Refugiados deixam Budapeste rumo à fronteira austríaca

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Publicado Quinta, 03 de Setembro de 2015 às 06:29, por: CdB
Por Redação, com DW - de Budapeste: Milhares de refugiados tomaram o principal terminal ferroviário internacional de Budapeste na manhã desta quinta-feira, após a polícia liberar o acesso ao local, encerrando o impasse que já durava dois dias.
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Milhares de refugiados tomaram o principal terminal ferroviário internacional de Budapeste Abrigos emergenciais estão lotados na Alemanha
Mais de 2 mil pessoas estavam acampadas ao redor da estação aguardando que lhes fosse permitido seguir viagem até países como a Áustria e a Alemanha, os principais destinos dos imigrantes na capital húngara. Após a abertura da entrada principal da estação, os imigrantes avançaram desordenadamente até o local. Muitos correram em direção a um trem que permanecia em uma das plataformas. Apesar do caos no terminal, a polícia não interveio enquanto centenas de pessoas se espremiam em meio a empurrões e agressões para tentar embarcar no trem. Em razão do tumulto, as autoridades ferroviárias da Hungria anunciaram que não haveria trens partindo para o oeste da Europa "por um período de tempo indeterminado". - Por motivos de segurança, fica decidido, até segunda ordem, que o serviço direto de trens de Budapeste à Europa Ocidental não estará em operação - afirmava uma declaração da companhia ferroviária húngara. Entretanto, a equipe de reportagem da agência inglesa de notícias Reuters informou que um trem com mais de duzentos refugiados partiu do terminal em direção a cidades de Szonbathely e Sopron, próximas à fronteira da Hungria com a Áustria. Nos últimos dois dias, os refugiados que se acumulavam em frente ao terminal realizaram protestos exigindo o acesso aos trens, aos gritos de "Alemanha, Alemanha!". Houve confusão, brigas e alguns choques com a polícia. Em diversos países europeus, a crise migratória tem exigido grandes esforços por parte das autoridades, que trabalham para conter e dar assistência ao fluxo de refugiados que chegam de países como Síria, Iraque e Afeganistão. "Ameaça aos valores cristãos europeus" O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, afirmou em um artigo de opinião publicado no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) que o fluxo migratório representa uma "ameaça às raízes cristãs" da Europa, e conclamou os países da União Europeia a controlar suas fronteiras antes de decidir quantos refugiados podem abrigar. - Os cidadãos querem que nós resolvamos essa situação e que protejamos nossas fronteiras - escreveu Orban, afirmando que apenas após reforçar os controles fronteiriços "poderemos questionar o número de pessoas que podemos acolher, e se deve haver cotas" para os países do bloco. O primeiro-ministro, cujo governo conservador é considerado autoritário e antidemocrático pelos seus críticos, afirmou que seu país está "sobrecarregado" com a grande quantidade de refugiados. Ele fez questão de apontar que a maioria dos migrantes é de muçulmanos, e não de cristãos. - Esse é um ponto importante, porque a Europa e sua cultura possuem raízes cristãs - observou o primeiro ministro, considerando ser "alarmante" que a cultura cristã europeia mal consiga defender seus próprios valores. Abrigos emergenciais

Abrigos emergenciais estão lotados na Alemanha. Imóveis das igrejas são uma alternativa, mas muitas vezes entraves burocráticos dificultam a acolhida de i

- Você tem que fazer alguma coisa, afinal, temos tudo aqui - disse a si mesmo o padre Daniel Züscher. Os inúmeros relatos sobre o sofrimento de refugiados o emocionaram. Quando soube sob que condições essas pessoas são acomodadas na Alemanha, ele resolveu agir.
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Na província franciscana de Vossenack, nos arredores de Colônia, dirigida pelo padre Daniel, seus irmãos e alunos criaram espaço para acomodar refugiados. Desde novembro de 2014, seu internato acomoda cerca de 30 requerentes de asilo. Para o religioso, conceder refúgio a essas pessoas carentes faz parte do espírito cristão. - Eu só tenho boas experiências - diz, se referindo ao convívio inter-religioso. "Nós festejamos juntos o Ramadã", lembra. O padre não vê problema algum no fato de os refugiados desenrolarem seus tapetes de oração em vez de rezar o terço. Se as pessoas pedem, ele também ajuda no contato com a comunidade muçulmana local. Padre Daniel segue, assim, o exemplo de São Francisco de Assis. Ele poderia ser considerado um pioneiro quando se trata da acomodação de requerentes de asilo em igrejas, mas acredita que sua missão ainda não chegou ao fim. A partir deste mês, ele e seus irmãos desejam acolher menores refugiados desacompanhados. Quarto individual, cozinha comum, sala de estar,  dentro do internato e do mosteiro há muito espaço e infraestrutura, acredita o padre. No local, há assistência social e assistentes socioeducativos disponíveis dia e noite, além de saídas de emergência e regras de proteção contra incêndios. Mesmo assim, o mosteiro é inspecionado frequentemente, do porão ao sótão. - Não posso acreditar que ajudar possa ser tão difícil - lamenta padre Daniel. "Estamos sendo freados pelas autoridades", reclama. Ele luta há um ano e meio contra problemas burocráticos. Faltam habitações Compromisso e ação rápida é algo que a prefeita de Aachen, Hilde Scheidt, deseja de outras paróquias católicas. Sua cidade e as comunidades do entorno recebem mais refugiados a cada semana. - Sendo uma cidade universitária, temos um mercado imobiliário bastante apertado. Não temos tantos alojamentos quanto precisamos - diz. "Adquirimos edifícios que precisamos reformar, pelo menos para evitar a pior alternativa: que centenas de pessoas tenham que ser alojadas em tendas ou ginásios", ressalta Scheidt. Ela também critica as exigências feitas pelas autoridades, pois muitas vezes falta tempo para complicadas obras de adaptação e modernização. Ela afirma ser importante agora uma ação rápida no que se refere a alojamento para refugiados. "O engajamento dos muitos voluntários é algo que não é problema", sublinha Scheidt. Ela está preocupada principalmente com possibilidades de alojamento no curto prazo, para que não seja necessário fechar ginásios ou montar acampamentos. - Eu gostaria de apelar à Arquidiocese, a maior comunidade religiosa em Aachen, para trabalhar mais em conjunto em termos de habitação e alojamento para refugiados - diz. "Queremos acomodar essas pessoas de forma sensata e humana." Moradias perfazem a menor parte das propriedades imobiliárias da Arquidiocese de Aachen. No entanto, a diocese pediu às igrejas para relatarem sobre todas as propriedades vagas disponíveis. A maioria dos edifícios são escolas ou igrejas. - Em regime de urgência, todas as propriedades foram checadas novamente nos últimos meses. A Arquidiocese de Aachen não tem imóveis vagos - informa o vigário- geral Andreas Frick. Propostas da diocese também foram muitas vezes recusadas devido aos regulamentos governamentais. A situação é semelhante na vizinha Arquidiocese de Colônia. As moradias das quais a Arquidiocese dispõe estão geralmente alugadas no longo prazo, segundo o porta-voz Christoph Heckeley. E aqui também, os espaços oferecidos foram recusados, devido às exigências feitas pelas autoridades locais para imóveis que receberão inicialmente os refugiados, como é o caso de um asilo desativado, que não cumpre os requisitos, segundo Heckeley. Em abril deste ano, as instituições eclesiásticas colocaram mais de 130 apartamentos à disposição. "De lá para cá, esse número aumentou, pois conosco a regra é: tudo aquilo que estiver vago e for adequado, oferecemos às administrações municipais", explica Heckeley. O papa Francisco exortou as igrejas e mosteiros a abrirem suas portas aos refugiados. A Arquidiocese de Colônia quer atender esse apelo. O Mosteiro de Santa Clara, que está vazio em Colônia, passará por obras para abrigar refugiados. Para isso, a Arquidiocese disponibilizou 12,5 milhões de euros.  
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