ONU condena e exige investigação independente sobre ataque aéreo a local próximo à fronteira com a Turquia, que deixou ao menos 28 mortos. UE classifica incidente de "inaceitável"
Por Redação, com agências internacionais - de Beirute:
O Exército sírio negou nesta sexta-feira a realização de ataques aéreos contra acampamentos próximos à fronteira turca na véspera, que mataram pelo menos 28 pessoas, mas o chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) disse que relatos iniciais sugerem que um avião do governo da Síria foi responsável pelo incidente.
O número de mortos do ataque ao acampamento próximo à cidade de Sarmada inclui mulheres e crianças, relatou o Observatório Sírio para Direitos Humanos, e pode aumentar por conta do número de pessoas feridas seriamente.
– Não há verdade nestes relatos... sobre a Força Aérea da Síria atingindo um acampamento para desabrigados nas redondezas de Idlib – informou o exército da Síria em comunicado nesta sexta-feira divulgado pela mídia estatal.
O alto comissário da ONU para direitos humanos, Zeid Ra'ad al Hussein, disse que os ataques foram quase deliberadamente um crime de guerra.
– Dado que estas tendas estão nestes locais há diversas semanas, e podem claramente ser vistas do ar, é muito pouco provável que estes ataques assassinos tenham sido acidentais – disse Zeid em comunicado.
– Minha equipe, junto de outras organizações, não deixarão pedras sem virar nos esforços para pesquisas e gravar evidências do que parece ter sido um crime particularmente desprezível e calculado contra um grupo de pessoas extremamente vulneráveis – disse.
Crime de guerra
O chefe para Assuntos Humanitários das Nações Unidas, Stephen O'Brien, condenou um ataque aéreo a um campo de refugiados na Síria, próximo à fronteira com a Turquia na quinta-feira.
O'Brien se disse horrorizado com o ocorrido na cidade de Sarmada e exigiu uma investigação independente sobre o incidente. "Se esse ataque obsceno se confirmar como uma agressão proposital a instalações civis, poderá ser considerado um crime de guerra", afirmou. A União Europeia classificou os bombardeios de "inaceitáveis".
Segundo a organização Observatório Sírio dos Direitos Humanos, os 50 feridos no ataque foram encaminhados para atendimento médico em território turco. Mulheres e crianças estavam entre os mortos, e o número de fatalidades deve aumentar, alertou a entidade.
De acordo com testemunhas, dois ataques aéreos atingiram o campo que abrigava pessoas que fugiam de conflitos em localidades como Aleppo e Palmira. Cerca de 50 barracões teriam sido destruídos. Não está claro quem estaria por trás da investida no campo na província de Idlib, numa região controlada pela Frente al-Nusra, a ramificação da Al Qaeda na Síria.
A agência de notícias Shahba Press, que apoia grupos rebeldes, afirmou que "aviões do regime" de Damasco seriam os responsáveis pelos ataques. Em Washington, o Departamento de Estado norte-americano não confirmou a autoria dos bombardeios, mas afirmou que teriam semelhanças com outras operações militares das forças sírias.
Ajuda
O governo da Síria está se recusando a atender as exigências da Organização das Nações Unidas (ONU) para que entregue suprimentos de ajuda a centenas de milhares de pessoas, muitas em Aleppo, cidade que esteve no centro da erupção dos combates nas últimas duas semanas, disse o conselheiro humanitário da ONU, Jan Egeland, na quarta-feira.
– Parece que temos novas possíveis áreas sitiadas sob nossa observação, temos centenas de agentes humanitários incapazes de se mover em Aleppo – afirmou ele a repórteres depois de presidir uma reunião semanal de nações que apóiam o processo de paz na Síria.
– É uma desgraça ver que, enquanto a população de Aleppo sangra, suas opções de fuga nunca estiveram tão difíceis quanto agora.
O primeiro grande cessar-fogo dos cinco anos da guerra civil síria, patrocinado pelos Estados Unidos e pela Rússia, foi acertado em fevereiro, mas na prática desmoronou nas últimas semanas, e Aleppo tem sido a maior vítima da retomada das hostilidades.
A força-tarefa humanitária chefiada por Egeland teve algum sucesso ao abrir o acesso para a entrega de ajuda em abril, fazendo com que esse socorro chegasse a 40 por cento das pessoas em áreas sitiadas da Síria, em todo o ano de 2015 essa cifra foi somente de 5 por cento.
Mas o progresso estagnou e pedidos ao governo sírio para aprovação de comboios de ajuda para seis áreas ainda sitiadas em maio foram amplamente ignorados.