Um dos estudos divulgados pela ONU durante a 15ª Conferência Mundial de Aids, que acontece nesta semana em Bancoc, na Tailâdia, revelou que mais da metade dos portadores do vírus HIV com idade entre 15 e 24 anos são mulheres. No mundo todo, hoje são mais de 35 milhões de infectados. O documento, produzido pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres (Unifem), elogia as campanhas de prevenção realizadas no Brasil. No entanto, ainda há muitos fatores que impedem a prática da prevenção à aids no país. Tentar vencê-los é peça-chave para conter a epidemia e mantê-la assim.
Logo depois do diagnóstico da aids, já havia uma esperança geral no descobrimento de sua cura, anseio que era até uma forma de conter o desespero e o medo da doença. Então, as atenções eram mais voltadas para a assistência e os primeiros passos na pesquisa. As formas de prevenção mais usadas, no entanto, visavam inibir as relações sexuais entre homens, isolar os soropositivos e, por conseqüência, os homossexuais, além dos profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis. Aos poucos, o desenvolvimento da assistência humana e médica ao soropositivo foi exigido, e as informações sobre a aids foram sendo divulgadas, em razão, principalmente, da ação das organizações não-governamentais. Em decorrência disso, a divulgação das formas de transmissão e de prevenção do vírus foi ganhando espaço, acalmando o medo e mostrando que havia armas para conter a epidemia.
Hoje, vivemos um momento em que os índices de transmissão vêm caindo, e a terapia anti-retroviral apresenta bons resultados, garantindo qualidade de vida ao soropositivo. Em virtude desses avanços, tem que se cuidar para que a prevenção não ocupe lugar menor. Sua prática ainda é a melhor maneira de evitar o avanço da epidemia. Projetos de prevenção pensados e dirigidos a populações específicas e que estão sob condição de vulnerabilidade ou risco são estratégia eficiente, quando respeitam as características e necessidades desses grupos.
É o caso da prevenção no local de trabalho, importantíssima por se dirigir a uma população variada, localizada em um mesmo ambiente e em idade sexualmente ativa, mas que, por não ser, necessariamente, vista e sentir-se em risco, adota um comportamento mais relaxado em relação à prevenção. O trabalho de ONGs, do Conselho Empresarial Nacional, ligado ao Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis - DSTs/Aids, de algumas empresas, sindicatos e instituições mostra que há uma certa movimentação em relação ao problema. Mas ainda falta muito. Uma política de prevenção para essa área precisa ser desenvolvida, liderada pela saúde pública e envolvendo instâncias governamentais, civis e privadas.
Inserir a discussão sobre a aids no cotidiano das pessoas é essencial para superar alguns obstáculos que impedem a maior aderência a um comportamento mais seguro. Ao mesmo tempo, a falta de políticas de prevenção, duradouras e de impacto, velhos comportamentos difíceis de mudar e a exclusão social são alguns dos entraves que impedem que a sensibilização para a prevenção e o acesso a ela passem a ser rotina.
Prevenir é um grande trunfo para vencer mais algumas batalhas contra a Aids, no entanto isso muitas vezes é ofuscado pelo desejo e esperança que cercam a busca pela cura: a pesquisa científica, a vacina, o avanço no desenvolvimento de medicamentos e a melhoria na assistência, que apresenta um caráter de maior urgência e de resultados imediatos. Assim, de maneira geral, a prevenção acaba ocupando uma posição secundária dentro das políticas de saúde voltadas à aids, sendo abordada em ações pontuais e isoladas e desarticuladas entre si, que não resultam em mudanças de impacto e sustentáveis.
Além disso, a sensibilização para a prevenção e os mecanismos para desenvolvê-la, tanto em relação à aids como às DSTs e outras doenças, esbarram em inúmeras condições sociais e econômicas que dificultam seu sucesso. O preconceito