Esforços para lidar com refugiados sobrecarregam a Europa

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Publicado Quarta, 02 de Setembro de 2015 às 06:38, por: CdB
Por Redação, com DW - de Londres/Budapeste: A atual crise migratória exige esforços das autoridades em diversos países europeus, que trabalham para conter e dar assistência ao grande fluxo de refugiados que chegam de países como Síria, Iraque e Afeganistão em busca de abrigo.
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Em Budapeste, refugiados fazem novo protesto exigindo acesso aos trens com destino à Alemanha. Eurotúnel teve que ser fechado durante a noite após invasão de imigrantes Centenas de refugiados são barrados em estação ferroviária da capital húngara Descanso na sombra: exaustos e frustrados, imigrantes não sabem como viagem vai continuar
Na Hungria, centenas de refugiados protestaram nesta quarta-feira em frente à estação ferroviária de Budapeste, exigindo a liberação do acesso aos trens que partem para a Alemanha, bloqueado pela polícia pelo segundo dia consecutivo. Cerca de 3 mil imigrantes, entre estes muitas famílias, aguardavam na praça em frente à estação. Um porta-voz do governo húngaro afirmou que o acesso aos trens deverá obedecer às diretrizes da União Europeia. "No território da UE, os imigrantes ilegais podem viajar apenas com documentos válidos", observou. "Um bilhete de trem não sobrepõe as regulamentações da UE." A polícia da Hungria informou que irá reforçar o bloqueio ao terminal, e que, juntamente com as polícias da Alemanha, Áustria e Eslováquia, realiza buscas por imigrantes que viajam ilegalmente em outros trens. As autoridades sustentam que as medidas de segurança são compatíveis com as regras da zona de livre trânsito da UE. Bloqueio no Eurotúnel Os esforços continuam em várias partes da Europa. Na França, as autoridades paralisaram o serviço de trens no Eurotúnel durante a madrugada, após relatos de imigrantes que corriam sobre os trilhos e tentavam subir em cima de trens. Passageiros que viajavam de Paris a Londres contam que pessoas que tentavam invadir o trem danificaram equipamentos de segurança contra incêndio. Alguns afirmaram ter visto pessoas correndo sobre o teto de um trem próximo a Calais. Na manhã desta quarta-feira, autoridades francesas informaram que o tráfego ferroviário no Eurotúnel pôde ser normalizado. Na Grécia, milhares de refugiados chegaram das ilhas Lesbos e Egeias à parte continental do país. Uma autoridade da Guarda Costeira informou que em torno de 4,2 mil refugiados desembarcaram durante a noite no porto de Piraeus, próximo a Atenas, de balsas provenientes das ilhas, que sofrem o impacto do grande número de imigrantes que chegam da Turquia. Trabalhadores de organizações internacionais de ajuda humanitária nas ilhas afirmam que 80% dos refugiados são provenientes da Síria. Crise migratória
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Centenas de refugiados são barrados em estação ferroviária da capital húngara. Em seus rostos, desespero, raiva e exaustão, num dia de caos que reflete a política europeia disfuncional para enfrentar o problema. - A gente vem da Síria e quer ir para a Alemanha! - Essas são as frases que quase todos os refugiados que se aglomeram diante da estação Keleti sabem falar, em inglês ou em alemão. Os mais exaltados deles se deixam levantar nos ombros por seus companheiros e gritam "Germany, Germany!". Centenas de refugiados se aglomeram diante da polícia em frente ao prédio da estação. Em seus rostos: desespero, raiva, exaustão. Mas se jornalistas sorriem para eles, costumam receber um sorriso de volta. No meio da multidão, os jovens, em sua maioria homens, nos reconhecem rapidamente como repórteres alemães e, imediatamente, nos cercam. Eles nos mostram seus bilhetes: Munique ou Salzburgo está escrito nas passagens. Eles pagaram mais de 100 euros por cada um deles. A Hungria recebe com alegria o dinheiro dos desesperados, só que eles não podem usar as passagens. Quase lá - Nós amamos a Alemanha, lá as pessoas ainda têm coração - diz o jovem sírio Ali, de 18 anos, que está há quatro dias em Budapeste. Seu caminho passou por Turquia, Grécia, Macedônia e Sérvia. A travessia pelo Mediterrâneo traz más recordações para ele, assim como para a maioria. Dezenas de refugiados em pequenas cascas de nozes em alto-mar. Em comparação, a cerca húngara na fronteira com a Sérvia é uma piada. Agora, maior é a frustração que eles têm, ao estarem dentro da UE, mas sem poderem seguir viagem, para o destino dos seus sonhos. A Alemanha ainda está a centenas de quilômetros de distância. Na praça diante da estação de trem, alguns homens seguram seus bebês no ar, gritando "Germany!" Alguns puxam a manga de nossas camisas, eles querem enviar uma mensagem para Angela Merkel. A chanceler alemã é vista aqui como uma salvadora. O repórter pergunta se eles ouviram falar das manifestações xenófobas em partes da Alemanha. "Não. A Alemanha é um país legal", é a resposta. Uma colega, jornalista húngara, olha nervosamente para a grande rua que leva à praça. "Temos que sair rápido, se algo acontecer", diz. Os húngaros sabem que a polícia do país rapidamente lança mão de canhões de água e gás lacrimogêneo. Mas não há sinal de violência,  mesmo que alguns manifestantes andem sem rumo pela praça, molhados de suor e com olhar selvagem. Eles estão exaustos e, sobretudo, frustrados. Ninguém lhes diz o que vai acontecer dali para frente, as autoridades não fornecem água, comida ou lugar para dormir. A única ajuda vem de organizações não governamentais. Último obstáculo
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Por volta das 11h, os policiais deixam alguns entrarem na estação, contanto que tenham um passaporte da UE ou um visto válido. Em suma, todos, exceto os refugiados, que continuam sem saber o que acontecerá. As autoridades húngaras insistem que, ao contrário de países como Itália e Grécia, respeitam a legislação da UE e acolhem oficialmente os refugiados, com impressões digitais e tudo o mais. Mas na realidade, as ações dos policiais dão impressão de não terem um plano a seguir. O único sentimento que nos transmitem é que a maioria das pessoas na Hungria e, especialmente, o seu governo, só querem se livrar dos refugiados. Exaustas, as pessoas se deitam à sombra, do lado de fora dos muros da estação. Aqui e ali há uma tenda esfarrapada. O sol do meio-dia bate forte sobre Budapeste, a uma temperatura de 35 graus Celsius. A praça defronte à estação de trem se tornou mais um símbolo da política europeia disfuncional para refugiados e para a insensibilidade de alguns países europeus em relação a estrangeiros. Mas o muro da estação Keleti é apenas mais um obstáculo que essas pessoas também vão superar em seu caminho para a Alemanha, mais cedo ou mais tarde. Talvez o último.
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