Depois de 14 anos de luta e muita resistência, as famílias do acampamento Nova Serraria, no município de Caruaru, agreste pernambucano, serão finalmente assentadas. Trabalhadores rurais sem-terra de todo o estado se reuniram para comemorar a imissão de posse (entrega da terra) da Fazenda Lagoa do Tomás, onde serão assentadas as 15 famílias do acampamento, na segunda-feira (13).
Participaram do ato e da festa de imissão de posse o Presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Guedes de Guedes; o Superintendente do órgão de Pernambuco, Luis Aroldo Resende; o Secretário de Agricultura Familiar do Estado de Pernambuco, Aldo Santos, e representantes da Secretaria de Agricultura de Caruaru.
Essas 15 famílias já foram 100, quando ocuparam pela primeira vez a fazenda Serraria, em 1998. Na época, a fazenda de 371 hectares estava localizada na zona rural de Caruaru e era improdutiva.
Em 2004, as famílias que já viviam há seis anos na área e plantavam milho e feijão, ocuparam a casa grande da fazenda, no sentido de pressionar o Incra a agilizar a desapropriação da área, já declarada improdutiva, em vistoria realizada por técnicos do Instituto.
No entanto, o processo de desapropriação não andou e em 2006, a área foi erroneamente incluída como área urbana no plano de desenvolvimento da prefeitura de Caruaru, o que travou de vez o processo e impediu que ela fosse desapropriada para fins de Reforma Agrária.
As famílias seguiram resistindo, mesmo sofrendo diversos despejos violentos. Agora a luta era contra a especulação imobiliária, que queria construir um condomínio na área. Em um dos despejos, em 2008, os policiais militares destruíram todos os barracos, pertences e a lavouras das famílias. Elas reocuparam a área e reconstruíram tudo, mas tiveram novamente tudo destruído meses depois.
Em 2009 parte das famílias foi deslocada para a fazenda Lagoa do Tomás, que foi batizada pelos trabalhadores Sem Terra de Nova Serraria, lembrando os 10 anos de luta na fazenda Serraria. As outras famílias foram espalhadas por outras áreas, que nunca sendo desapropriadas.
Homenagem a Josué da Castro reafirma atualidade da Reforma Agrária
Josué de Castro foi o nome escolhido pelas famílias para o novo assentamento. O nome homenageia esse cientista político, médico, geógrafo pernambucano que tanto defendeu a Reforma Agrária como a única saída para acabar com a fome a miséria no Brasil.
“É indispensável alterar substancialmente os métodos de produção, o que só é possível reformando as estruturas rurais vigentes. Apresenta-se, deste modo, a reforma agrária como uma necessidade histórica nesta hora de transformação social que atravessamos, como um imperativo nacional", escreveu Josué de Castro, na análise final do seu mais famoso livro, Geografia da Fome.
Fonte: Página do MST
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