos próximos no novo bar. Sempre ladeados por forte segurança. O consumo da mesa chegou aos R$ 6 mil, e Cabral deixou uma gorda caixinha de R$ 150 com os garçons.

Curiosamente, os sócios do Riba seguem tendo participação nas refeições de Cabral. Mas agora como fornecedores das quentinhas para o presídio. Em 2010, um pregão vencido pela Comercial Milano para o serviço nas prisões foi alvo de investigação do Ministério Público Estadual.

A expansão do Riba é mais ampla. Como no ponto da praia do Leblon, onde o bar, amparado pela concessionária da prefeitura “Orla Rio”, responsável pela operação e manutenção de 309 pontos espalhados ao longo de 34km. Onde instalou dois quiosques no antigo ponto onde funcionava um único que foi removido e seu antigo proprietário incorporado como funcionário do Riba.

As mesas ocupam o equivalente a uma quadra, e a areia também passou a ser dominada pelo novo ponto. No primeiro momento, o bar chegou a instalar um banheiro químico em pleno calçadão. Além de um gerador com tambor de óleo diesel a pleno vapor em meio a passagem de pedestres.

Depois de muitas reclamações, ambos foram retirados. Em outra prática inédita, um letreiro com a inscrição #eusouriba de grande dimensão chegou a ser posto em plena faixa de areia. Delimitando assim a área do quiosque na praia e criando um curral vip.

Moradores do Leblon

A Associação de Moradores do Leblon (AMALEBLON) fez diversas reclamações contra o estabelecimento e os limites que vem sendo sistematicamente desrespeitados. De acordo com as redes sociais da entidade. O bar conta ainda com um setor vip, de consumação mínima de R$ 1,2 mil por mesa, também inédito na orla carioca.

No ponto da Dias Ferreira, a estratégia agressiva do bar gera protestos dos moradores, que vão de atos no local a manifestos na Internet contra o bar, passando por protocolar requerimentos na prefeitura.

Tanto a ocupação de locais onde não poderiam como o horário foram alvos autos de infração da 6ª Inspetoria Regional de Licenciamento e Fiscalização (6ª IRLF), responsável pela área. No entanto, de acordo com o que foi constatado pela reportagem através da busca desses processos, no caso do Riba, algumas dessas multas são revogadas, em procedimento pouco usual.

Assim, o estabelecimento é multado mas depois a punição em alguns casos é revogada. Como no auto 781208, de 28 de junho de 2016, em que a multa é suspensa. Com a justificativa de ter sido o auto “lavrado com a constatação da data errada”. Já o auto de infração 759145 é cancelado em 14 de junho de 2016, por “ter sido lavrado indevidamente”.

As relações dos sócios majoritários do Riba vão muito além do guardanapo na cabeça e das noites agitadas de Paris. Sob a batuta de Sérgio Cabral. O bar é só uma parte recente dos negócios dos familiares Marco Antônio de Luca e José Mantuano de Luca Filho. Que detém volumosos negócios com o estado e a prefeitura no ramo de fornecimento de alimentação.

Empresas

Unidos em uma teia de empresas, os dois monopolizam o serviço a nível estadual e municipal. O volume de negócios dos sócios do Riba com os governos de Cabral e Paes impressiona. Entre 2008 e 2011, a Masan Alimentos e Serviços, de Marco Antônio de Luca. Onde José Mantuano de Luca Filho também aparece através da participação societária da Sepasa Serviços, faturou R$ 17 milhões nos negócios com o governo de Cabral.

Com Eduardo Paes na prefeitura o volume foi muito maior: entre 2008 e 2012. A Masan obteve contratos no valor de R$ 122.690.561,16. Como consta em dados obtidos através do “Rio Transparente”.

Os contratos da Masan prosperaram nas mais diversas secretarias. Sendo o volume maior de dinheiro no fornecimento de merenda escolar na Secretaria de Educação e de refeições em hospitais para a Secretaria de Saúde.

E em 2014, Masan e Comercial Milano estiveram juntas na mesma denúncia. Feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público Estadual (RJ). Apontou fraude em licitações na prefeitura de Magé. As duas foram vencedoras em três concorrências, somando quase R$ 2 milhões. E nas disputas, concorriam entre elas.

Propina

Já a soma recebida pela Comercial Milano é ainda mais admirável: entre 2008 até 2016. Os anos de Eduardo Paes na prefeitura, foram R$ 606.177.186,16 para a empresa do outro sócio do Riba, José Mantuano de Luca Filho. Como está demonstrado no Rio Transparente.

A empresa de José Mantuano de Luca Filho, também esteve nos noticiários no escândalo das propinas pagas para Rodrigo Bethlem. Então na Secretaria de Assistência Social da prefeitura. Em um esquema que perdurou entre 2009 e 2012, gestão de Eduardo Paes.

Em 2010, a Comercial Milano foi denunciada na CPI da Merenda Escolar, comandada pela ex-vereadora Andréa Gouvêa Vieira. Por suspeita de irregularidade na licitação. E em 2015, a Masan chegou a ser afastada de uma concorrência. Após denúncia do Ministério Público por favorecimento em concorrência de R$ 52 milhões. Para fornecimento de pessoal e equipamentos no Centro de Operação da Prefeitura.

Masan

Em 2012, outra acusação de favorecimento envolveu a Masan. Escolhida para operar carros fumacê (veículos utilizados no combate ao mosquito da dengue) no município do Rio. Mesmo sendo do ramo de alimentação.

Os laços de Marco Antônio de Luca com Cabral vão além da “Turma do Guardanapo”, que ficou conhecida pela viagem a Paris em 2012. Onde os empresários mais próximos ao ex-governador. Como o desdobramento da Lava Jato mostrou, alguns envolvidos em práticas ilícitas, se divertiam em jantares e festas.

Os dois também eram da mesma confraria na “República de Mangaratiba”. Como ficou conhecida a comunidade de negócios que se formou em volta de Cabral no exclusivo Condomínio Portobello, na costa verde do estado.

A detentora de 8% do Riba, também da família, Cristianne de Luca, foi sócia de Guilherme Paes. Irmão do prefeito Eduardo Paes, na empresa Comercial Mgcal. Aberta em 1997. Cuja inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

Foi anulado em 2 de janeiro de 2001 pela Secretaria da Receita Federal por “ter sido atribuído mais de um número de inscrição para a referida pessoa jurídica”. Como está no processo 13706.000673/2001-53 da Receita Federal.

A Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo entrou em contato com os sócios do Riba através da assessoria de imprensa da Masan Alimentos e Serviços. Pediu que se comentasse sobre a abertura de quatro filiais do bar em um espaço de cinco meses em plena crise econômica.

Relações

Questionou ainda se as boas relações de Marco Antônio de Luca e José Mantuano de Luca com o governo do Estado nas gestões Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão contribuíram em tal processo de expansão. Assim como com o ex-prefeito Eduardo Paes.

Ao que os sócios responderam que “deve-se única e exclusivamente ao sucesso da operação”. A reportagem perguntou ainda sobre a presença de Sérgio Cabral filho na inauguração da filial da Praia do Leblon. Sem obter resposta. A íntegra da resposta:

– O Bar Riba se orgulha de ser apreciado pelos cariocas e turistas e de estar sempre movimentado. Como todo bar que se preze, não faz distinção de público. Ao contrário, recebe a todos de braços abertos.

– A expansão do negócio, e também dos empregos gerados na cidade. Deve-se única e exclusivamente ao sucesso de sua operação. Isto é motivo de grande satisfação, não só dos sócios e funcionários. Mas de todos aqueles que têm a chance de desfrutar do nosso cardápio e hospitalidade durante todos os dias da semana. Vale ir ao Riba (qualquer um deles) para conferir”.

A reportagem tentou ainda falar com o ex-prefeito Eduardo Paes, que se encontra fora do Brasil, sem sucesso.

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