Fim do fornecimento de armas e treinamento aos insurgentes que lutam contra Assad reverte política iniciada por Obama e sugere aproximação com os russos na abordagem em relação à Síria
Por Redação, com DW - de Washington:
O governo do presidente Donald Trump decidiu silenciosamente encerrar um programa coordenado pela CIA (a agência de inteligência dos EUA) que apoiava com armas e treinamento rebeldes sírios que lutam para derrubar o regime do ditador Bashar al-Assad. A informação foi divulgada pelo jornalWashington Post, que citou fontes anônimas, e também confirmada pelo New York Times.
A Casa Branca não comentou a notícia. Segundo o Washington Post, a decisão de cancelar o programa foi tomada há um mês. Representa uma mudança estratégica na abordagem dos EUA em relação ao conflito. O fim do apoio aos rebeldes deve agradar aos russos, que apoiam o regime de Assad e já haviam deixado claro que o programa ia contra seus interesses na região.
Tal como ocorreu com seu fim, o programa foi iniciado secretamente em 2013 pelo governo de Barack Obama. Mas logo a iniciativa foi descoberta pela imprensa. Os EUA contavam com participação da Jordânia e da Turquia. Para executar o programa. Nos anos seguintes, a eficácia da estratégia de entregar armas e fornecer treinamento para os rebeldes foi colocada em dúvida por especialistas e pela imprensa norte-americana.
Um programa paralelo do Pentágono, por exemplo, previa o treinamento de 5 mil combatentes em um primeiro momento. Mas apenas 400 pessoas passaram pelo primeiro filtro. Em setembro de 2015, o treinamento chegou a ser suspenso após a divulgação de que vários combatentes haviam desertado. O que foi negado pelo Pentágono. Também sempre houve o temor de que os rebeldes não fossem suficientemente leais e moderados e que as armas fornecidas pudessem cair nas mãos de terroristas.
Rússia
Segundo o Washington Post, a decisão de Trump agora sinaliza que o presidente norte-americano está realmente disposto a buscar uma aproximação com os russos na abordagem em relação à Síria. Durante a campanha eleitoral de 2016, Trump já havia dito ser contra o programa. Segundo ele, o apoio aos rebeldes acabava beneficiando terroristas islâmicos que também atuam na região.
No início do mês, tanto Trump quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concordaram em apoiar um cessar-fogo no sudoeste da Síria. O arranjo foi acertado após uma reunião entre os dois em Hamburgo. Segundo um funcionário do governo norte-americano ouvido pelo Washington Post, o fim do apoio aos rebeldes não foi colocado como condição para o acerto do cessar-fogo.
Programa
Outros funcionários, no entanto, encararam a extinção do programa como um grande gesto de concessão para com os russos. "Putin ganhou na Rússia”. Disse um deles.
Com o fim do programa, a presença norte-americana na área deve agora se limitar à continuidade da campanha aérea contra os terroristas do Estado Islâmico (EI). E ao treinamento de milícias curdas que combatem o grupo. E não o regime de Assad.